Esta longa-metragem animada da checa Michaela Pavlátová baseia-se no livro da sua compatriota Petra Procházková, casada com um afegão. Helena, uma estudante universitária checa, apaixona-se por um colega afegão, Nazir, muda-se para o Afeganistão, altera o nome para Herra e casa-se com ele. Mas está longe de ser fácil para uma mulher ocidental viver na Cabul pós-talibãs, mesmo que o marido seja um homem tolerante, quase todos os membros da sua nova família a tenham acolhido bem e a estimem, e haja outros ocidentais com quem falar. Através de uma animação levemente estilizada, e com elaboração dramática e sem didatismos fáceis, A Minha Família Afegã explora o choque cultural e de mentalidades entre Herra e a sociedade islâmica em que se instalou, fazendo sobressair o tratamento retrógrado e restritivo dado às mulheres.
Estreia na realização do russo Ilya Povolotsky, Graça põe-nos na companhia de um pai e da sua filha adolescente, ambos muito lacónicos, que percorrem a Rússia em direção ao mar, metidos numa velha carrinha que serve de cinema móvel e de venda de comida, exibindo também filmes pornográficos em vídeo à noite a pequenos grupos de jovens e homens. Pouco acontece ao longo das lentas duas horas deste road movie, e Povolotsky não aprofunda a relação entre pai e filha, sugerindo apenas que afeto não é coisa que exista em abundância entre eles. O que fica desta fita sisuda e de muito poucas palavras, contemplativa e enigmática, é o retrato de uma Rússia interior desolada, de estradas secundárias, aglomerações humanas desleixadas, fábricas, instalações científicas outrora importantes e hoje semi-abandonadas, e alguma prepotência e violência.
Grande excêntrico e rei do absurdo do cinema francês, o realizador Quentin Dupieux vira aqui a sua atenção para Salvador Dalí e dá o papel do genial pintor a seis atores diferentes, uns com mais tempo de ecrã do que outros: Edouard Baer, Gilles Lellouche, Pio Marmai, Jonathan Coen, Didier Flamand e Boris Gilot. Tudo começa normalmente, nos anos 80, com Judith Rochant, uma jornalista (Anaïs Demoustier) que antes foi farmacêutica, à espera de Salvador Dalí no quarto de um hotel para lhe fazer uma entrevista. Mas quando Dalí aparece ao fundo do corredor a andar sem sair do mesmo sítio, o filme entra pelo buraco do coelho do muito peculiar universo nonsense de Quentin Dupieux, e nunca mais volta a sair. Daaaaaalí! foi escolhido como filme da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.