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os bastidores do jogador que se tornou uma imagem de marca do Sporting – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 6, 2024

Quando estava ainda no Coventry, em mais um daqueles dilemas feitos pelas equipas inglesas dos principais escalões para as redes sociais, Viktor Gyökeres era “convidado” a fazer passar um aro por um circuito de ferro com eletricidade que apitava sempre que havia algum toque. Foi andando entre um e outro toque, chegou à parte final, percebeu que aí era complicado prosseguir pelo jeito que teria de dar ao pulso na última curva. O companheiro de equipa ria-se pelo insucesso, o sueco dava um toque no jogo e mostrava uma cara de poucos amigos (ou pior). Fora do relvado para o campo, com o Sporting em vantagem por 1-0 e a dominar a partida da festa antecipada frente ao Portimonense, um cruzamento de Nuno Santos que tinha como destino final na pequena área o avançado para ter apenas de encostar para golo foi cortado por um defesa contrário e o ‘9’ começou a protestar de frustração como se ali estivesse a decisão do título. Os episódios são mais que muitos, a ideia é clara: a principal contratação dos leões na presente temporada é um “animal competitivo”.

Essa é talvez a principal descrição entre as fontes contactadas pelo Observador para perceber como se explica o impacto que teve desde que chegou a Alvalade. Em termos de adaptação ao país e ao clube, os mais antigos recordam, sempre com as devidas diferenças como jogador e até de feitio, aquilo que se passou com Ricky van Wolfswinkel, avançado neerlandês que chegou novo ao Sporting (2011, saindo em 2013): alguém com mundo, uma boa estrutura em termos pessoais, afável, bem disposto e que foi conhecendo o melhor que a cidade tinha para ganhar o enquadramento ideal com a nova realidade sendo uma espécie de “coqueluche” entre os companheiros. No entanto, Gyökeres tem um extra que nesse caso difere um pouco do jogador que está agora no Twente com 35 anos – qualquer treino, qualquer jogo, qualquer competição é para ser jogado para ganhar como se fosse o último com essa nuance de que, quando acaba, fica tudo por ali.

Houve uma imagem que ficou em Bérgamo no jogo com a Atalanta, quando o sueco e Diomande tiveram de ser separados por alguns companheiros quando começaram a discutir antes de um canto a favor do Sporting ainda por um lance anterior que valeu o empate a abrir o segundo tempo para os italianos. À semelhança do avançado, o central marfinense tem índices competitivos altos e quer a todo o custo ganhar, algo que se viu também em alguns treinos. Quando acaba, amigos como dantes; quando acontece, cada um deles quer ser o melhor. A partir daí houve muitos olhos apontados à dupla para se perceber como era a relação mas, tal como nas publicações nas redes sociais que vão comentando entre si, aquilo que se viu foram abraços e palavras de incentivo. “Eles são assim, raramente jogam no treino um contra o outro, principalmente em espaços reduzidos, para não se zangarem. Já têm um historial. Se há uma coisa que a equipa precisa é de jogadores assim, as características que provocam essas situações são boas”, assumiu Rúben Amorim.

A isso, Gyökeres alia um anormal espírito de sacrifício que vem desde os tempos do Championship, uma liga que acaba por ser um mestrado para jogadores licenciados neste tipo de características. A maneira como o treinador leonino montou a ideia de jogo da equipa em torno do sueco foi permitindo que, em algumas fases do encontro, o avançado pudesse fazer uma autogestão sem bola do seu estado físico. Contudo, a não ser nos momentos em que considerava ser mesmo o melhor, o escandinavo nunca gostou muito desse modo, seja nos treinos ou no decorrer dos jogos. Um exemplo que dão ao Observador foi o lance em que se torceu todo para marcar o 2-1 decisivo do Sporting frente ao Sturm Graz, na Áustria. Em prol da equipa, teve uma lesão no joelho esquerdo. No encontro seguinte, com o Rio Ave (2-0), pediu por mais do que uma vez para jogar com o argumento de que no Coventry o tinha feito pior. Ficou no banco. Uns dias depois, regressou à equipa no Algarve frente ao Farense e bisou no triunfo por 3-2 resgatado em cima do minuto 90 de penálti.

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As fitas pretas de kinésio à volta dessa zona ajudaram a que fosse aguentando em algumas fases da época com maior densidade competitiva mas, como se viu no Dragão onde só entrou ao intervalo, teve de ser Rúben Amorim a travar a vontade do sueco quando as indicações apontavam para uma maior possibilidade de lesão. Em 47 encontros realizados até ao momento pelo Sporting entre Campeonato, Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga Europa, Gyökeres foi substituído apenas em seis ocasiões e quando os resultados estavam numa fase bem “encaminhada”, tendo sido suplente utilizado em mais três vezes (marcando nessas partidas três golos) e ficado no banco em duas partidas. Uma foi com o Olivais e Moscavide fora, para a Taça de Portugal. Outra foi em Tondela, para a Taça da Liga. E passou a segunda parte a aquecer com os olhos no banco para ver quando era chamado, sendo que quando percebeu que não entraria não escondeu a sua frustração…

Mais uma imagem de marca do jogador que se destacou desde início por ter a sua imagem de marca. Apesar das várias perguntas nesse sentido, Gyökeres nunca explicou o porquê daquela espécie de máscara feita com as duas mãos quando marca (e já vão mais de 40 golos para contar) mas há uma certeza que sobra olhando para aquilo que foi a temporada: esse festejo tornou-se mais do uma simples celebração de golo. Dos mais novos aos mais velhos, dos mais assíduos ou mais afastados, Alvalade conheceu uma empatia com um jogador como há muito não se via. Aliás, por mais que o novo estádio inaugurado em 2003 tenha visto vários jovens saídos da formação brilhar e outros jogadores consagrados deixarem marca como Liedson, o sueco “abafou” qualquer referência a esse nível e tornou-se um autêntico Deus entre os adeptos leoninos.

Por questões contratuais de confidencialidade, Sporting e Nike não divulgam números de vendas e receitas a nível de merchandising, nomeadamente na venda de camisolas. Contudo, sabe-se que, em menos de um mês e meio, o equipamento com a marca CR7 conseguiu render aos leões mais de dois milhões de euros tendo em conta que era equivalente a 40% do que já tinha sido faturado a meio de setembro (e que já superava todos os valores referência) e que vendera sete vezes mais do que o anterior recorde de uma camisola com pouco mais de meia época decorrida. Mais: a nova camisola branca que homenageia os 60 anos da conquista da Taça dos Vencedores das Taças, que foi lançada em abril, vendeu ainda exemplares mais só no primeiro dia do que o próprio equipamento CR7. No meio disto, claro está, as letras Y e K tiveram uma saída nunca antes vista.



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