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Livre assume desejo de integrar governo. “Estamos a quebrar um tabu” – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 12, 2024

É um quebrar de tabu à esquerda. Assim o diz, pelo menos, Rui Tavares. O porta-voz do Livre aproveitou o XIV Congresso do partido para anunciar que está disponível a fazer parte de um governo das esquerdas no próximo ciclo político, aconteça ele quando acontecer. “O Livre tem de se preparar para governar. Se houvesse eleições antecipadas daqui a um ano e se o ciclo político mudasse, o Livre teria tempo para conseguir ter a capacidade de ação executiva”, assume.

Em entrevista ao Observador, a partir do XIV Congresso do Livre, que decorre este fim de semana na Costa da Caparica, Rui Tavares não deixou de reconhecer que um eventual cenário de eleições antecipadas a curto prazo não é o melhor para o partido e que o Livre precisará necessariamente de tempo para se preparar para a nova fase de maturidade política. Todavia, diz, esse cenário pode mesmo ser “inevitável”. “Luís Montenegro não saiu de campanha eleitoral. E com isso acaba a minar a principal vantagem: as pessoas queriam agora estar num período em que não estivéssemos em campanha eleitoral”, acusa.

Ao mesmo tempo, o historiador assume que a Câmara Municipal de Lisboa será palco privilegiado desse combate e desse incentivo às convergências entre partidos. “A esquerda não pode ficar escolher nomes e protagonistas, costurar uma coligação e avançar. É preciso pensar mais como fez Jorge Sampaio nos anos 80. Não foi só avançar por uma liderança para Lisboa, foi fazer uma espécie de Estados Gerais em Lisboa”.

Os sinais à esquerda, de resto, são animadores para Rui Tavares. “As lideranças à esquerda atuais, a Mariana Mortágua, o Paulo Raimundo e o Pedro Nuno Santos e a própria liderança do Livre, têm um alinhamento, uma capacidade de construção conjunta maior do que havia antes. E ainda bem”, defende Rui Tavares.

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[Ouça aqui a entrevista na íntegra a Rui Tavares]

Rui Tavares: “Atuais lideres da esquerda estão mais alinhados”

Falou numa necessidade de mudança de ciclo político. É desejável que a legislatura acabe mais cedo?
Desejável não é. Pode vir a ser inevitável. E se o for é porque os maiores partidos, mas muito em particular Luís Montenegro, que é quem tem a obrigação de ter a iniciativa política de marcar a agenda, o terão tornado inevitável. A julgar por este primeiro mês, esse risco existe. Muitas votações no Parlamento são decididas por uma carambola de última hora, sem dar previsibilidade nenhuma. Na última sessão parlamentar, até assistimos ao caricato de Hugo Soares querer pedir basicamente uma recontagem de uma proposta de resolução que o PSD, partido de governo, tinha perdido. Não é maneira de governar um país. A grande vantagem que, apesar de tudo, tinha esta solução minoritária de governo, mas que foi a Belém dizer que tinha estabilidade, era não irmos para eleições já. Creio que as pessoas em geral estão cansadas de legislaturas que não chegam até ao fim.

Mas é por uma questão de falta de habilidade do Governo ou uma vontade do governo de não chegar ao fim?
Vamos ser justos, não são os únicos, não é? Estamos na terceira legislatura em pouco tempo. Uma não chegou ao fim porque a esquerda não se entendeu para um orçamento. Outra não chegou ao fim porque uma maioria absoluta do PS se deixou fragilizar tanto que depois um caso judicial a deitou abaixo. Esta legislatura ainda começa mais debilitada porque, de certa forma, parece que Luís Montenegro não saiu de campanha eleitoral. E com isso acaba a minar a principal vantagem: as pessoas queriam agora estar num período em que não estivéssemos em campanha eleitoral, de governação normal. E seria possível fazer isso, mesmo em minoria. Com mais diálogo, com negociação parlamentar verdadeira, que não existe de todo.

Mas há um risco de Luís Montenegro conseguir passar a mensagem de que não o estão a deixar governar e com isso beneficiar numas eleições futuras, seja daqui a seis meses ou daqui a um ano?
Talvez seja essa a tática. É uma tática que tem um bocadinho de Cavaco Silva nos anos 80 e um bocadinho de Carlos Moedas em Lisboa recentemente. Só que é à vista de toda a gente e não está a funcionar. Este governo não tem uma proposta de futuro que seja mesmo sua.

O Governo não está a conseguir alargar a sua base popular?
Não, não está a conseguir e há algumas coisas que seria possível fazer. Um exemplo de uma causa que era de nicho, mas agora é cada vez mais generalizada: o círculo nacional de compensação. O Livre, a IL e o Bloco de Esquerda defendem isto, vários partidos estão abertos a discutir, o PSD foi o mais fechado no debate que fizemos na Assembleia da República sobre o assunto. E é um debate importantíssimo, porque joga com a questão dos votos do interior e com a revolta que as pessoas têm por estarem a viver num sistema eleitoral que basicamente é diferente do do litoral.

Isso aumenta o ressentimento em relação à política?
Aumenta o ressentimento. Um governo minoritário poderia dar uma demonstração de boa vontade – não estou a dizer que seria fácil – e vir à fala com os outros partidos para tentar resolver alguns problemas da nossa democracia. Nunca poderíamos dar um acordo ao PSD sobre o Serviço Nacional de Saúde ou fiscalidade ou políticas económicas, mas sobre questões de democracia e de Justiça sim, já o dissemos – e até apanhámos alguma pancada por isso durante a campanha eleitoral. Nem isso está a acontecer. Será que é uma tática de curto prazo até às europeias e que depois as coisas mudam? Pode ser. Seria bom, mas assim reconstruir a confiança depois de umas europeias é mais difícil.

Mas os dois maiores partidos não estão a fazer das europeias uma segunda volta das legislativas?
Bem, se estão a fazer isso estão errados. Mas tem ainda mais responsabilidade um partido que é de governo. Um partido que é da oposição faz oposição, é o que é normal que faça. Um partido de governo, se quer governar com alguma estabilidade, sendo minoritário, não pode fazer, por exemplo, o que fizeram o PSD e o CDS a propósito do IRS: vir dizer-nos a nós, restantes deputados na Assembleia da República, que não percebemos nada. Que somos obtusos, que não percebemos o que é que eles propuseram. Agora diga-me, acha que isto é uma maneira de se construir confiança quando se é minoria num Parlamento? Claro que não é.



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