• Dom. Out 27th, 2024

Feijoada Politica

Notícias

Via Verde Coronária. O caminho mais rápido e eficaz para salvar o coração – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 1, 2024

Atualmente, a angioplastia é o melhor tratamento para o enfarte agudo do miocárdio. E, segundo o diretor da Unidade de Cardiologia de Intervenção do Garcia de Orta, percebe-se por quê. “Se agirmos precocemente, quando temos uma artéria obstruída e a abrimos, restabelecemos o fluxo sanguíneo para o coração e o doente fica, na maioria dos casos, sem qualquer sequela.” Já a fibrinólise, ou seja, a toma de medicação que permite dissolver o coágulo que causa a obstrução, é uma solução alternativa que “só abre a artéria em 50% dos casos e não trata a lesão”. “Aliás, se o doente fizer a fibrinólise, obrigatoriamente tem que fazer um cateterismo nas horas seguintes”, afirma.

Em Portugal tratam-se, anualmente, cerca de 4 mil doentes por angioplastia primária, refere Hélder Pereira. “Nós tratamos à volta de 180 doentes. Este ano esse valor é capaz de aumentar, devido à suspensão do atendimento urgente e do internamento do Serviço de Cardiologia do Hospital do Barreiro, da ULS do Arco Ribeirinho.” Um número que corresponde, em média, segundo o cardiologista, a tratar um enfarte dia sim, dia não. Mas este não é um cenário linear. “Podemos ter alturas em que recebemos dois casos num dia e depois ficarmos outros sem receber nenhum doente.” Foi o que aconteceu nos dois dias de reportagem em que o Observador visitou a Via Verde Coronária do HGO: não deu entrada nenhum caso de enfarte.

Horas antes, durante a madrugada, Cristina Martins tratou de um homem que se deslocou pelos seus próprios meios até ao hospital. “O doente sentiu-se mal e veio a conduzir até aqui, o que é um perigo, pois o risco de fazer uma fibrilhação ventricular, isto é, uma arritmia potencialmente fatal caracterizada por ritmos incompatíveis com a vida, causando paragem cardíaca, é maior”, afirma a cardiologista. Esta é uma situação “frequente nas primeiras horas após o enfarte e quando morrem mais doentes, mas se a pessoa estiver acompanhada pela equipa de emergência está protegida deste perigo”.

Quando se trata de salvar o coração, o tempo é essencial, tanto no diagnóstico como no tratamento. Por isso, quanto mais rapidamente o doente for tratado, maior a possibilidade de recuperação. “O enfarte tem de ser tratado preferencialmente nas seis horas a seguir ao aparecimento dos sintomas”, diz a cardiologista. Caso contrário, “uma parte importante do miocárdio poderá morrer e o doente pode sofrer de insuficiência cardíaca”. “Como costumamos dizer, tempo é miocárdio.”

As boas práticas do tempo “porta-balão” – da porta da urgência até receber tratamento —, estão estipuladas em 60 minutos. Já o tempo total entre o início dos sintomas e o tratamento não deve ultrapassar as duas horas, pois, quanto mais se demorar a tratar, pior será o resultado. Outro parâmetro que deve ser tido em conta é o tempo desde a admissão hospitalar até o doente fazer o eletrocardiograma, que deve ser inferior a 10 minutos.

1117

Casos de suspeita de enfarte agudo do miocárdio encaminhados pelo INEM através de Via Verde Coronária

No primeiro semestre de 2023, o INEM encaminhou 1.117 casos de suspeita de enfarte agudo do miocárdio para os hospitais com Via Verde Coronária, mais 59% relativamente ao mesmo período de 2022.

Segundo o INEM, este aumento de 416 doentes pode justificar-se pela maior consciencialização da importância do contacto para o 112 perante sintomas de enfarte, mas também devido à implementação da iTEAMS, uma nova ferramenta de registo clínico que permite reunir mais dados e otimizar a cadeia de transmissão de informação clínica, desde o evento até à chegada do doente no hospital.

No Garcia de Orta, é possível cumprir estes tempos, embora haja algumas variáveis a ter em conta, nomeadamente se os doentes chegam ao hospital com o INEM ou não. “Por norma, os que vêm apresentam melhores tempos do que os que se dirigem ao hospital pelos seus próprios meios”, diz Hélder Pereira.

Dados de um trabalho realizado em maio de 2016 pela iniciativa Stent For Life, atualmente designada Stent Save a Life, que visa salvar vidas através da melhoria do tratamento às vítimas de enfarte e da qual o especialista do Hospital Garcia de Orta (HGO) faz parte, indicam que o doente que vai pelos seus próprios meios demora em média 102 minutos a ser assistido, enquanto se chamar os meios de emergência médica esse tempo reduz para 50 minutos.

Para melhorar estes resultados, Hélder Pereira sublinha a importância de o doente pedir ajuda o mais cedo possível, lembrando que quando a artéria é desentupida durante a primeira hora “o músculo cardíaco recupera completamente”. O HGO continua a receber doentes que “chegam tardiamente e com muito mais complicações” em grande parte devido “aos constrangimentos que têm sido apontados às urgências nos últimos tempos”.

Cristina Martins também tem uma palavra a dizer sobre o assunto e alerta para a necessidade de a população saber reconhecer os sinais e sintomas do enfarte agudo do miocárdio e ativar de imediato a emergência médica, através do número 112, em vez de ir ao hospital pelos seus próprios meios. Algo que acontece em cerca de 50% dos casos. “O doente tem de ter a noção de que pode estar com um enfarte e não desvalorizar os sintomas ou esperar que passem”, reforçando também a importância de se “apostar em campanhas de sensibilização e de educação de suporte básico de vida, principalmente nas camadas jovens da população”.





Source link

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *