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Uma esquerda a cooperar pelo país fora contra a extrema-direita. O plano que “vai dar muito trabalho” ao Livre – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 12, 2024

O objetivo está definido: o Livre quer fazer parte de um próximo governo de esquerda e tem de usar os próximos tempos para se preparar para isso. Foi essa a tónica deixada no final do congresso pelas duas principais caras do partido, Rui Tavares e Isabel Mendes Lopes, que partilharam a intervenção de encerramento e deixaram as linhas-mestras para orientar o partido — da necessidade de criar raízes em todo o país às soluções para liderar uma “viragem contra a extrema-direita e o conservadorismo”.

Antes de Isabel Mendes Lopes apresentar as propostas mais concretas que o partido quer lançar, coube a Rui Tavares falar e dar algumas pistas sobre o caminho exigente que o Livre e a esquerda como um todo devem agora percorrer. Um dia depois de ter anunciado que o partido tem de se preparar para governar, o fundador começou por falar às restantes esquerdas: “Estamos do mesmo lado para mudar este país e virar o ciclo político para políticas de progresso”. Até porque, se há, naturalmente, “alguma competição” entre eleições, a esquerda “é feita mais de cooperação”, frisou.

E essa é uma cooperação que deve ser feita contra uma direita “cada vez mais radicalizada e conservadora”, prosseguiu, num discurso em que colocou o Livre do lado do progressismo, numa espécie de missão contra o conservadorismo. Guardando mais recados para a esquerda: se a extrema-direita aposta num estilo de liderança “autoritária e personalizada”, a esquerda não deve “responder com a mesma cultura”.

Era o passo que precisava de dar para passar aos recados internos: em tempos “difíceis para a democracia”, o Livre precisa mesmo de garantir que se enraíza no território e que promove não só uma liderança, mas muitas e espalhadas pelo país todo, lideranças que sejam “jovens, locais, setoriais” — “É muito importante que tenhamos líderes jovens em todo o lado” que possam “interromper uma conversa” que reflita preconceitos com dados que as desconstruam, frisou. No fundo, o Livre quer apostar na formação de quadros, tendo em vista as suas ambições crescentes: “É uma tarefa que o Livre abraça e que nos próximos dois anos nos vai dar muito trabalho”.

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Durante todo o congresso foi possível ouvir, de resto, muitas referências a um fenómeno que o Livre quer combater: a ideia de que territórios mais isolados e “esquecidos”, nomeadamente no Alentejo e no Algarve, estão entregues ao Chega e que mais vale a esquerda desistir de tentar penetrar neles. Rui Tavares juntou-se ao apelo em sentido contrário: “Em cada município e aldeia começa a viragem contra a extrema-direita e o conservadorismo”.

Tudo isto numa altura em que, como já tinha defendido e reforçou, “ninguém sabe” qual será o calendário eleitoral — pode haver eleições legislativas ainda antes das autárquicas de 2025 — graças a uma “desorientação” de um Governo preocupado com questões menores, como “mudar um logótipo ou demitir uma pessoas”, mas perdido nas dimensões “ideológica, moral e ética” e sem se distanciar do Chega, acusou.

O guião político ficava traçado, falta o trabalho no terreno e no território — um trabalho que uma esquerda com muitas semelhanças com a do Livre, como é o caso do Bloco de Esquerda e do PAN, já tentou fazer e falhou — para assegurar que o partido tem um crescimento real e estruturado, em termos de implantação nacional. Por isso, Rui Tavares deixou um recado: nos próximos dois anos, progressistas e ecologistas devem dar as mãos, fazer coligações, apoiar movimentos independentes e, no caso do Livre, avançar com candidaturas locais em nome próprio se “achar que tem condições para isso”. Sem força local e autárquica será mais difícil ganhar uma estrutura mais sólida — e ambicionar a voos mais altos.



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