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Gyökeres, o 9 que marca uma outra era apagou a vitória de um legado (a crónica do FC Porto-Sporting) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 28, 2024

Olá, bem-vindos ao clássico mais estranho das últimas décadas. Esta poderia ser a apresentação de qualquer resumo do que se passou no Dragão este domingo à noite entre FC Porto e Sporting. Por muito que o futebol seja aquele jogo de 11 contra 11 onde conta quem marca mais golos e por mais que se trate de um clássico do Campeonato que reserva por si um capítulo do grande livro do futebol português, este era um encontro à parte de todos os outros com um contexto especial que se notava em qualquer lado. Na zona do coreto na Alameda do Dragão, na chegada dos adeptos visitantes, nas bancadas – sobretudo na central nascente, onde o novo presidente dos azuis e brancos, André Villas-Boas, viu a primeira partida na condição de 32.º líder do clube (ainda que não tenha tomado posse). Era o clássico da redenção, da homenagem, da emoção.

No FC Porto, este era o momento de viragem. Alguns dos 80% de sócios que votaram em André Villas-Boas até poderiam ter a esperança numa revolução mas nada nem ninguém admitia em atos ou palavras mudar o fim de uma era rompendo com o legado que fez do clube um dos maiores em Portugal e no Mundo a nível de títulos internacionais (se dúvidas existissem, as várias manifestações de reconhecimento em uníssono ao longo da partida mostraram isso mesmo). Ainda assim, este é um tempo de mudança na sequência de uma eleição recorde e esse fim de era, um pouco à semelhança do que acontecera na véspera no clássico a contar para a Liga de andebol, trazia um aditivo extra para que o clássico fosse mais do que um simples encontros e se tornasse numa demonstração de força com o ADN criado por Pinto da Costa ao longo de 42 anos.

“O timing é o que menos belisca a opinião de todos os sócios que vão votar, acredito que não vão decidir alguma coisa no último ou penúltimo dia. Depois, foi meter no papel algo que já estava apalavrado com o nosso presidente. Posso ter uma relação muito forte com o presidente, além de presidente é meu amigo, mas isso não significa nada, pode não ver competência noutros amigos. Foi dessa forma que conseguimos, nos últimos sete anos, voltar a ter a hegemonia e sermos o único clube pentacampeão em Portugal. Na minha estadia aqui, temos praticamente tantos títulos como os dois rivais juntos. Olhou para o que tem sido este passado recente, o presente e o futuro. Equipa distraída? Nada do que gravita à volta dos clubes pode ter interferência mas acaba por criar algum ruído porque não se consegue bloquear a 100% o que se vai passando”, comentara Sérgio Conceição, ainda antes do escrutínio recorde na história dos dragões.

E sobre o jogo, essa coisa que parecia quase menos importante sem ser secundária? “Espero um encontro dentro daquilo que são os clássicos do futebol português. Competitivo, onde vão estar presentes duas equipas com qualidade individual e coletiva, e esperamos ter uma equipa dentro desse registo, dentro do que o Sporting tem feito. Desejo, da mesma forma que já tivemos num outro clássico um Dragão cheio, que todos os adeptos vibrem. Somos nós que temos de puxar por essa paixão, esse vibrar dos adeptos e essa interação. É focar na nossa equipa, nas nossas tarefas para fazermos um bom jogo e conseguir ganhar”, frisara.

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No Sporting, que atravessa uma estabilidade em termos institucionais como também não tinha há muitos anos, havia quase um pedido de desculpas por dar aos adeptos de Rúben Amorim após a viagem a Londres durante a semana para um encontro que acrescentou pouco ou nada ao seu futuro. Havia em termos internos uma real consciência de que a vitória no Dragão era o xeque-mate definitivo às decisões no Campeonato, existia também essa vontade extra de oferecer um triunfo no clássico do título a Manuel Fernandes, símbolo dos leões que atravessa um período delicado em termos de saúde, mas sobrava essa intenção de passar das palavras aos atos o ensaio do “Perdoa-me” feito pelo treinador leonino antes da viagem para o Porto.

