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Marilyn contra DiCaprio e uma sustentabilidade que levanta dúvidas. Os diamantes sintéticos (que vão chegar à Covilhã) são o futuro? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 5, 2024


As criações conquistam seguidores na formalidade de uma passadeira vermelha mas também em momento mais íntimos (posteriormente tornados públicos como um pedido de casamento). Em 2020, Sinisa Mackovic tornou-se noivo de Chloe Sevigny com um anel único e contemporâneo com um único diamante cultivado em laboratório com corte esmeralda. Também Rooney Mara se juntou a esta lista quando Joaquin Phoenix a presenteou com um diamante em forma de hexágono incrustado numa peça Art Deco de platina vintage.

Este elenco não ficaria completo sem a estrela de “Shine Bright Like a Diamond”. Com a devida dose de bling, Rihanna deslumbrou com o conjunto cujas pedras saíram de um laboratório, usado na sua festa de 30 anos.

As semelhanças com os diamantes naturais ajudam a aliciar os mais céticos e o preço ‘mais amigo’ da carteira faz o resto. A Pandora começou a apostar nos sintéticos em 2021 e as joias convenceram a cantora Selena Gomez e a atriz Jennifer Lawrance. “Se não tivessem bom aspeto não as usariam — a não ser que eu lhes pagasse uma pipa de massa, o que não fiz”, garantiu o CEO da empresa dinamarquesa, Alexander Lacik, em entrevista à Fortune.

Para o líder da Pandora, o “design é o mais importante da decisão de comprar um produto”, seguido pelo preço. Os especialistas ouvidos pelo Observador defendem que a “maior vantagem” dos diamantes sintéticos é, precisamente, o valor mais baixo pelo qual podem ser adquiridos. A empresa Diamond Pro estima que um diamante sintético com um quilate possa custar, dependendo da qualidade, cerca de 1.200 dólares, enquanto um natural com características parecidas custará mais do triplo, cerca de 4.200 dólares.

Mas nem sempre foi assim. Mike Fried, CEO da Diamond Pro, afirma que “tão recentemente quanto 2017, os diamantes sintéticos eram cerca de 23% mais caros do que os naturais”, porém “à medida que a tecnologia avançou, o preço caiu a pique”. Embora o custo mais reduzido seja uma “vantagem óbvia”, também pode ser uma desvantagem, considera o especialista, porque as joias “deixam de ser especiais”. A opinião é seguida pelo analista Edahn Golan, que considera que as pedras fabricadas “não têm o valor de ser um cristal natural, criado pela mãe natureza”.


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Paul Zimnisky, um dos principais analistas do mercado, também defende que a origem das pedras sintéticas leva a que não consigam reter valor, nomeadamente numa possível revenda, uma vez que as naturais são “um recurso precioso, não renovável”. Por isso, as empresas devem deixar claro ao consumidor que está a comprar um diamante sintético e não levá-lo a pensar que está a adquirir um natural a um preço mais acessível.

Nos Estados Unidos, em 2019, o regulador da concorrência, a Federal Trade Commission (FTC), advertiu oito empresas por não deixarem claro que os produtos que promoviam não continham gemas naturais, considerando que mencionar apenas “diamantes” podia transmitir uma “falsa impressão” aos consumidores. Em Portugal, o Laboratório Gemológico Independente, que faz parte da GemsValue — Instituto Nacional Gemológico e de Metais Precisos, também alerta para o perigo de serem vendidos diamantes sintéticos sem a devida menção.

António D’Almeida Lino, proprietário da GemsValue e especialista nesta indústria, diz ao Observador que é “preocupante a venda de um diamante sintético” sem a devida descrição, por exemplo nas faturas. “O que tem acontecido ultimamente é realmente o mais perigoso, que é a venda de diamantes de tamanhos maiores, com qualidades de gradação muito boas, e as pessoas pensarem que são naturais. Temos verificado isto muitas vezes no laboratório”, alerta.

O Laboratório Gemológico Independente de Portugal


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O Laboratório Gemológico Independente de Portugal está inserido na Gems Value — Instituto Nacional Gemológico e de Metais Preciosos. Localizada em Lisboa, esta instituição privada emite certificados e relatórios de autenticidade de diamantes, rubis, safiras ou esmeraldas. Mas também analisa os diamantes sintéticos.

Além disso, faz avaliações de diamantes e tem formações, com cursos tanto presenciais como online. Em declarações ao Observador, António D’Almeida Lino afirma que existe ainda um serviço de “classificação e avaliação ao consumidor final”. “Muitos clientes que não sabem o que têm [de que tipo de joias são donos], vêm ter connosco e querem um documento ou uma informação adicional, idónea, para saber exatamente o que têm antes de vender ou fazer partilhas”, explica.

“Compras emocionais” e “sustentabilidade”. São duas das razões mais repetidas nos vídeos publicados no TikTok por millennials e pela geração Z para a compra de diamantes sintéticos. Segundo os argumentos, não têm o impacto ambiental negativo associado aos naturais e também não têm ligações a conflitos armados ou à violação dos direitos humanos, incluindo à utilização de mão de obra escrava para a extração. António D’Almeida Lino nota que são pedras que “não estão ligadas aos diamantes de sangue” ou a “negócios obscuros”.

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A proclamada sustentabilidade aparenta convencer os mais jovens, mas também caras bem conhecidas do público, como Leonardo DiCaprio. Após protagonizar o filme Diamantes de Sangue, que retrata o tráfico de gemas nas zonas de guerra em África, o ator começou a defender a utilização de diamantes sintéticos e investiu, em 2015, na fabricante norte-americana Diamond Froundry.

Os diamantes sintéticos têm pegadas de carbono inferiores às dos naturais, mas o facto de utilizarem elevados níveis de energia no processo de produção tem levantado interrogações. Há cinco anos, o regulador norte-americano, a FTC, fez alertas sobre as alegações de algumas empresas de se apresentarem como “amigas do ambiente” sem provas para sustentar essas alegações. A firma na qual DiCaprio investiu foi uma das visadas, mas, segundo a BBC, argumentou que é certificada como neutra em carbono por uma entidade terceira — a Natural Capital Partners — e que utiliza apenas energias renováveis.

As dúvidas têm surgido ao longo dos anos e as empresas têm tido pouca abertura para as esclarecer. Muitas das fabricantes de diamantes sintéticos estão sediadas na China, onde cerca de 75% da eletricidade provém da queima de carvão. De acordo com a revista Fortune, muitas firmas apresentam-se como “amigas do ambiente”, mas não publicam relatórios de impacto ambiental, nem respondem a perguntas sobre a proclamada sustentabilidade.

A falta de esclarecimentos não passa despercebida aos defensores dos diamantes naturais. No ano passado, um grupo a favor da extração de diamantes, o Natural Diamond Council, criou uma campanha contra os “mitos” e defendeu os esforços da indústria mineira para impulsionar as economias de países com minas como o Botsuana e a Namíbia. “Os consumidores estão a ser informados de que os diamantes sintéticos são sustentáveis e isso não podia estar mais longe da verdade“, defendeu o CEO, David Kellie, de acordo com o The Wall Street Journal.





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