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A importância de não nos levarmos demasiado a sério – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jan 1, 2024

Diz-nos Paulo Tunhas no ensaio póstumo Filosofia, editado pelo Instituto de Filosofia da Universidade do Porto: “A filosofia pode ser concebida quer como uma atividade, como uma busca de saber, quer como uma doutrina, como algo que é ensinável, algo de sistemático.” Os sistemas filosóficos resultam deste segundo entendimento, onde se procura não apenas a coerência, mas também

esgotar a totalidade do pensável, sem deixar lacunas algumas. Dito de outra maneira: de procurar construir um mundo integralmente coerente que seja habitado por tudo aquilo que podemos pensar, sem que nada lhe escape e sem que nada se encontre fora do lugar que essa coerência da totalidade lhe exige.

É esta ambição sistemática da filosofia que torna tão intrigantes aqueles filósofos que, tendo alterado aspetos fundamentais do seu pensamento, levaram a doutrina a referir-se a essas fases como se representassem autores distintos: pensemos em Heidegger I (de Ser e Tempo) e Heidegger II (da Ereignis); no primeiro Wittgenstein (o do Tractatus) e no segundo Wittgenstein (o das Investigações); ou mesmo no jovem Karl Marx (dos Manuscritos) e no Marx maduro (do Capital). Numa área tão dada à sistematicidade como a filosofia, estas alterações são vistas como estranhezas: como se o normal fosse o filósofo ter tido um acesso privilegiado à verdade num determinado momento da sua vida (preferencialmente, muito novo, como sinal da sua excelência e excecionalidade), devendo limitar-se, por isso, nos anos seguintes, a amadurecer e a explicar esse vislumbre de sabedoria.

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