• Ter. Nov 19th, 2024

Feijoada Politica

Notícias

Talibãs participam em reunião da ONU em Doha sem levar mulheres na comitiva. ONG apelam ao boicote do encontro – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jun 26, 2024

Associações de direitos humanos e grupos feministas pelo mundo inteiro estão a apelar ao boicote da reunião da ONU no Qatar, depois da organização ter convidado os talibãs a participar. O grupo recusou a presença de mulheres na comitiva.

Doha3, que se realiza entre 30 de junho e 1 de julho, é a terceira de uma série de reuniões que as Nações Unidas estão a organizar na capital do Qatar. O objetivo é abordar alguns dos temas que marcam a atualidade internacional. À semelhança dois outros dois encontros, o governo talibã, no poder no Afeganistão, foi convidado a participar. Contudo, os talibãs insistem em reunir uma comitiva que não tenha mulheres, noticiou a Reuters.

Em resposta ao anúncio da ONU, levantaram-se vozes contra a presença dos talibãs como representantes afegãos na reunião. Desde que assumiram o poder, em agosto de 2021, num movimento que não foi reconhecido pela comunidade internacional, os direitos das mulheres foram severamente reprimidos. Estas não podem frequentar o ensino secundário ou superior, ou viajar sem a presença de um guardião masculino.

Afeganistão: “reintegração” na cena internacional só com progressos nos direitos das mulheres

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para Roza Otunbayeva, a enviada especial da ONU no Afeganistão, é preciso “ser realista quanto aos resultados que cada reunião deste processo pode produzir”. Num discurso no Conselho de Segurança, na passada sexta-feira, a representante das Nações Unidas reconheceu que a “reunião gerou expectativas que não podem ser cumpridas de forma realista de uma só vez“, mas que ainda assim “estão a tentar estabelecer um processo e preservar um importante mecanismo de consulta”.

Também o porta-voz da ONU preferiu olhar para os pontos positivos, encarando o encontro como um “processo e não uma coisa única” e que tem “o objetivo de incentivar as autoridades a colaborar com a comunidade internacional em beneficio do povo afegão”. Stepháne Dujarric garantiu, no domingo, que “os direitos das mulheres e das raparigas estarão em destaque em todos os debates, da parte da ONU”.

Fora da organização, as críticas não tardaram. Agnes Callard, secretária geral da Amnistia Internacional, acusou a reunião de não ter “credibilidade” “se não abordar adequadamente a crise dos direitos humanos no Afeganistão e não envolver as mulheres defensoras [dos mesmos]”.

A Human Rights Watch, foi ainda mais vocal. A diretora, Tirana Hassan, também sublinhou a falta de “credibilidade da ONU enquanto defensora dos direitos das mulheres” e identificou a cedência às exigências dos talibãs como “uma legitimação dos [seus] abusos”.

No site, a ONG partilhou um comunicado no qual acusa a ONU de criar uma agenda especificamente para este encontro que exclui os direitos humanos – vai focar-se em negócios privados e no combate ao narcotráfico – num “esforço vergonhoso de apaziguar os talibãs”. A Human Rights Watch lembra ainda que os grupos de mulheres afegãos já apelaram ao boicote.

Os apelos começaram bem antes da ONU ter respondido às críticas, durante o fim de semana passado. Logo no dia 30 de maio, um grupo feminista afegão, o Movimento Sábado Roxo, publicou um comunicado em que defende que as negociações “não devem prosseguir enquanto não forem restabelecidos os direitos, a justiça e as liberdades das mulheres afegãs”. Apontam ainda que, apesar da estratégia diplomática ser às vezes necessária, no caso do regime talibã, isso “mina os esforços internacionais de responsabilizar o grupos pelos crimes cometidos”.

Também o grupo Caravana da Justiça pelas mulheres, Justiça pelo Afeganistão apelou ao boicote. Num comunicado publicado no dia 2 de junho, o coletivo apela às mulheres em específico e cidadãos em geral que enviem mensagens de apoio, vídeos e os seus nomes para se juntarem à caravana. Em menos de uma semana, reuniram uma centena de apoiantes.

Nas redes sociais, multiplicam-se os apelos ao boicote. Heather Barr, uma das diretoras da Human Rights Watch, considera a inclusão dos talibã à mesa da ONU como uma “traição, não só às mulheres afegãs mas a todas as mulheres do mundo”. “O que está a acontecer no Afeganistão é a mais grave crise dos direitos das mulheres no mundo e a ideia de que a ONU convocaria uma reunião como esta e não discutiria os direitos das mulheres e não teria mulheres afegãs na sala é inacreditável”, acrescentou, citada pelo The Guardian.

Segundo a Reuters, o encontro vai ainda servir para os enviados da ONU e de outros países se reunirem, em privado, com representantes do governo talibã. O grupo já tinha sido convidado para a segunda reunião em Doha, em fevereiro. Contudo, o convite não foi aceite depois de a ONU ter recusado que fossem o únicos representantes do Afeganistão, excluindo grupos da sociedade civil.

Já em maio, António Guterres tinha reunido um grupo de enviados ao Afeganistão para debater formas da comunidade internacional lidar com o regime dos Talibã, sem ter convidado o grupo para este diálogo.





Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *