Se bem me lembro, ao longo da vida, acompanhei quatro telenovelas: Roseira Brava (1996), Terra Nostra (1999), Anjo Selvagem (2001) e a primeira temporada dos Morangos com Açúcar (2003), isto além dos episódios dispersos a que a minha avó assistia e que eu ia acompanhando distraidamente durante as férias de Verão, e que se confundem agora na minha memória com outras histórias desse tempo que não me deixavam dormir, como a do Luís Miguel Militão a enterrar portugueses em cimento, a da onda gigante que prometia destruir o Algarve e a do homem dentro de um quadro que o meu tio jurava sair da moldura todas as noites.
Ainda assim, a caminho dos estúdios da Plural, aqui o Foster Wallace dos pobres convence-se de que está prestes a compreender o que é uma telenovela (ou, nas imortais palavras proferidas por José Eduardo Moniz duas horas mais tarde, uma “produção continuada de ficção”) e por que motivo tem este formato tantos espectadores, a pretexto da estreia de Cacau, a nova produção continuada de ficção da TVI.
Não contava, no entanto, que chovesse, sendo precisamente à precipitação que atribuo o insucesso dos meus nobres esforços. Chego à entrada dos estúdios pontualmente às onze da manhã, onde a esta hora se acumulam debaixo de um pequeno toldo junto à cancela mais de uma dezena de jornalistas e fotojornalistas da imprensa cor-de-rosa. Um deles, que rapidamente se tornaria o meu favorito, protesta com a TVI por o deixarem ali à espera naquelas condições, reproduzindo a sua amargura palavra por palavra perante a produtora que dois minutos depois ali chega, garantindo que consigo, como já todos sabem, nada fica por dizer. Depois, pergunta se vamos à fazenda, não parecendo disposto a aceitar um não como resposta.
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