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os caminhos da arte portuguesa nascidos a partir da Revolução – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 24, 2024

“Cresce-se na tempestade”, escreveu Van Gogh, esse génio que ousou fazer do seu mundo interior um veículo para manifestar o exterior. Esta afirmação poderia servir para explicar como é que as artes plásticas e os seus criadores atravessaram os anos 70, da revolução, ao PREC, das utopias coletivas, e algo paternalistas de “levar a arte ao povo”, até à crise económica profunda que se abateu sobre o pais, da entrada na CEE à mercantilização crescente da arte nos anos do cavaquismo, dos artistas exilados aos artistas internacionalizados, da utopia revolucionária às distopias climáticas.

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“Há uma energia coletiva que nasce com a revolução, mas que depois se transforma, se fragmenta em processos criativos individuais, autónomos. Muitos já vinham de antes do 25 de Abril, outros aproveitaram a nova liberdade para um experimentalismo nos meios e materiais, na hibridização, no uso da ironia e da tecnologia”, explica João Pinharanda.

Era preciso inventar tudo de novo num país cuja arte tinha parado no Modernismo, onde a maioria dos compradores só gostava de quadros naturalistas ao estilo século XIX, um país periférico só vagamente tocado por movimentos como o Cubismo, o Dadaismo, o Surrealismo, a Pop Art, o Abstracionismo. Onde não havia um curso de História da Arte, não havia revistas e, sobretudo, não havia um real interesse do estado em investir na Cultura. Muitas das obras que podemos ver nesta exposição são, pois, gestos do principio do mundo, onde cada artista forja a sua relação com a tradição e a modernidade, joga com as influencias internacionais que finalmente chegavam, se autoriza a explorar temas tabu, como o corpo, a sexualidade, o erotismo, o papel das mulheres,  explora novos suportes, especialmente a fotografia como a anti-pintura, a relação entre a palavra e a imagem ou a relação entre a arte e o marketing, a publicidade, o mercado.

De facto, só no primeiro núcleo podemos ver obras produzidas em 1974 e só aí vamos encontrar uma iconografia que nos remete para o 25 de Abril ou, pelo menos, apara os seus símbolos mais populares; os cravos vermelhos recortados sobre um poema de Sophia, de José Escada, um vídeo com imagens da época de Ana Hatherly, as ironias de Eduardo Batarda, Luísa Cunha, António Sena, Júlio Pomar. Depois as salas desdobram-se em universos particulares, que mostram que muitos artistas portugueses rapidamente se afastaram das utopias revolucionárias para explorarem as suas paixões, narcisismos, questionaram quase obsessivamente os objetos, como Lourdes Castro, os contos e lendas tradicionais como Paula Rego, a domesticidade e os espaços interiores como Helena Almeida ou Paulo Nozolino, também o corpo, como Gaëtan.



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