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O território (re)imaginado de Enzo Cucchi – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 16, 2024

De regresso à contemporaneidade, o seu corpo de trabalho é também um comentário face à produção artística atual. “A maior parte da arte que vemos hoje é decorativa, muitas vezes com esse chavão de que é imersiva”, refere Enzo Cucchi. Embora não refute a ideia de que as suas obras também possam ter esse lado decorativo, o italiano contrapõe com a ideia de que existe um excesso de mensagens que se tentam propagar à partida, sem que haja do lado do espetador a capacidade livre e espontânea de interpretar. Interessa-lhe por isso a noção de perspetiva, na forma como apresenta as obras no espaço – nomeadamente nas muitas peças de canto que, diz, “ajudam a formar esse percurso” – como no entendimento do que estas nos transmitem quando as olhamos.

Ainda no domínio da forma, dá primazia ao desenho – um “estágio primário” para qualquer obra sua – sem o qual não haveria técnica para outras derivações estéticas, desde logo, a pintura. Da mesma forma, olha para as questões arquitetónicas dos espaços onde expõem, nos quais é preciso haver silêncio e a capacidade de cada visitante se perder na sua constelação de imagens. Só aí surge, de forma clara, o seu interesse pelos signos que compõem um universo povoado por lendas, figuras misteriosas, sonhos e pesadelos recorrentes, tradições regionais e expressões folclóricas.

“Quando olhamos para a sua obra como conjunto percebemos que estamos perante um poeta, com uma notável capacidade de fazer ligações entre imagens, e que não está interessado num discurso feito sobre as suas criações”, acrescenta o curador. Com uma poética própria, devemos olhar para Cucchi como um artista afeto e comprometido com a prática de criar e não como alguém que quer transmitir algo muito concreto. “Quando escreve está a escrever, quando pinta está a pintar, quando esculpe está a esculpir”, completa Bruno Marchand.

Contracorrente e insubmisso, a sua arte está impregnada de uma poética que está sempre em movimento. A viagem que propõem tem um início e fim – a morte acompanha-o sempre – mas todo o percurso entre os dois pontos é feita pela por aqueles que se atrevem a viajar com a sua própria imaginação. No fundo, como diria o próprio artista, viajamos sempre que nos atrevemos a sonhar.



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