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“Eu preciso deste impacto para sobreviver”. O desfile de Nuno Gama à beira Tejo, no MAAT – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mar 24, 2024


Parecia que os desfiles de moda já tinham acabado por esta estação, mas Nuno Gama terá estado à espera da chegada oficial da primavera para apresentar as suas propostas. Este sábado, fez do passeio em frente ao MAAT a sua passerelle e apresentou a coleção “Luzboa”, para a qual nem só as roupas foram feitas à medida, a música também. As peças chegam à loja na próxima semana.

Pelas 17h20, quando o desfile arrancou, o termómetro marcava 25ºC. O sol estava tímido, quem sabe por causa das poeiras do Saara que vieram passar o fim de semana a Portugal, mas a luz era perfeita, segundo a avaliação do fotógrafo deste artigo. Dos degraus à porta do MAAT fez-se a bancada para os convidados e cada um teve direito a uma almofada com o tema da coleção. Os modelos saíam do edifício da Central Tejo e percorriam todo o passeio que se estende à beira rio e seguiam depois para o terraço que cobre o MAAT de regresso aos bastidores. Trata-se de um percurso de 18 minutos, segundo o próprio Nuno Gama.

No cenário ao vivo passavam barcos com pessoas que acenavam, aplaudiam ou simplesmente apreciavam. Sob a pala do museu, lado a lado com famoso “Solitário” de Joana Vasconcelos ainda em exibição, esteve instalada a orquestra da GNR. A dada altura do desfile uma voz juntou-se à música. André Viamonte trouxe temas seus e também um criado de propósito para este desfile e com o nome da coleção de forma a que a apresentação acabasse com a palavra “Luzboa” no ouvido de quem assistia.

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“Há algo que me fascina, que é porque é que nós nascemos aqui e não nascemos noutros sítios? Porquê é que temos esta fronteira? Porquê é que Lisboa é assim? Porque é que as pessoas adoram estar aqui?”, explica Nuno Gama ao Observador no final do seu desfile. “Todas estas coisas que nós vemos como dados adquiridos são coisas que me fazem pensar, gostava de perceber isso um dia, isso mexe comigo e, sobretudo, faz-me sonhar, imaginar e criar.” E como é que tudo isto se traduz em roupa? Em quase 80 looks, o designer quis apresentar “o guarda-roupa como um todo e, sobretudo, com uma homenagem, de alguma forma, àquilo que é essa boa energia com a qual nós somos abençoados diariamente”. Contou com “coisas mais básicas do dia a dia, até coisas mais sofisticadas para a noite, para um evento, para uma festa, para um casamento, o que for”.

Não faltaram fatos de banho, fatos clássicos e fatos de treino. A paleta de cores contou com muitos tons pastel, como lilás, rosa, laranja, e também dourado ou preto, em contraste. Os chapéus deram à coleção um mood ainda mais verão, dos panamás às boinas e com alguns exemplares ao estilo cowboy.

Nuno Gama assume-se fã dos “clássicos linhos e algodões”, mas também “cada vez mais a descobrir todo o mundo dos novos técnicos, que são absolutamente fascinantes, e que são sustentáveis e extremamente importantes para a nossa vida”. Conta que a sustentabilidade sempre foi uma preocupação da marca, desde 1991. “Eu nasci em Azeitão, cresci no Portinho da Arrábida, e cada vez que nasciam as rosas albardeiras, nós íamos a correr vê-las. Era quase como ir a uma missa, era uma religião. Não íamos apanhar as rosas albardeiras, porque estavam ali para todos, não estavam só para a nossa jarrinha lá em casa. E essa ligação que se tem à Natureza, de uma forma ou de outra, é uma coisa que se aprende um bocadinho, o que nos é passado.” Acredita que cada pessoa pode e deve fazer a sua parte para melhorar o mundo. “Acho que é este o grande desafio da nossa vida, é esta oportunidade incrível de podermos, de alguma forma, fazer magia.”

Nuno Gama depois do desfile da coleção “Luxboa” da sua marca, à beira Tejo © Diogo Ventura

No ano passado a marca Nuno Gama celebrou 30 anos e o designer decidiu desvincular-se da ModaLisboa, onde durante anos apresentou as suas coleções. “Chegou a altura de fazer o meu caminho”, disse na altura em entrevista ao Observador. Em outubro fez então o seu próprio desfile no Castelo de São Jorge. Esta estação seguiu-se o MAAT, como num guia turístico que poderíamos sugerir a um estrangeiro, mas do qual também nós devemos desfrutar, explica o designer. “São os nossos locais.” Passados meses e já dois desfiles a título individual diz que um dos impactos que sente na marca é a recuperação de clientes. Se antes se chateavam pelo que esperavam ou por não conseguirem ver a coleção, desta vez espaço não faltou aos pés do museu e foram dezenas as pessoas que assistiram ao desfile.

Nuno Gama queria “um sítio onde a luz entrasse livremente e onde a natureza nos invadisse livremente e nós estivéssemos em comunhão com ela de uma forma boa, bonita, especial.” Viu no MAAT o local ideal e ainda por cima aberto ao público, já que quem não tinha convite também podia desfrutar do desfile observando a partir da pala.  Explica que, nos seus desfiles individuais, tem a preocupação de “criar um bom ambiente e um bom espetáculo” para clientes e amigos. “Havia uma necessidade de criar esse espaço, essa relação direta com a marca, de alguma forma”. Diz que sempre gostou “de fazer as coisas fora” e preza muito a liberdade de as fazer à sua maneira. “Eu preciso deste impacto para sobreviver, porque é isto que me alimenta de alguma forma e é isto que alimenta a marca também.” Quanto ao futuro, só garantiu certezas a curto prazo: ir “para casa descansar um bocadinho”.



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