A porta para a política estava sempre entreaberta. Num regime teocrático em que a justiça está ao serviço do poder político, Ebrahim Raisi candidata-se ao cargo de Presidente em 2017, angariando o apoio de vários partidos conservadores. Perde as eleições, vencendo-as Hassan Rouhani, com 57% dos votos, um candidato mais moderado. Apesar de acabar derrotado, ganhou visibilidade no espaço público e também junto do aiatolá.
Em 2021, Ebrahim Raisi, sancionado pelos Estados Unidos dois anos antes, volta a tentar tornar-se Presidente do Irão — e, desta vez, sagra-se vencedor com um resultado na ordem dos 72%, numas eleições em que o aiatolá o apoiou abertamente, assim como a maioria dos clérigos iranianos. Apesar da vitória expressiva, estas eleições foram as menos votadas de sempre: apenas 48% dos eleitores iranianos votaram — uma forma de contestação a umas presidenciais cujo desfecho parecia já ser conhecido antes da divulgação dos resultados. Quatro anos antes, tinham votado 73% dos iranianos.
Contrariamente ao seu antecessor, o então novo líder, incentivado pelo aiatolá, rompeu todas as ligações com o Ocidente, incluindo o acordo nuclear de 2015, e deu mais força ao chamado “eixo da resistência”, composto pelo Hamas, pelo grupo libanês Hezbollah e pelos iemenitas Houthis. Apostando no endurecimento de medidas mais repressivas, Ebrahim Raisi herdava, no entanto, um país que sofria uma profunda crise económica, potenciada pela pandemia de Covid-19.