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mais sete parágrafos no último capítulo de crise no Benfica – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 6, 2024

Não foi apenas uma derrota. Nem sequer a derrota, tendo em conta que os dois golos sofridos acabaram por corresponder às voltas que todos os jogadores do Sporting deram nas rolhas das garrafas de champanhe para festejarem o título. Olhando para aquilo que se passou na deslocação do Benfica a Famalicão, foi não só um espelho de toda a temporada mas também o momento que o clube atravessa nesta fase a nível de futebol. A chegada, à mesma hora a que um autêntico mar verde e branco enchia o Marquês de Pombal e todas as ruas adjacentes, teve um ambiente tenso na Luz, entre alguns insultos de cerca de três dezenas de adeptos que esperaram pelo autocarro entre um cordão policial reforçado. Nada mais aconteceu. Mas ficam mais sete parágrafos de um momento que pode não ser propriamente uma “crise” mas faz o Benfica refletir.

Logo à cabeça, entre uma derrota que foi escrita em grande parte pela falta de eficácia ofensiva até ao 1-0 do Famalicão, as opções de Roger Schmidt. Desta vez, ainda com Bah de fora por lesão, Florentino Luís, que foi ajudando à melhoria da equipa quando entrou na equipa, ficou no banco tal como Rafa, melhor jogador dos encarnados em termos de rendimento ofensivo. Já Marcos Leonardo, que virou o encontro com o Sp. Braga, mereceu a titularidade em vez de Arthur Cabral, sendo que nos últimos quatro jogos oficiais dos encarnados Schmidt apostou nos três avançados centro que tem à disposição no onze inicial. Olhando para aquilo que foi a estabilidade nessa posição ao longo da última temporada, a sensação que fica é que o Benfica vai terminar a época sem perceber ao certo quem é a unidade mais adiantada (que chegou até ser… Rafa).

Depois, a questão das mexidas. Até determinado momento da temporada, o treinador alemão era “acusado” de demorar a fazer substituições, com uma larga maioria apenas a partir dos 70/75 minutos quando a equipa pedia algo mais antes; agora, quando a equipa foi para o balneário, Schmidt ficou a falar com os adjuntos e decidiu fazer logo substituições no descanso. Primeiros sacrificados? Marcos Leonardo, que não fez um mau jogo a nível de movimentações e bolas de finalização, e Kökçü, que voltou em Famalicão à “casa tática” que mais gosta de ocupar. Sobretudo em relação ao avançado, a ideia que fica é quase como se existisse uma margem muita curta para marcar ou caso contrário dá logo lugar a outro – e sem efeito.

Em paralelo, houve também a questão de Rafa. Numa primeira instância, a forma como não fez aquecimento acelerado como Florentino Luís e Arthur Cabral e teve depois de entrar quase a frio e à pressa deu muito que falar, sabendo-se entretanto que David Neres foi para o balneário com um problema que, mais a frio, fez com que dissesse que não estava em condição para regressar (devendo até falhar os dois últimos jogos da época). Era algo complicado de adivinhar e antever, sendo certo que, havendo a mínima dúvida em relação à condição de um jogador, o normal é que o potencial substituto vá fazendo exercícios de ativação.

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A par do encontro, e além da contestação que se fez sentir no final com os adeptos encarnados que estiveram em Famalicão como se o Benfica estivesse ainda a lutar verdadeiramente pelo título (não foi por falta de apoio que o resultado não saiu), a questão das tochas ganhou uma outra dimensão tendo em conta que foram desta vez arremessadas de fora do estádio quando a equipa perdia por 1-0 mas com tempo para dar ainda a volta e chegaram mesmo a atingir de raspão Diogo Spencer (Tengstedt, que estava ao lado, correu para o banco para que não fosse também atingido). Terão sido só dois indivíduos a terem essa ação antes de começarem a fugir do local mas começam a ser demasiadas manifestações que passam o limite do razoável.

Dentro desse contexto, Roger Schmidt voltou a sentir a contestação dos adeptos, com cânticos bem audíveis que pediam a sua demissão. Apenas um dia depois de assegurar que tinha contrato até 2026, que se sentia feliz na Luz e que não pretendia sair do clube ou negociar com outros conjuntos, o germânico adensou uma relação que vai piorando com o passar das semanas e que, após uma temporada só com uma Supertaça na “ressaca” da conquista do Campeonato, parece ter chegado a um ponto sem retorno a não ser que, ficando no comando dos encarnados, consiga um início de temporada como alcançou em 2022/23.

Depois do encontro chegaram os grandes “choques”. Otamendi foi o primeiro falar na zona de entrevistas rápidas da SportTV. “Foi uma época muito má. Faltou intensidade, não competimos na Liga dos Campeões, nem na Europa. Temos de pensar no que fizemos, devemos pedir desculpa aos adeptos, que pagaram para nos apoiar. As vezes que não estive aqui a falar não foi uma decisão minha mas sim da comunicação. Fui atacado por não estar aqui nos momentos mais difíceis e nunca me pude defender nesse sentido. Não tenho problemas em dar a cara quando as coisas correm mal. Quando correm bem prefiro que sejam outros”, referiu, em declarações que começaram por ser “cortadas” no site do clube. “O Sporting provavelmente vai fazer 90 pontos e, se quiséssemos ser campeões, tínhamos de quebrar o recorde do Benfica. Tínhamos de fazer uma época fantástica. Foi uma boa época mas não fantástica”, disse Schmidt.

No dia seguinte, as primeiras críticas abertas que chegaram ao atual momento que a equipa de futebol está a atravessar. “Deslumbramento e incompetência caracterizam esta época 2023/24. O Benfica gastou como nunca e perdeu na maioria das modalidades de pavilhão e no futebol. Ainda alguém acredita que existe capacidade para inverter uma época e uma gestão miseráveis?”, escreveu na rede X o candidato derrotado nas últimas eleições, Francisco Benítez. Ainda assim, aquilo que pareceu ter mais impacto junto dos adeptos encarnados foi mesmo a visão radicalmente diferente com que Otamendi e Schmidt avaliaram a temporada, recordando também que em alguns momentos mais complicados da temporada, como a derrota por pesados 5-0 no Dragão frente ao FC Porto, foi João Neves que foi dar a cara pelo insucesso coletivo.



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