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O dia do apocalipse que foi a imagem de uma época inteira (a crónica do Famalicão-Benfica) – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 5, 2024

Era o primeiro dia potencialmente decisivo. Com a vitória do Sporting contra o Portimonense, em Alvalade, o Benfica aparecia em Famalicão com a certeza de que só um triunfo evitava a festa leonina já este domingo. Qualquer outro resultado, uma derrota ou um empate, carimbava desde já a conquista do Campeonato por parte dos leões — e deixava os encarnados sem qualquer troféu na atual temporada para lá da Supertaça.

Ainda assim, e antes de o Sporting depender apenas de si mesmo para ser campeão no próximo fim de semana, o Benfica tinha a possibilidade de manter as dúvidas e adiar a desilusão mais uns dias. O jogo surgia depois de uma semana em que a hipótese de uma saída de Roger Schmidt no final da temporada se tornou uma realidade, com o interesse do Bayern Munique a materializar-se após a recusa de Ralf Rangnick à proposta dos alemães, e a ideia de que o treinador pode não ficar na Luz para lá do verão ganhou corpo. Ainda que o mesmo treinador tenha rejeitado o cenário.

Ficha de jogo


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Famalicão-Benfica, 2-0

32.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal 22 de junho, em Famalicão

Árbitro: João Gonçalves (AF Porto)

Famalicão: Luiz Júnior, Martín Aguirregabiria (Nathan, 74′), Enea Mihaj, Justin de Haas (Riccieli, 45′), Francisco Moura, Zaydou, Topić, Chiquinho (Sorriso, 62′), Gustavo Sá (Gustavo Assunção, 79′), Puma Rodríguez, Jhonder Cádiz

Suplentes não utilizados: Zlobin, Óscar Aranda, Otso Liimatta, Filipe Soares, Florian Danho

Treinador: Armando Evangelista

Benfica: Trubin, Fredrik Aursnes, António Silva, Otamendi, Álvaro Carreras, João Neves, João Mário (Tiago Gouveia, 76′), Di María, David Neres (Florentino, 45′), Kökçü (Rafa, 45′), Marcos Leonardo (Arthur Cabral, 45′)

Suplentes não utilizados: Samuel Soares, Morato, Tengstedt, Rollheiser, Diogo Spencer

Treinador: Roger Schmidt

Golos: Puma Rodríguez (71′), Zaydou (85′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Jhonder Cádiz (63′), a Puma Rodríguez (87′), a Tiago Gouveia (87′)

“Podem usar as minhas declarações da última conferência de imprensa, de há duas semanas, de há um mês, do que disse quando assinei o novo contrato. Para mim, continua tudo muito claro: vou permanecer no Benfica até 2026, é o que quero e foi por isso que assinei um novo contrato. Temos feito uma boa época, talvez não tenhamos sido suficientemente bons para ser campeões, mas se virem a situação do Benfica há dois anos e a de agora percebem que é completamente diferente. Estou completamente focado no meu clube, estou muito feliz por estar aqui e vejo muito potencial para continuar a desenvolver a equipa e procurar mais títulos nos próximos dois anos. Foi o que disse há uma semana, há duas semanas e durante quase todo o ano… Nada mudou”, explicou Schmidt, sublinhando que “não está no mercado”.

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Ora, este domingo e no Estádio Municipal 22 de junho, o treinador encarnado recompensava os dois golos de Marcos Leonardo saído do banco na última jornada, contra o Sp. Braga, e dava a titularidade ao brasileiro em detrimento de Arthur Cabral. Kökçü também começava de início, no lugar de Rafa, e João Neves voltava ao onze para fazer dupla com João Mário no meio-campo, sendo que Florentino era suplente. Com Bah lesionado, Aursnes passava para a direita e Álvaro Carreras surgia na esquerda da defesa. Do outro lado, num Famalicão tranquilo na classificação, Armando Evangelista deixava Riccieli no banco e tinha Puma, Chiquinho e Gustavo Sá no apoio a Cádiz.

O jogo começou praticamente com dois golos anulados, um em cada baliza: Di María bateu Luiz Júnior mas estava fora de jogo (4′), Cádiz bateu Trubin mas também estava fora de jogo (5′). A intensidade dos instantes iniciais depressa deu lugar a alguma apatia das duas equipas, com a partida muito discutida na zona do meio-campo e sem aproximações às balizas, ainda que o Benfica mantivesse um natural ligeiro ascendente.

