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Uma queda que pareceu uma “bomba”, o relato do piloto do helicóptero e as buscas intermináveis. As 28 horas a seguir à tragédia no rio Douro – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 1, 2024

A manhã de sexta-feira começou como qualquer outra para Maria Ribeiro. No terraço da sua moradia, em Peso de Régua, aguardava pacientemente a chegada do carro da padeira. Nas suas costas estendiam-se fileiras de vinhas, onde alguns moradores da região trabalhavam, à sua frente o Rio Douro, onde, como habitual, circulava um ou outro barco em viagens turísticas. Nesse dia o pão ficou por comprar. Pelas 12h30, Maria ficou em choque ao ver um helicóptero a descer descontrolado em direção ao rio, quase de lado, e a cair com um estrondo.

“Em dois segundos desapareceu logo todo o helicóptero. Nunca mais se viu”, contou a moradora, de 65 anos, ao Observador este sábado — no início do segundo dia de buscas no Douro após a queda do helicóptero de combate a incêndios onde seguiam seis pessoas, um piloto civil e cinco elementos da Unidade de Emergência Proteção e Socorro (UEPS, antigamente denominado GIPS), que integra o Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais.

O acidente desta sexta-feira aconteceu quando o helicóptero regressava de um incêndio em Gestaçô, em Baião. A equipa da UEPS não chegou a intervir porque o fogo já tinha sido dominado. Estavam a apenas algumas minutos de voo do Centro de Meios Aéreos de Armamar, de onde tinham partido e para onde regressavam, quando a situação se descontrolou.

No espaço de poucos minutos após a queda da aeronave, Maria viu a confusão instalar-se com a chegada de equipas dos bombeiros, da unidade de suporte imediato de vida, da Proteção Civil e da GNR. Para o local foram mobilizados num primeiro momento 83 operacionais, apoiados por 21 carros e três meios aéreos, numa operação que se arrastou por 28 horas.

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No primeiro dia as autoridades encontraram os corpos de quatro tripulantes — Pedro Santos, António Pinto, Fábio Pereira e Daniel Pereira. Só este sábado, no segundo dia de buscas, foi detetado por uma equipa de mergulhadores o corpo do militar que ainda estava desaparecido, Tiago Pereira. Terminavam, assim, as buscas. Apenas o piloto, Luís Rebelo, foi resgatado com vida. Sofreu vários ferimentos e está internado no hospital de Vila Real, tendo relatado que o acidente resultou de “uma falha no sistema hidráulico”, segundo relatou ao Observador um amigo próximo que o visitou no hospital.

Desde o momento em que o helicóptero — descrito como um veículo com “provas dadas de muito trabalho e de muita capacidade” — caiu ao rio, Maria Ribeiro não arredou pé do terraço. “Ao meio dia tinha ali o comerzinho, um arroz e uma costeleta para comer, não comi. Fiquei tão mal com o que se estava a passar, só à noite é que comi um pouco de sopa e me deitei”, conta.

O alerta para as autoridades, porém, não partiu de si, mas de uma moradora de uma rua mais abaixo. “Estava dentro de casa e senti um barulho muito grande. Até me arrepio agora”, diz Helena Magalhães ao Observador. Quase como uma “bomba”, descreveram ao Observador outros moradores. Helena não chegou a ver o helicóptero a afundar-se, apenas a agitação na água e um cheiro forte a gasolina. Aconselhada pelo marido, a moradora, de 59 anos, ligou de imediato para o 112 e explicou que tinha havido um desastre entre o Hotel Six Senses Douro Valley e a Quinta da Pacheca, locais onde as autoridades viriam a montar os centros de operação.

Enquanto as primeiras equipas acorriam ao local já o piloto do helicóptero, com mais de 15 anos de experiência, era resgatado por um homem que fazia a viagem entre Caldas de Moledo e Régua num barco rabelo, uma embarcação turística. “Vimos, inesperadamente, a entrada de um helicóptero, que já vinha de lado… não vinha em boas condições. Apareceu inesperadamente de nariz, caiu à água, bateu com as hélices e desfez-se”, recordou à CNN Joaquim Pacheco, que retirou o piloto da água.

“Foi o único, não sabíamos se havia mais alguém no helicóptero”, sublinhou Joaquim Pacheco, acrescentando que o piloto, atordoado e com dores, referiu depois, e por várias vezes, que se encontravam mais pessoas dentro do aparelho. Luís Rebelo foi o único a conseguir chegar à superfície.





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