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Três oceanos, dez anos e mais de 13 mil quilómetros. Baleia-jubarte macho bate recorde à procura de parceira sexual ou comida – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 11, 2024


É um “recorde absoluto” que surpreendeu os cientistas. Uma baleia-jubarte macho adulta percorreu a maior distância já registada por esta espécie Megaptera novaeangliae. Foi avistada em duas áreas de reprodução distintas — no Oceano Pacífico Sul oriental e no Oceano Índico sudoeste — contrariando os padrões típicos de migração conhecidos para as jubartes, revela um estudo publicado nesta terça-feira na Royal Society Open Science.

A jornada começou ao largo da costa da Colômbia, e terminou, quase uma década mais tarde, ao largo da costa de Zanzibar, Tanzânia. A baleia fez 13.046 quilómetros, cruzando o oceano Atlântico (a rota mais provável, segundo os investigadores) percorrendo quase o dobro da distância típica de migração desta espécie. Segundo o estudo, bateu claramente todos os recordes anteriores, ultrapassando o caso de uma baleia fêmea que nadou 9.800 km entre o Brasil e Madagáscar entre 1999 e 2001.

Normalmente, as baleias-jubarte seguem padrões de migração muito consistentes, deslocando-se entre zonas de alimentação em águas frias perto dos pólos e zonas de reprodução mais próximas dos trópicos, pode ler-se no estudo realizado por uma equipa da Southern Cross University, da Austrália. Também é sabido que nadam mais de 8.000 km na direção norte-sul todos os anos, mas raramente tendem a viajar na direção este-oeste. Além disso, não se misturam com outras populações.

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Ora, este caso desafia as observações tradicionais, sugerindo uma flexibilidade maior do que se acreditava anteriormente: a baleia saiu da sua área de reprodução habitual e do seu grupo populacional, e viajou para uma outra área de reprodução incrivelmente distante.

Os investigadores identificaram a baleia macho graças à plataforma Happywhale, que utiliza diversos dados – localização, comportamento acústico, tipo de grupo, tamanho do grupo, distribuição espacial e imagens de fotoidentificação – para rastrear as baleias, nomeadamente com base nas marcas únicas nas barbatanas caudais, semelhantes a impressões digitais.

a) Baleia-jubarte macho no fotografada no golfo de Tribugá, no Pacífico em 2013. b) Aqui na baía Solano, no Pacífico, também ao largo da Colômbia em 2017. C) No canal Zanzibar, perto da Tanzânia, no Oceano Índico, em 2022

a) Baleia-jubarte macho no fotografada no golfo de Tribugá, no Pacífico em 2013. b) Aqui na baía Solano, no Pacífico, também ao largo da Colômbia em 2017. C) No canal Zanzibar, perto da Tanzânia, no Oceano Índico, em 2022

O macho sexualmente maduro foi fotografado em dois locais diferentes: ao largo da Colômbia em 2013 e em 2017, e, cinco anos depois, no Canal de Zanzibar, cada vez na companhia de um grupo competitivo — grupos de baleias em que machos disputam o acesso a uma fêmea. Os investigadores não sabem qual o motivo desta viagem extraordinária mas inclinam-se para que tenha sido em busca de uma parceira. O macho, sexualmente maduro, poderá ter procurado aumentar as suas hipóteses de acasalamento misturando-se com outra população reprodutora.

No entanto, os cientistas não excluem outras hipóteses como a da alimentação. As alterações climáticas globais e as mudanças nas condições ambientais podem ter influenciado a distribuição do krill — pequenos crustáceios, a principal fonte de alimento das baleias –, e por consequência, alterado os seus padrões migratórios.

“Embora as razões reais sejam desconhecidas, entre os fatores pode haver mudanças globais no clima, eventos ambientais extremos (que são mais frequentes hoje em dia) e mecanismos evolutivos da espécie”, disse Ekaterina Kalashnikova, uma das autoras do estudo, à BBC.

Além disso, o aumento da competição entre os machos em populações maiores pode obrigar os menos dominantes a terem de explorar novos habitats de reprodução e alimentação.

Segundo os investigadores, este comportamento invulgar desafia o que se sabe sobre a fidelidade das baleias-jubarte aos seus locais de acasalamento e revela uma capacidade de adaptação do macho potencialmente crucial para enfrentar mudanças ambientais.

“Esta foi uma descoberta muito emocionante, daquelas que nos fazem pensar inicialmente que se pode tratar de algum erro”, contou Ted Cheeseman, co-autor do projeto, ao site Live Science.

Texto editado por Dulce Neto





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