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Substituição de vitrais de Notre Dame não afetados pelo incêndio de 2019 causa polémica em França – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 29, 2024


Nem todos os elementos que sobreviveram ao catastrófico incêndio a 15 de abril de 2019 deverão permanecer na Catedral de Notre Dame, em Paris. Por opção do presidente francês Emmanuel Macron, do arcebispo da capital e das autoridades eclesiásticas, os vitrais das capelas a sul do monumento — datados de 1844 — vão ser substituídos por obras contemporâneas, o que está a inspirar a fúria de vários setores da sociedade francesa.

Apesar de Notre Dame já ter reaberto ao fim de cinco anos de obras de renovação e reabilitação, ainda há trabalho a fazer numa das mais emblemáticas igrejas francesas: remover seis janelas, originalmente instaladas pelo arquiteto Eugène Viollet-le-Duc em 1844, que sobreviveram ao fogo sem danos.

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O concurso para encontrar os novos vitrais, onde participaram cerca de 100 artistas, foi vencido pela francesa Claire Tabouret, conhecida pelos seus trabalhos de cores vibrantes. Para este projeto, a artista multipremiada submeteu uma proposta feita a tons de azul, cor-de-rosa e amarelo que representam pessoas de diversas origens a rezar juntas pelo Pentecostes.

Para tal, adianta o The Guardian, Tabouret vai trabalhar com uma equipa de mestres vidreiros do Atelier Simon-Marq, uma oficina de vidro fundada em Reims em 1640, sendo que os vitrais, com quase sete metros de altura, deverão ser instalados em 2026. Já os vidros originais ficarão de futuro expostos num museu.

A artista francesa Claire Tabouret durante uma conferência de imprensa após ter ganho, com o Atelier Simon-Marq, a seleção para criar novos vitrais em seis capelas do corredor sul da catedral de Notre-Dame de Paris, em Paris, a 18 de dezembro de 2024.

Não obstante o talento reconhecido de Tabouret — que, por exemplo, teve o seu trabalho exposto no pavilhão do Vaticano na Bienal de Veneza deste ano — a iniciativa de substituir os vitrais originais está a merecer uma acirrada oposição em França, a começar pelas próprias instâncias governamentais.

Como recorda o jornal britânico, em julho, o comité nacional para o património e a arquitetura do Ministério da Cultura francês opôs-se ao plano de remoção das janelas de Viollet-le-Duc, tal como a Academia de Belas Artes francesa. Os membros desta segunda instituição afirmaram-se em 2023 “preocupados com o facto de o anúncio de um concurso para a criação de vitrais contemporâneos, que apoiam em princípio, implicar a substituição dos vitrais não figurativos que sobreviveram ao incêndio”.

Um dos problemas, apontam os críticos, é que a substituição viola os princípios da Carta de Veneza — o documento datado de 1964 que estabelece as normas para a conservação patrimonial e que foi subscrito pelas autoridades francesas. O artigo 8.º deste tratado explicita que “os elementos de escultura, pintura ou decoração que fazem parte integrante de um monumento não se podem separar dele, a não ser que esta seja a única forma de assegurar a sua conservação”. Já o 9.º afirma que o restauro “destina-se a preservar e a revelar os valores estéticos e históricos dos monumentos e baseia-se no respeito pelos materiais originais e por documentos autênticos”.

Dados estes parâmetros, a associação de defesa do património francesa Sites et Monuments fez saber em setembro que vai avançar com uma ação legal se os vitrais de Viollet-le-Duc forem retirados. Já o jornalista de arte Didier Rykner lançou uma petição endereçada a Emmanuel Macron de oposição à mudança e que já conta com mais de 250 mil assinaturas.

“O Presidente da República decidiu sozinho, sem ter em conta a lei do património nem a Catedral de Notre-Dame de Paris, substituir os vitrais de seis das sete capelas da nave sul por criações contemporâneas, depois de ter organizado um concurso”, lê-se no texto que acompanha a petição, deixando a questão: “Quem deu mandato ao chefe de Estado para alterar uma catedral que não lhe pertence a ele, mas a todos?”

Comentando o caso junto do The Guardian, Rykner defende que “retirar janelas que sobreviveram ao incêndio sem danos e substituí-las por outras é simplesmente absurdo”. “Não sou contra as janelas contemporâneas em si, mas não há qualquer razão para as substituir. Além disso, o dinheiro doado pelas pessoas para a renovação de Notre Dame já foi gasto na limpeza das janelas”, lamenta. O projeto de reabilitação da catedral custou um total 846 milhões de euros, dos quais 4 milhões serão pagos nesta substituição.

“Não percebo porque é que Macron tem tanta influência sobre o que acontece a um edifício histórico. Trata-se apenas de um projeto de vaidade”, atirou ainda o jornalista. O grosso das críticas tem sido destinado sobretudo aos decisores e não tanto a Tabouret, sendo que a artista já reconheceu tratar-se de um “debate fascinante”.

Num comunicado emitido quando soube ter sido escolhida para o projeto, Tabouret afirmou que “há uma grande dose de audácia nesta encomenda, que terá lugar num edifício querido e histórico. Mas há que confiar nos artistas contemporâneos”.





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