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um filme de motas e motociclistas com pouca cilindrada – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jun 20, 2024

A certa altura de The Bikeriders, de Jeff Nichols, inspirado no livro de fotografias sobre bikers do Illinois publicado em 1968 por Danny Lyon, Kathy (Jodie Comer), a narradora omnisciente, conta como nasceu o clube de motociclistas The Vandals, em que se centra o filme. Algures no início da década de 60, Johnny (Tom Hardy), um pai de família, condutor de camiões e biker, teve um momento de iluminação ao ver na televisão O Selvagem, de Laszlo Benedek, com Marlon Brando no papel do insolente líder de um bando de motociclistas que diz estar revoltado contra o que quer que lhe proponham. E decidiu fundar os Vandals, com alguns amigos da cidadezinha de Cook County em que vivia.

[Veja o “trailer” de “The Bikeriders”:]

Além de narradora da fita, Kathy é também a mulher de Benny (Austin Butler), o mais jovem, espalha-brasas e carismático membro dos Vandals, e sucessor natural, mas muito relutante, de Johnny, na liderança do mesmo. É ela que aponta as contradições deste grupo cujos membros projetam uma imagem de rebeldia, inconformismo e perigo, mas passam o tempo a inventar todo o tipo de regras internas ridículas e só se sentem fortes quando estão juntos. São na verdade um punhado de trabalhadores, quase todos casados e pais de família, unidos pela sua paixão pelas motos, graças às quais fogem à monotonia dos empregos e à rotina familiar, organizam piqueniques e corridas, andam à pancada com bikers de outros grupos e depois vão todos beber umas cervejas, e ocasionalmente pisam o lado errado da lei, sem que daí advenham consequências de maior.

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[Veja uma entrevista com Jeff Nichols:]

Não contem com Jeff Nichols para romantizar ou glorificar a figura do motociclista de blusão negro a fugir da polícia na sua potente máquina, apresentando-o como símbolo de individualismo e liberdade. The Bikeriders é muito mais prosaico do que isto e tem três linhas narrativas. A primeira refere-se à relação pai/filho entre Johnny e Benny e à vontade daquele de que este um dia o substitua como líder; a segunda é a dos esforços de Kathy para contrariar a influência de Johnny sobre Benny, tirá-lo do grupo e mudarem de cidade e de vida, porque sabe que o marido vai morrer se ficar; e a terceira e é a transformação dos Vandals de uma segunda “família” para os seus membros, numa “empresa” criminosa, ao crescer de mais, admitir membros nada recomendáveis e ser tomada por gente que não joga pelas regras.

[Veja uma entrevista com Tom Hardy:]

Já se escreveu por aí que The Bikeriders é uma espécie de Goodfellas com motos. Mas nem os Vandals são uma organização mafiosa, nem o filme tem a vertiginosa aceleração cinematográfica do de Martin Scorsese. Além de pujança visual, falta-lhe pulmão dramático, e em vez de nervoso e vibrante, é muito mortiço e arrastado a contar a história. Há pouca tensão dentro do triângulo formado por Johnny, Benny e Kathy — e Jeff Nichols a realizar parece um daqueles sujeitos que têm uma mota potentíssima, mas quase nunca passa dos 60 km à hora quando a conduz e pára nos vermelhos todos. E um filme de motas e bikers pode ser tudo menos chato.

[Veja uma sequência do filme:]

As personagens são limitadas e logo pouco propícias a subtilezas de interpretação (Tom Hardy, sempre de cigarro ao canto da boca, parece estar a fazer uma imitação anestesiada e tosca de Marlon Brando), Michael Shannon é subutilizado num papel muito secundário e até o sotaque castiço de Kathy (que está a contar tudo em flashback a Danny Lyon, personificado por Mike Faist), acaba por cansar. O título original do filme de Benedek com Brando é The Wild One. The Bikeriders deveria antes chamar-se The Slow Ones.



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