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Pisar o futuro – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 8, 2023

Os resultados do PISA 2022, lançados esta semana, mostram que estamos a espezinhar o futuro. Apesar de todos reclamarem pela importância da educação, e de alguns até professarem a sua paixão por ela, eu prefiro olhar para aquilo a que os economistas chamam preferências reveladas. O conceito de “preferências reveladas” diz-nos que aquilo que as pessoas dizem valorizar é menos importante, e menos revelador das suas reais preferências, do que aquilo que as pessoas fazem. Isto é, se eu digo que prefiro iogurtes naturais a iogurtes de morango, mas sempre que vou ao supermercado compro iogurtes de morango, então se calhar realmente prefiro iogurtes de morango e aquilo que digo não corresponde à realidade. Em linguagem popular, as acções valem mais do que as palavras. Da mesma forma, se o governo e os nossos decisores políticos dizem repetidamente que a educação é uma das suas prioridades e a base do nosso futuro, mas depois agem consistentemente contra os interesses das crianças, das reais melhorias do ensino, de todas as evidências e conselhos de especialistas, então se calhar a educação não é assim tão importante para eles. Penso ser uma das poucas conclusões possíveis.

Os resultados do PISA 2022 revelaram uma queda geral da performance dos alunos. Em média, os alunos da OCDE desceram 10 pontos a leitura, 15 pontos a matemática e ficaram mais ou menos na mesma a ciências. Para colocar esta queda em contexto, nunca em edições anteriores a queda havia sido superior a 5 pontos por domínio e 20 pontos a menos correspondem a cerca de um ano de escolaridade perdido. Em Portugal, as quedas foram superiores à média da OCDE (-15 pontos a leitura e -20 pontos a matemática) e seguem-se a uma descida que já se havia verificado entre 2015 e 2018. Se entre 2000 e 2015 os alunos portugueses mostraram-se uma evolução notável e um crescimento constante dos seus conhecimentos, o pico parece ter-se dado em 2015, altura em que começámos a decrescer como outros países da OCDE. Lanço aqui três perguntas: quando voltaremos aos níveis de 2015? Quando voltaremos a uma tendência de crescimento? E quem está a trabalhar para tal?

Perante estes resultados, alguns apologistas do actual Governo vieram argumentar que a queda de resultados tem sido uma tendência generalizada em toda a Europa e que a queda da edição de 2022 se deveu à pandemia. É inegável que a pandemia e os encerramentos das escolas nos custaram anos de formação se considerarmos os seus efeitos imediatos e futuros nos mais de 1 milhão de alunos actualmente no ensino básico e secundário em Portugal. No entanto, simplesmente apresentar este argumento como “justificação” e continuar como se nada fosse é particularmente grave.

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