Marcos Leonardo teve a primeira oportunidade já depois do quarto de hora inicial, cabeceando sem tirar os pés do chão para uma boa defesa de Luiz Júnior (18′), e o Famalicão respondeu com um pontapé forte de Zaydou de fora de área que Trubin defendeu (20′). O Benfica tinha mais bola e chegava com maior facilidade ao último terço contrário, mas a equipa de Armando Evangelista sabia como ferir o adversário: avançava em velocidade pelas alas, com Puma a causar muitos problemas a Carreras e Chiquinho a trocar as voltas a Aursnes, e os encarnados demonstravam muitas dificuldades na hora de travar os ataques famalicenses.

O Famalicão esteve muito perto de inaugurar o marcador antes da meia-hora, com Cádiz a rematar por cima depois de um desvio de Gustavo Sá ao segundo poste (25′), e Puma confirmou as intenções da equipa da casa com um pontapé em jeito que acertou em cheio no ferro da baliza de Trubin (27′). Na resposta, Kökçü atirou à malha lateral (28′) — mas ficava a ideia de que o Benfica nunca conseguia causar tanto perigo como o adversário, mesmo passando mais tempo no meio-campo contrário.

Ao intervalo, mesmo com vários remates inconsequentes de Di María, Famalicão e Benfica ainda estavam empatados sem golos — num resultado que, face à ausência de vantagem dos encarnados, deixava o Sporting com a possibilidade de ser campeão nacional já este domingo. Mais do que isso, ao longo de uma primeira parte agitada e com várias oportunidades, ficava a ideia de que Florentino fazia muita falta à movimentação defensiva da equipa de Roger Schmidt, deixando essa tarefa para um João Neves que fazia falta na movimentação ofensiva.

Roger Schmidt fez três substituições logo ao intervalo, trocando Kökçü, Neres e Marcos Leonardo por Rafa, Florentino e Arthur Cabral, motivando a entrada de João Mário para o setor mais adiantado da equipa. Do outro lado, Armando Evangelista era forçado a tirar Justin de Haas, que sofreu uma queda aparatosa no fim da primeira parte, e lançava o habitualmente titular Riccieli. O Benfica regressou melhor do que o Famalicão, com a equipa da casa a apresentar-se mais recuada do que aquilo que tinha acontecido até ao intervalo, e conseguia finalmente criar oportunidades consecutivas.

Rafa protagonizou a primeira situação de perigo da segunda parte, ao aparecer na cara de Luiz Júnior a desviar para uma defesa atenta do guarda-redes (53′), João Neves ficou perto de marcar com um remate forte de fora de área que o guardião também parou (55′) e Di María acertou no poste com um pontapé cruzado (58′), adivinhando-se o golo inaugural da partida.

Evangelista reagiu com uma substituição, trocando Chiquinho por Sorriso, e o Famalicão conseguiu melhorar e esticar o jogo, com Gustavo Sá a ficar até perto de marcar com um remate ao lado (70′). A cerca de 20 minutos do fim, o golo apareceu mesmo: Puma combinou com Gustavo Sá na direita, recebeu mais à frente, encarou Otamendi e atirou de pé esquerdo para bater Trubin, que nem sequer se mexeu (71′).

Roger Schmidt respondeu com mais uma substituição, trocando João Mário por Tiago Gouveia, e Armando Evangelista lançou Gustavo Assunção no lugar de um esgotado Gustavo Sá. Por essa altura, porém, o Benfica parecia já totalmente desligado — e o Famalicão aproveitou para aumentar a vantagem e fazer xeque-mate, com Zaydou a surgir isolado na cara de Trubin e a atirar para soltar os festejos em Alvalade.

No fim, o Benfica perdeu em Famalicão e fez com que o Sporting se sagrasse campeão nacional já este domingo e no sofá, com ainda duas jornadas por disputar no Campeonato. Os encarnados não souberam desbloquear um jogo difícil, Roger Schmidt mostrou-se totalmente apático quando tudo começou a correr mal e um clube inteiro ficou parado à espera de uma reação. No dia do apocalipse, o Benfica limitou-se a apresentar a imagem de uma época inteira.





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