“Foi um erro a minha viagem, o timing foi completamente desajustado, não me pareceu na altura… Sou tão exigente com os meus jogadores e sempre o primeiro a dizer que os problemas de cada um não se podem sobrepor à equipa. Foi uma falha minha, tenho de assumir e viver com isso. Não pareceu tão mau na altura, depois é muito claro. Dei explicações aos jogadores e ao staff. Agora é seguir em frente. Obviamente que também utilizo aqui a parte pública para pedir desculpas aos sportinguistas, principalmente, agora no plano público, aos meus jogadores pelo erro que cometi. Também falar da parte da palavra que dei aqui, que faltei a ela. É verdade. As coisas nem sempre são branco e preto. Da mesma maneira que faltei à palavra lá em casa, que disse que treinava mais um ano e depois parava para estar mais com eles. Agora é focar no jogo e seguir em frente”, referiu o técnico logo a abrir a conferência sobre o “elefante na sala”.

E sobre o jogo, essa coisa que parecia quase menos importante sem ser secundária? “A importância é sempre grande, independentemente da classificação um jogo destes tem sempre grande significado. Acho que vai ser o jogo mais difícil do Campeonato mas por todas as condicionantes acho que vai. Não estão na luta pelo título, nós estamos e queremos ganhar, temos de fazer pelo menos seis pontos. É fazê-los rapidamente, o foco é esse. Não acho que a classificação demonstre a diferença entre as equipas. Vivemos um bocadinho isto o ano passado, acho que jogámos melhor do que na primeira época em que fomos campeões mas com o desenrolar dos acontecimentos começamos a criar um fosso e depois fica difícil”, frisara.

Era complicado as duas vontades e os dois desejos imperarem em simultâneo mas aquilo que seria antes do encontro difícil de adivinhar ou até improvável de acontecer foi mesmo o retrato do clássico: o melhor FC Porto com tudo o que queria alcançar ganhava a todos os níveis ao pior Sporting com tudo o que queria alcançar a ser perdido. O FC Porto começava aquela que será uma nova era na vida do clube a mostrar o ADN vencedor que construiu a identidade dos dragões e vai ficar como maior legado de Pinto da Costa na história enquanto Rúben Amorim, que tantas vezes ganhara jogos nas opções iniciais e nas apostas vindas do banco, tinha demorado uma hora para dar estabilidade tática e emocional. Foi assim durante cinco, dez, 20, 50, 86 minutos. Depois, Gyökeres, apenas num minuto, bisou e empatou a partida. Este ‘9’ que marca uma outra era apagou a vitória de um legado e deixou Manuel Fernandes a sorrir de orgulho.

O encontro começou com as duas equipas fiéis aos seus modelos e ideias de jogo mas com uma nuance que fez toda a diferença: sem bola, o FC Porto estava melhor e mais confortável no encontro do que o Sporting. Quem está num estádio e vê os leões em posse percebe que ali está uma equipa que gosta, sabe e aproveita a bola como mais nenhuma no Campeonato mas, sem Gyökeres para ir buscar aquela profundidade que faz variar as saídas, fica mais fácil de controlar. Quando a isso junta erros na saída a partir do primeiro terço, as dificuldades aumentam e os dragões só tiveram de aproveitar. Na sequência de uma perda de Geny Catamo, Evanilson ficou com espaço no corredor central e tentou a meia distância para defesa de Israel; logo a seguir, numa má reposição com os pés de Israel que expos a má comunicação de Diomande e Gonçalo Inácio, a bola sobrou para Francisco Conceição que só teve de assistir na área Evanilson para o 1-0 (7′).

Não foi por aí que o FC Porto ganhou vantagem mas aquilo que existia de novo nos dragões estava a correr bem, do estreante Martim Fernandes no lado direito da defesa a Zé Pedro no lugar de Pepe no eixo central recuado, ao passo que as experiências do Sporting, da colocação de Gonçalo Inácio na ala esquerda à aposta em Paulinho de início perante os problemas físicos de Gyökeres, não resultavam. O jogo estava interessante, com Pedro Gonçalves a ter um remate que ficou nas malhas laterais (9′), Francisco Conceição a atirar muito ao lado numa segunda bola que nasceu em mais uma descoordenação defensiva dos leões (11′), Paulinho a ter um desvio de cabeça após canto que saiu perto da trave (16′) e Geny Catamo a aproveitar uma saída mal calculada de Otávio com bola para rematar fraco à figura de Diogo Costa (17′), mas a nota dominante era que o FC Porto era bem mais expedito, vertical e perigoso do meio-campo para a frente do que os leões.

