O antigo primeiro-ministro José Sócrates descreveu esta sexta-feira a Operação Influencer, que resultou na demissão de António Costa, após ter sido divulgado que era alvo de uma investigação do Supremo Tribunal de Justiça, como uma “golpada judicial” que “teve o maior êxito”. “O uso indevido do sistema judicial para perseguir um adversário político. Foi isto que aconteceu em Portugal”, afirmou numa entrevista esta noite à CNN Portugal.
Sócrates respondia a uma pergunta sobre o que faria se tivesse estado no lugar de António Costa e se também se teria demitido. Começando por afirmar que é “muito difícil responder” à pergunta, o antigo governante preferiu falar sobre o resultado das eleições legislativas antecipadas convocadas pelo Presidente da República na sequência da demissão de Costa. Sobre este tema, o ex-primeiro-ministro disse que “ainda há dúvidas sobre quem venceu as eleições em Portugal”, acrescentando que, a seu ver, “quem ganhou foi o Ministério Público”.
Ministério Público vai continuar a investigar Operação Influencer
“Aconteceu exatamente como os manuais mandam, com uma exceção: eles esqueceram-se de escolher o juiz, como fizeram no caso Marquês e como fizeram noutros, e por isso a coisa correu mal logo de princípio”, acusou. “Se tivessem o juiz que costumavam ter, o juiz Carlos Alexandre, ainda hoje estariam todos presos, ainda hoje o caso correria todo com grande normalidade”, acrescentou.
Questionado sobre as críticas à atual Procuradora-geral da República, Lucília Gago, e sobre se o Governo deveria pedir a sua demissão, o ex-primeiro-ministro disse compreendê-las, mas acrescentou que vêm com atraso. “Essas críticas deviam ter sido feitas há dez anos. Isto passa-se há dez anos. O que nós temos todos os dias na televisão diante de nós são buscas por motivos frívolos, buscas acompanhadas pelas câmaras de televisão, que funcionam como a nova arma do aparelho judicial do estado, a violação de tudo o que são as regras básicas do tempo de inquérito”, afirmou.
Durante a entrevista Sócrates também dirigiu duras críticas ao PS, em particular à anterior direção, e António Costa, que acusou de ter duplos critérios pela forma como tratou a Operação Marquês em comparação com a Operação Influencer. “A anterior direção do Partido Socialista não tem autoridade moral para fazer nenhuma crítica ao que está a acontecer, foram cúmplices com tudo o que aconteceu antes”, afirmou, nomeando além do seu caso o de Manuel Pinho, detido há mais de dois anos e que garantiu estar “absolutamente inocente”.
No passado [o partido] não fez as criticas que agora quer fazer. E a esquerda comportou-se exatamente da mesma forma”, atirou, lamentando que o PS “tenha abandonado a defesa dos deveres constitucionais”.
Durante a entrevista, José Sócrates disse ainda que “está a lutar para não ir a julgamento” no âmbito da Operação Marquês e que tem o “maior orgulho em enfrentar esta batalha sozinho”. Lembrando a mais recente decisão do Tribunal da Relação de Lisboa, que deu razão ao Ministério Público, ao ex-primeiro-ministro e ao empresário Carlos Santos Silva e anulou a decisão instrutória assinada pelo juiz Ivo Rosa, descreveu uma “vitória judicial”.
Relação anula decisão de Ivo Rosa de mandar Sócrates para julgamento
“Tudo o que aconteceu entre 2021 e 2024 está invalidado. E é por isso que eu acho que não pesa sobre mim nenhuma pronúncia, nem sequer nenhuma acusação”, afirmou ao ser questionado sobre o desfecho que espera ver da Operação Marquês. “As acusações são todas tão falsas, nenhuma delas está indiciada, eu provei a minha inocência durante a instrução e portando tenho todo o direito a não querer ser humilhado pelo Estado a ir a julgamento só para que a face do Ministério Público possa ser salva”, acrescentou.