Pela quantidade de cartazes e bandeiras com as palavras “Trump-Vance” em grande destaque em várias casas, tudo indica que desta vez não será diferente. Os Hamby, porém, destoam da paisagem, como se vê pela camisola azul escura que Jan traz vestida, com as palavras “Harris for President”. Não se atrevem, contudo, a colocar cartazes na entrada da quinta, à beira da estrada. Só há um discreto à porta de casa, até à qual é preciso fazer um caminho considerável de terra batida. “Chegámos a pôr lá à frente. Mas foram roubados”, admite Jan com um encolher de ombros.
O facto de serem a exceção em Lancaster é, por vezes, “stressante”, admite a antiga oficial. “Por exemplo, há pouco, antes de vocês chegarem, fui às compras com esta camisola vestida. E eu tenho experiência militar, estou disposta a correr alguns riscos. Mas entrei na loja e senti-me algo intimidada. Houve uma jovem que sorriu, mas muitos semicerraram os olhos quando me viram. Um homem até bufou e saiu de perto de mim”, conta, sentada no sofá da sua sala, acompanhada de uma grande chávena cheia de café — que consome em quantidades generosas. No cadeirão ao lado, o marido Dale acena lentamente com a cabeça, em sinal de concordância.
“Mas há algumas exceções”, nota o agricultor. O centro da cidade de Lancaster, onde vai semanalmente para participar no grupo de teatro local, é fortemente democrata. Dale, que em 2016 chegou a concorrer ao congresso da Pensilvânia pelo Partido Democrata — “e todas as semanas me encontrava cordialmente com o meu adversário, Bryan Cutler, para beber um café” —, bateu a todas as portas do condado e ficou a saber onde estavam alguns votos democratas escondidos. “Às vezes sentimos que somos os únicos, mas não somos. As pessoas têm sobretudo medo de dar a cara”, resume Jan.
Mas desengane-se quem achar que os Hamby são de famílias democratas e que sempre votaram à esquerda toda a vida. Criados na cidade de Medina, no Ohio, cresceram a admirar e a apoiar convictamente vários candidatos republicanos a Presidente: Reagan, Bush pai, Bob Dole, Bush filho, John McCain. “Lembro-me de a minha mãe dizer que não podia votar no Partido Democrata porque o meu avô iria dar voltas no túmulo. As pessoas sentem que têm de se manter no mesmo partido toda a vida, mesmo quando este se afasta dos seus valores”, resume Jan.
Mas isso, assegura, não aconteceu consigo: “Nos velhos tempos, os militares sempre foram mais pró-republicanos, porque defendiam mais aquele tipo de políticas, mas não eram matérias em que os valores estivessem em causa. Agora o Partido Republicano tornou-se anti-democrático”.