O encontro foi depois mudando de feições, com o Sporting a assumir mais o controlo e o FC Porto a baixar um pouco mais as linhas de pressão sem com isso continuar a criar lances de perigo, como voltou a acontecer numa jogada individual fantástica de Evanilson a passar pelos centrais leoninos antes do remate forte de pé esquerdo que ficou nas malhas laterais (33′), antes de Pedro Gonçalves, em boa posição no corredor central sem adversários por perto, atirar ao lado (39′). Os adeptos verde e brancos faziam a festa com várias tochas e até algum fogo de artifício, os adeptos azuis e brancos preparavam mais um grande momento para Pinto da Costa, neste caso no minuto 42. Tiveram de esperar um pouco: Zé Pedro conseguiu deixar Pedro Gonçalves fora da pressão com uma finta, Martim Fernandes teve uma arrancada fantástica de 60 metros a deixar adversários para trás por velocidade (Daniel Bragança) e por fintas (Hjulmand) antes de assistir Pepê e o internacional brasileiro fazer o 2-0 (41′) num cenário que só não ficou pior porque Franco Israel evitou o terceiro golo de Francisco Conceição após mais um erro incompreensível da defesa contrária (44′).

Como apontava o Playmakerstats ao intervalo, o FC Porto tinha ganho todos os 12 jogos frente ao Sporting em que chegara ao intervalo com dois ou mais golos de vantagem. Mais do que esse plano histórico, o FC Porto estava melhor a todos os níveis sobretudo naquele onde poderia ter desvantagem perante todos os atos de turbulência das últimas semanas que deixaram a equipa sem hipóteses de lutar pelo título: o anímico. Ao intervalo, Rúben Amorim tentou mexer na equipa com a entrada de Gyökeres por um Daniel Bragança que foi quase invisível, puxando assim Pedro Gonçalves para o meio-campo, e foi forçado ainda no arranque a trocar St. Juste por Eduardo Quaresma depois de um lance em que o neerlandês podia ter sido expulso por acumulação de amarelos, mas nem por isso o Sporting se tornou melhor e até foi Francisco Conceição, em mais uma transição rápida, que criou perigo numa saída antes do remate para defesa de Israel (50′).

Só mesmo com uma hora de jogo Rúben Amorim conseguiu equilibrar a equipa. Demorou mas foi. Com as saídas de Diomande e Paulinho para as entradas de Nuno Santos e Morita, o Sporting recuperou aquele que é em condições normais o seu melhor meio-campo, ganhou outra largura pela esquerda do ataque apesar do risco de apostar em dois alas mais ofensivos e trouxe mais as movimentações de Gyökeres ao jogo, falhando o golo que poderia mudar as feições do encontro numa série de cantos consecutivos à direita e à esquerda que não chegaram a dar rematar à baliza e até foi Zé Pedro, num livre quase em corredor central, a criar sensação de perigo pelo remate que bateu na barreira mas saiu ao lado (69′). Logo na jogada seguinte, e depois de uma recuperação em zona alta, Pedro Gonçalves rematou de fora para defesa de Diogo Costa (70′).

Apesar das melhorias no jogo, o “gelo” que o FC Porto colocava no jogo apagava o pouco fogo sem fumo que vinha do lado do Sporting, que mesmo jogando de forma mais parecida ao que é habitual continuava a ter algumas unidades em subrendimento como Pedro Gonçalves (que saiu aos 85′ para a entrada de Edwards) ou Francisco Trincão. Ainda assim, sem ninguém saber, estava tudo por decidir: apenas em dois minutos, Viktor Gyökeres começou por reduzir de cabeça na sequência de um cruzamento de Nuno Santos (87′) e bisou logo de seguida numa distração completa da defesa portista perante o desvio na pequena área do sueco (88′). Foi um final eletrizante de clássico, com Marcus Edwards a ser expulso ainda com um vermelho direto num lance em que encostou a cabeça tal como Galeno mas teve azar na lotaria dos cartões (90′).





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