Autoridades francesas detiveram dois importantes diretores de cinema de arte, Benoit Jacquot e Jacques Doillon, por acusações de abuso sexual, enquanto uma nova onda de protestos #MeToo abala a indústria cinematográfica francesa.
Jacquot, 77, e Doillon, 80, chegaram a uma delegacia de polícia de Paris na manhã de segunda-feira, acompanhados de seus advogados, de acordo com a agência de notícias AFP.
A detenção dos diretores por supostos abusos, alguns dos quais datam da década de 1980 e todos negados por eles, ocorreu no momento em que ativistas dizem que o cinema francês vem dando cobertura aos abusos há muito tempo.
No início deste ano, Judith Godreche, uma atriz e diretora de 52 anos, acusou formalmente Jacquot de estupro e Doillon de agressão sexual quando ela era menor de idade, acusações que os dois homens negam.
Godreche descreveu Jacquot como tendo tido um “domínio” doentio sobre ela durante um relacionamento de “perversão” com ele, que começou quando ela tinha 14 anos, de 1986 a 1992.
Ela também acusou Doillon de “colocar os dedos” em suas “calcinhas” durante um teste de tela para um de seus filmes quando ela tinha 15 anos e ainda estava com Jacquot.
Vários outros atores também apresentaram queixas contra os dois homens.
Isild Le Besco, 41, alegou que Jacquot a estuprou entre 1998 e 2007 durante um relacionamento que começou quando ela tinha 16 anos e ele 52.
Julia Roy, uma atriz de 34 anos que apareceu em vários de seus filmes, o acusou de agressão sexual em “um contexto de violência e constrangimento moral que durou vários anos”, disse uma fonte próxima ao caso.
Le Besco também alegou que Doillon fez investidas durante sessões de trabalho, enquanto a atriz Anna Mouglalis alegou que o cineasta a beijou à força em 2011.
‘Eu estou chorando’
Fontes judiciais dizem que os dois cineastas podem ficar detidos até terça-feira à noite e potencialmente ser interrogados na presença de seus acusadores.
Os advogados dos diretores disseram que não havia necessidade de detê-los para interrogá-los e que eles deveriam ser considerados inocentes até que se prove o contrário.
A advogada de Jacquot, Julia Minkowski, disse que seu cliente “finalmente poderá se expressar perante a lei”, denunciando o que ela chamou de “excessos inaceitáveis” da cobertura da mídia sobre o assunto.
A advogada de Doillon, Marie Dose, disse que nenhum critério legal poderia justificar sua detenção para interrogatório “36 anos” após o incidente alegado por Godreche, e que ele poderia ter respondido a perguntas sem ser mantido sob custódia.
O Ministério Público confirmou a detenção dos dois homens, mas acrescentou que ambos eram considerados inocentes por enquanto.
Godreche no Instagram disse que estava profundamente comovida. “Estou chorando”, ela escreveu.
“Não sei se tenho força, mas terei. Terei… Por ela”, escreveu ela, postando uma foto sua adolescente ao lado de Jacquot, 25 anos mais velha.
Desde que quebrou o silêncio, Godreche se tornou uma voz de destaque no movimento #MeToo da França.
Depois que ela apelou por um órgão de supervisão do cinema, os legisladores franceses votaram em maio para criar uma comissão para investigar a violência sexual e de gênero na indústria cinematográfica e em outros setores culturais.
Na semana passada, o chefe da principal instituição cinematográfica da França, Dominique Boutonnat, renunciou ao cargo após ser condenado por agressão sexual ao afilhado em 2020.
Boutonnat recebeu uma sentença de prisão de três anos, dois deles suspensos. Ele, no entanto, poderá cumprir sua pena de prisão de um ano em casa usando uma pulseira eletrônica.
A lenda do cinema Gérard Depardieu, 75, também deve ser julgado em outubro por agressão sexual a duas mulheres.
Ele corre o risco de um segundo julgamento após ser acusado em 2020 de estupro de uma atriz em 2018, quando ela tinha 22 anos.