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Trump 2.0. Mais amigo das grandes empresas, mais avesso ao escrutínio, mas na Web Summit o voto é de desconfiança – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 13, 2024

Entre os empreendedores que circulam no Parque das Nações (e que falaram com o Observador antes do anúncio do cargo de Musk), as opiniões dividem-se. Há quem ache que ter Musk no governo é “de loucos”. Mas também há admiradores do homem que “acha que pode salvar o mundo”. É o caso de Aisha Makara, relações públicas da Decentryk, uma empresa de blockchain com sede em Miami. Admite que Musk “tem uma ideia divina de si próprio” mas “está a fazer o seu melhor e está a tentar, na sua perspetiva, salvar a economia, porque faz parte dela”.

E faz cada vez mais parte dela. Menos de uma semana depois de Trump se ter sagrado vencedor das eleições, as ações da Tesla avançaram mais de 40%. Na passada sexta-feira, o valor de mercado da empresa de Musk ultrapassou o bilião de dólares (trillion, na numeração americana). E o homem mais rico do mundo ficou ainda mais rico. A fortuna do também dono da rede social X tinha disparado, à data desta segunda-feira, 70 mil milhões de dólares para mais de 300 mil milhões. “Esta subida impressionante captou as atenções dos analistas e acionistas, que veem a Tesla como uma oportunidade para capitalizar medidas que podem beneficiar a empresa”, destaca Antonio Di Giacomo, analista sénior da XS.com, numa nota enviada ao Observador.

O mesmo analista admite que há “expectativas” no mercado relacionadas com a proximidade entre Musk e Trump. Não será estranho, refere, que a nova administração decida, por exemplo, eliminar barreiras regulatórias que, neste momento, limitam o desenvolvimento de veículos autónomos. Ou que crie incentivos fiscais ou outro tipo de apoios para tecnologias com base em IA. O terreno poderá ainda ser fértil para a Tesla entrar noutros setores, como as energias renováveis ou o armazenamento de energia, onde a empresa já tem investimentos. Como será com Musk junto do Governo?

“Sem dúvida que vai tentar beneficiar-se a si próprio”, defende Trevor Standish, cofundador da empresa Do Bother Me. Mas nem todos pensam assim. Mike Ward, responsável da Reality Check Solutions, de Los Angeles, não gosta de “muitas coisas que Elon Musk faz”, mas reconhece-lhe valor. “Lidera algumas empresas muito grandes e muito bem sucedidas. Acho que foi bom para Donald Trump tê-lo como apoiante”. E a trabalhar próximo da futura administração? “Acho que é boa ideia ter pessoas da indústria envolvidas no governo. Para que não seja só o governo, quer seja o Elon Musk ou outras pessoas”. A resposta vai chegar nos próximos anos.

Ao contrário de Elon Musk ou do conhecido investidor Peter Thiel, vários CEO das big tech evitaram assumir publicamente o apoio a Trump ou Kamala Harris durante as eleições. Mark Zuckerberg, o líder da Meta, é um desses casos. Após as eleições, Zuckerberg fez o mesmo que os líderes de empresas como a Apple, publicando nas suas redes sociais uma mensagem diplomática de felicitações a Trump.

“Parabéns ao Presidente Trump pela vitória decisiva. Temos grandes oportunidades à nossa frente enquanto país. Estou expectante para trabalhar consigo e com a sua administração”, escreveu na semana passada na rede social Threads.

Ao contrário de outras edições, a Meta tem uma presença discreta nos palcos da Web Summit — noutros tempos, a cimeira contou com a participação de Nick Clegg, o chefe de assuntos globais da tecnológica. Mas, mesmo sem porta-vozes do topo da hierarquia, a liderança da Meta foi mencionada durante uma sessão sobre “a era nova Trump”.

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“Acho que vai ser interessante ver o que Zuckerberg vai fazer”, lançou o norte-americano DeRay Mckesson, ativista pelos direitos civis e autor do podcast Pod Save the People. “Ele foi o vilão durante tanto tempo em Silicon Valley e agora parece ser a pessoa sã que restou.” Após o escândalo da Cambridge Analytica, que foi tornado público em 2018, e as acusações de interferência russa e desinformação na plataforma, a aura de prodígio da tecnologia de Zuckerberg esfumou-se. Noutra vertente, também lhe foram feitas críticas à falta de escrutínio à Meta, que recorreu a uma estratégia de aquisições para criar um império de redes sociais, através da compra do WhatsApp e Instagram.

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Agora, os tempos são outros, salientou o ativista, e Zuckerberg e os seus produtos parecem ser uma alternativa ao cada vez mais politizado X, salientou o ativista. “Vai ser interessante ver o que é que ele faz com o WhatsApp, Instagram e Facebok, esses sítios que estão no ecossistema [digital] e que não são o Twitter.”

Na prática, DeRay Mckesson reconheceu que o que se passa na rede social de Musk até poderá funcionar como oportunidade de crescimento para uma das redes de Zuckerberg, a Threads. “Parece um pouco mais sã, estou a ver muitas pessoas que estão a sair do Twitter [agora X] para o Threads, que não era bem uma resposta quando apareceu.”

Acho que Zuckerberg vai ser um grande ‘player’. É ver o que Peter Thiel e Musk vão fazer… Vai ser assustador, vão ter muito poder.”

No fim de outubro, Zuckerberg revelou que o Threads tinha “quase 275 milhões de utilizadores ativos mensais e mais de um milhão de inscrições diárias”. Há já algum tempo que se fala de um êxodo de utilizadores do X para outras plataformas: além do Threads, também a Bluesky parece estar a beneficiar de um aumento de utilizadores. Os números mais recentes dão conta de um aumento de 700 mil utilizadores na Bluesky desde as eleições dos EUA. Agora, totaliza 14,5 milhões de utilizadores, muito acima dos 9 milhões que tinha em setembro.

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A Meta, a Google, a Amazon e a Microsoft. São quatro das gigantes tecnológicas que ficaram na mira da justiça norte-americana durante a presidência de Joe Biden. Mas a mudança de Presidente nos EUA, com Donald Trump a regressar ao cargo que ocupou entre 2016 e 2020, pode não significar o fim da tentativa de luta contra potenciais monopólios no setor da tecnologia.

Afinal, o republicano, várias vezes descrito pela imprensa como alguém que gosta de se insurgir contra elites, é um “populista em todos os sentidos da palavra, incluindo a política anti-monopólio”, afirma Matthew Cantor, advogado da firma Shinder Cantor Lener. Em declarações ao jornal The Hill, o especialista defende que Trump vai continuar a exercer uma “pressão contínua sobre as empresas” e que terá como prioridade a aplicação da legislação que visa o combate de posições dominantes no mercado.





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