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o culto de Mondim de Basto e a chuva de areia que havia de destruir o mundo em 1759 – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 17, 2023

Em 1756, Maria José Francisca começou a vomitar “cóleras” e a ter fortes dores de cabeça. À tragédia daquela estranha doença veio juntar-se a morte súbita de todos os seus porcos. Para os habitantes do pequeno lugar de Vilarinho, em Mondim de Basto, não havia grandes dúvidas: a mulher de António Gonçalves Antunes estava embruxada. Apesar das certezas da vizinhança, Maria José consultou um médico. Este, considerando que não tinha como lhe valer, disse-lhe que apelasse aos “santos”, o que levou a mulher a procurar um padre exorcista. O mais próximo vivia em Agilde, Celorico de Basto. A mulher percorreu quase 30 quilómetros a pé para o encontrar.

Após uma primeira sessão, durante a qual Maria José esteve sempre inconsciente, deitada sobre uma manta, João Teixeira, o padre exorcista de Agilde, mandou-a para casa, concluindo que “não tinha diabo legítimo”. A maleita que a afetava tinha de ser outra. Durante algum tempo, Maria José sentiu melhorias, mas rapidamente voltou ao estado anterior. Regressou então a Agilde e submeteu-se a um novo exorcismo. Durante o esconjuro, um espírito que se apresentou como sendo o diabo começou a falar pela sua boca. Resistindo às exortações de João Teixeira, a entidade mandou o padre para “os infernos”. O sacerdote insistiu e conseguiu vencer o demónio, que remeteu para os confins do inferno, onde devia ficar “enquanto Deus Nosso Senhor ordenasse”. Nos seis ou sete meses que se seguiram, Maria José viveu tranquilamente, retomando a vida com normalidade. Mas, mais uma vez, os sintomas regressaram. E os porcos continuaram a morrer.

Durante cerca de um ano, Maria José viveu como podia com o mal que a atormentava. No início de 1758, em fevereiro ou março, passando pelo lugar um homem com fama de curandeiro, um vizinho pediu-lhe que a visitasse e que tentasse fazer alguma coisa por ela. João Pinto, de 37 anos, vivia em São Martinho de Vale de Bouro, em Celorico de Basto, a cerca de 20 quilómetros. Dono de umas fazendas e de alguns bois, de que cuidava com a ajuda de dois moços, era mais do que um simples lavrador. Ao contrário da grande maioria da população portuguesa na segunda metade do século XVIII, sabia ler e escrever (não existem dados concretos para este período mas, cerca de 100 anos depois, a taxa de analfabetismo em Portugal era superior a 70%) e tinha uma pequena coleção de livros religiosos. Um desses volumes continha uma oração atribuída a São Cipriano que Pinto acreditava ser boa para tudo, “principalmente para malefício”. E porque um frade lhe tinha dito que não tinha nada de mal, começou a lê-la “com boa intenção” à cabeceira de mulheres doentes.

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