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Fact Check. Navios nas Canárias vão gerar a tempestade idêntica à que atingiu a região no final de outubro? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 25, 2024


“Cuidado, Canárias!” É assim que publicações nas redes sociais alertam para um suposto perigo. Neste post em concreto, vê-se um vídeo com navios de perfuração utilizados na indústria petrolífera e que estão atracados no porto de La Luz, localizado na ilha espanhola da Grande Canária.

Alegadamente, estes navios que a meio de novembro estariam atracados nas Canárias terão igualmente sido “vistos uns dias antes” na costa da Comunidade Valenciana, afetada pela Depressão Isolada em Níveis Altos (DANA) no final de outubro. As cheias causaram mais de 220 mortos e deixaram um rasto de destruição.

Ora, estes navios terão sido, segundo a publicação, a causa da “modificação” do clima na Comunidade Valenciana e estariam a preparar-se para criar uma intempérie parecida nas Ilhas Canárias, poucos dias mais tarde.

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Esta teoria da conspiração estará relacionada com o programa HAARP (Programa de Investigação de Alta Frequência Auroral Ativa). Desenvolvido pelo Universidade do Alasca, o sistema com um conjunto de antenas permite estudar a ionosfera, uma das camadas da atmosfera terrestre, que está a uma altitude de cerca de sessenta a mil km acima da superfície da Terra.

Já durante as cheias do Rio Grande do Sul, no Brasil, em maio de 2024, surgiram várias publicações nas redes sociais que relacionavam aquele fenómeno natural com as antenas do sistema norte-americano HAARP, que teria a capacidade de alterar as condições meteorológicas, consoante a vontade dos cientistas que controlam o programa de investigação.

Na Comunidade Valenciana, segundo as publicações nas redes sociais, teria acontecido a mesma coisa: o sistema HAARP teria causado o mau tempo naquela região. Agora, este programa, localizado em antenas nos navios de perfuração, estaria a preparar-se, segundo o post, para originar uma tempestade idêntica nas Ilhas Canárias. Porém, não existe qualquer notícia ou relato de que haja um navio de perfuração com uma antena HAARP que estivesse atracado no porto da Grande Canária — e muito menos que tivesse passado anteriormente ao largo da Comunidade Valenciana.

Além do mais, vários cientistas têm negado a validade científica da teoria de que o HAARP causaria uma alteração das condições climatéricas. No site da Universidade do Alasca, lê-se que as “ondas de rádio nas gamas de frequência que o HAARP transmite não são absorvidas nem na troposfera nem na estratosfera — as duas camadas da atmosfera em que geram as condições atmosféricas na Terra”: “Como não há interação, não forma de controlar o clima”. 

À BBC, Thiago Rangel, professor de Física Atmosférica na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, explica que não existe qualquer “hipótese” de que um “evento climático” seja “desencadeado” na ionosfera, uma camada atmosférica “elevada”. “As nuvens e correntes de ar são formadas na troposfera, ou no máximo na estratosfera, que são as camadas mais baixas”, explica, sentenciando: “As antenas Haarp não têm qualquer influência nos fenómenos meteorológicos, seja em micro ou macro escala”.

Conclusão

Não é verdade que os navios de perfuração localizados no porto de La Luz, na Grande Canária, vão causar uma “modificação” do clima e gerar cheias no arquipélago das Canárias como aconteceu na Comunidade Valenciana. Não há qualquer prova de que esses navios tenham antenas HAARP. Essa teoria da conspiração já foi desmontada por vários cientistas, sendo que a Universidade do Alasca já veio desmentir essa informação. O sistema estuda a ionosfera — e não a troposfera ou a estratosfera, as camadas da atmosfera em que se desencadeiam os fenómenos meteorológicos.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.


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