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Caetano Veloso e as coisas que acontecem no nosso coração – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 10, 2023

Caetano já veio muitas vezes a Portugal, já lançou muitos discos, já escreveu muitas canções – talvez até de mais, declarou o próprio a respeito do tempo em que pensava que não voltaria a compor. Até que lhe apareceram os primeiros acordes do primeiro tema deste Meu Coco, disco de 2021, primeiro de originais em quase uma década e que o traz de volta à estrada aos 81 anos, possivelmente pela última vez. Depois, diz, quer voltar para a Bahia “e cantar lá toda a semana”. Mas alguma coisa acontece no nosso coração sempre que ele cruza a Avenida Atlântica. E juraríamos que no dele também.

Na primeira de cinco noites de concerto esgotadas em Portugal, as crianças na fila de trás perguntam à mãe se Caetano vai tocar X ou Y. Os sotaques delas têm diferentes graus de variação entre o português de um lado e do outro do oceano, provavelmente porque, na idade delas, disponível para absorver o universo inteiro, cada mês a mais ou a menos passado sobre o dia em que se mudou de continente conta como uma década no desenvolvimento da linguagem. Mas não é só o idioma que partilhamos, nem o gosto por Caetano, apesar das gerações que nos separam; é essa coisa comovente, ainda muito mais profunda e universal, de em crianças acharmos, verdadeiramente, que os pais sabem tudo.

Dez ou 15 minutos depois da hora marcada, apenas para dar tempo a todo o público de se acomodar nas apertadas cadeiras do Coliseu, numa noite muito mais quente que os alertas de mau tempo fariam adivinhar, o lendário baiano toma o palco, armado das respostas e do último meio século da banda sonora de milhões de vidas, pelo mundo inteiro. Começa em João Gilberto e acaba em Maria Gadú. Pelo meio, há Gal Costa, Jaques Morelenbaum (o “Jaquinho”), Bethânia (claro), Paul Anka, Doces Bárbaros, A Outra Banda da Terra, a Banda Nova, e até o fado, aquele de que Caetano se diz orgulhoso de ter ajudado os jovens portugueses dos anos 70 a reencontrar. Atravessamos tudo isso: os anos do exílio, as ditaduras de lá e de cá e as democracias, até à perplexidade perante o mundo contemporâneo e as suas respostas eletrónicas a problemas de carne e osso – e alma.

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