Nota Introdutória PMR
Tive a oportunidade de recentemente visitar a Argentina e ver in-loco o que se está a passar neste país, nomeadamente ao falar com argentinos que estão a viver a “revolução liberal” que Javier Milei está a tentar implementar neste país. Uma vez que em Portugal quase não se tem falado neste tema desconfiei que as coisas andavam a correr bem. Juntei-me a um reputado economista argentino para poder falar com maior propriedade sobre este tema.
Javier Milei tomou posse da presidência argentina há exatamente um ano prometendo uma revolução e a avisar que viriam aí tempos de austeridade e sacrifício. O seu primeiro discurso soou nessa altura mais a Churchill do que a de qualquer outro líder na região. O governo tem como objetivo uma economia aberta e desregulada para aumentar a qualidade de vida dos argentinos. A irrupção de um governo liberal na Argentina, num país cercado por governos de esquerda, foi surpreendente e, depois dum previsível início mais complicado do plano “motosserra”, a verdade é que já começam a aparecer resultados muito elogiados nomeadamente pelo FMI e por vários investidores, que resumiríamos em 5 principais vetores/dados:
- O risco-país registou uma queda notável. Em janeiro deste ano, ultrapassou os 2.100 pontos e agora está à volta dos 700 pontos-base, o nível mais baixo desde julho de 2019.
- A Argentina voltará a ter superávit fiscal após 16 anos, o que vários governos anteriores tentaram sem sucesso. Este equilíbrio das contas é naturalmente uma condição necessária para uma política monetária estável e credível. O enorme ajuste fiscal, bandeira de campanha de Milei, algo incomum na história recente do país, contrasta com a situação de um ano atrás, quando o vermelho fiscal representava 23% da receita total do Tesouro Nacional. De destacar que a obrigação do Tesouro da Argentina mais representativa da maturidade a 10 anos quase triplicou de valor.
- A redução da taxa de inflação tem sido dramática, favorecida pela desregulamentação dos produtos importados e pela eliminação do imposto do país. Importante tem sido também a diminuição dos gastos públicos em cerca de 5% do PIB. A procura real pelo Peso, a moeda da Argentina, continua a aumentar e a evolução do crédito real em moeda local avança a um ritmo nunca visto nos últimos 15 anos. Assim e com a juda do fim da impressão de dinheiro pelo Banco Central, é muito provável que a taxa de inflação convirja para a meta oficial de 2% ao mês, a partir de janeiro. Dessa forma, a inflação será equivalente à desvalorização. Espera-se que, a partir daí, a taxa de desvalorização caia para 1,5% ao mês. Para 2025 prevê-se que a inflação anual de 25%, bem abaixo dos 211% para 2023 e dos esperados 118% para 2024. A redução tem sido violenta, algo que no início do ano ninguém esperava. De referir ainda que a diferença entre o dólar oficial e o dólar paralelo diminuiu drasticamente. O mercado aguarda uma futura unificação da taxa de câmbio. Essa convergência simplificará o sistema monetário e aumentará a transparência econômica.
- Após a forte contração do PIB no primeiro semestre do ano que seria expectável, o crescimento económico já chegou. A J. P. Morgan prevê um crescimento de 4,4% até 2025 e existe quem aponte 5%. O fim de várias regulamentações, o plano de privatizações e de maior racionalidade no gasto de dinheiros públicos e por exemplo a desregulação do mercado de habitação e o regresso de empresas estrangeiras têm tido aqui um papel importante.
- Em 2024 a balança comercial atingirá um saldo positivo de cerca de 22.400 USM$. Tal excedente resulta em particular dum forte aumento das exportações. A indústria automóvel e a petroquímica são os setores que em 2024 mais contribuíram para esse crescimento. A economia revelou ainda uma outra mudança em outubro com um aumento de 4,9% nas importações anuais. Essa tendência tem sido associada à abertura da economia à concorrência internacional.
O grande problema da Argentina mantém-se no enorme nível de pobreza. Desde há muitas décadas que a taxa de pobreza seguiu, através de altos e baixos, uma violenta curva ascendente. Em 1980, a taxa de pobreza era de cerca de 10%, na área da Grande Buenos Aires e em 2003 atingiu 62%. Em 2015 tinha caído para 30%. Durante o anterior governo anterior, a taxa voltou a crescer. A pobreza no país atingiu 52,9% no primeiro semestre de 2024, um aumento de 11 pontos desde que Milei assumiu o cargo de Presidente, mas os dados mais recentes indicam que já existe uma recuperação para os valores do início de 2024.
O ano de 2025 será ainda um ano de transição, de tremendo esforço. O novo sistema político terá que resistir a fortes pressões e sobreviver a eleições. No entanto, até agora, o que foi prometido tem sido cumprido e o povo tem estado a apoiar um governo cuja popularidade tem aumentado. Falta ainda muito caminho a percorrer e não faltará quem tudo fará para que não haja sucesso, nomeadamente vários sindicatos e outros grupos de interesse. A eleição de Trump nos EUA pode ser ainda uma benesse para Milei e, já agora, para toda a Argentina que há muito precisava de mudar de vida.