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Banca duplica lucros com menos 5.600 trabalhadores do que tinha em 2019 – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 15, 2024

Se os trabalhadores que saíram dos quadros dos principais bancos portugueses, só nesta década, se juntassem e abrissem um novo, essa instituição financeira teria entrada direta para o top 3 dos maiores bancos em número de colaboradores. No final de 2019, os seis maiores bancos a operar em Portugal tinham mais de 34 mil trabalhadores. Desde então, as saídas foram muito mais do que as entradas e, hoje, são cerca de 28.500. E se, nesse ano de 2019, último ano antes da pandemia de Covid-19, os bancos tinham tido pouco mais de 2.000 milhões de euros em lucros, em 2023 tiveram quase 4.500 milhões de resultados. E passaram a estar entre os mais rentáveis e “eficientes” da Europa.

Os seis maiores bancos portugueses fecharam 2023 com lucros de 4.472 milhões de euros, com a Caixa Geral de Depósitos a apresentar nesta sexta-feira um resultado histórico de 1.291 milhões. Já o Santander Portugal tinha, também, anunciado um lucro superior a mil milhões de euros (1.030 milhões), no início de fevereiro. Por seu lado, o Millennium BCP e Novo Banco tiveram lucros de 856 milhões e 743 milhões, respetivamente, ao passo que o BPI lucrou 524 milhões e o Montepio 28 milhões.

Estes mesmos bancos, os seis maiores do sistema bancário português, terminaram o ano com 28.560 colaboradores (apenas contando com a atividade em Portugal), menos 5.603 do que tinham à entrada nos anos 2020. E têm menos cerca de 10 mil quando se recua mais no tempo e se usa como ponto de comparação o ano de 2015, véspera da reestruturação de alguns dos maiores bancos do sistema, como a CGD e o BCP.

Em 2019, os mesmos seis bancos tinham tido, no total, 2.133 milhões de euros em lucros, cerca de 1.500 milhões dos quais na atividade em Portugal. Esta (mais do que) duplicação dos lucros é um resultado direto do aumento das taxas de juro, que em 2019 estavam em níveis negativos e, em 2023, depois de começarem o ano perto dos 2% terminaram em quase 4%. Para os bancos, o aumento das taxas de juro e, em particular, dos indexantes Euribor, significa um impulso imediato na margem financeira – sobretudo em Portugal, onde a maior parte dos créditos à habitação são indexados a taxa variável.

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Por outro lado, a margem financeira também beneficiou do facto de os bancos portugueses terem sido dos mais lentos da zona euro a refletir o aumento das mesmas Euribor aos juros pagos pelos depósitos. Entre outros fatores, os bancos puderam ser menos generosos na remuneração dos depósitos porque os portugueses são, em geral, bons adeptos da poupança sem risco na banca e, por isso, existe muita procura por depósitos mesmo que as taxas sejam menos rentáveis.

É neste contexto que os bancos portugueses vão buscar entre 75% e 85% do financiamento de que necessitam aos depósitos, ao passo que na zona euro a média ronda os 65%. Ou seja, os bancos europeus obtêm cerca de um terço do financiamento noutras fontes, que tendencialmente lhes saem mais caras, como emissões em mercado. Em contraste, os bancos portugueses encontram a quase totalidade do financiamento de que necessitam numa fonte relativamente mais barata: os clientes, boa parte dos quais pouco sensíveis à taxa de juro que lhes é oferecida.

E, do outro lado do negócio – a concessão de crédito – os bancos portugueses beneficiaram do facto de mais de 80% dos créditos à habitação terem taxa variável, uma proporção mais elevada do que na generalidade dos países europeus (o BCE não disponibiliza dados oficiais, que permitam uma comparação perfeita, mas sobretudo nos países do norte da Europa a maior parte dos créditos à habitação sempre foi contratada com taxa fixa).

Outra variável importante é a das comissões, que os bancos decidiram aumentar como forma de compensar as taxas de juro baixas ou negativas da década passada. Os números mostram, porém, que, no novo enquadramento marcado por taxas de juro elevadas, os bancos não estão a cobrar menos comissões, pelo contrário. A receita com serviços e comissões somou 2.108 milhões de euros em 2019 (nos seis maiores bancos) e em 2023 ascendeu a 2.296 milhões de euros.

Até recentemente, os bancos relativizavam a multiplicação dos lucros anuais notando que tinham de ser vistos em comparação com o capital acionista que estava empregue nestas instituições. Ao longo da última década, a chamada “rentabilidade dos capitais próprios” (ROE) oscilou entre valores muito baixos (de um dígito) e valores negativos – ao passo que outros setores têm tido rentabilidades superiores a 30% (atividades imobiliárias) e 40% (espetáculos e desporto).

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Porém, este cenário alterou-se a partir de 2021, quando as taxas de juro começaram a dar sinais de subir. De tendencialmente menos rentáveis do que a banca europeia, passaram a estar entre os mais lucrativos. O ROE dos bancos portugueses disparou para uma média entre 14% e 20% em 2023, segundo estimativas da consultora McKinsey partilhadas com o Observador, ao passo que o ponto médio da rentabilidade dos capitais próprios de toda a banca da zona euro ronda os 11%.



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