Após o 25 de Novembro, o VI Governo Provisório prosseguiu com a governação, enquanto a Assembleia Constituinte prosseguia os trabalhos para concluir a nova Constituição democrática, contra a vontade de algumas forças partidárias, e em especial do Partido Comunista, que através do seu secretário-geral tinha afirmado a um jornal estrangeiro que em Portugal nunca existiria uma democracia burguesa.
O período mais conturbado só terminou após os acontecimentos do 25 de Novembro, quando os movimentos das esquerdas mais extremistas foram derrotados pelos militares, que, em torno do Grupo dos Nove e numa aliança implícita com algumas forças civis, nomeadamente o Partido Socialista, se opuseram a um processo cujo objetivo seria criar no país um novo regime ditatorial, agora dominado por forças que defendiam a implantação em Portugal de um regime comunista do tipo soviético ou pelo menos semelhante aos existentes no Bloco de Leste.
Foi a partir desta data simbólica do 25 de Novembro que se readquiriu alguma serenidade nas instituições por onde passei e que referi na Introdução, ou seja, a Academia Militar, o Instituto Superior Técnico e o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. O 25 de Novembro, que alguns teimam em não considerar com a devida importância, foi seguramente um dos momentos mais decisivos para a criação de um regime democrático do tipo ocidental, como era o desejo da esmagadora maioria do povo português.
Hoje, e um pouco à distância, pode dizer -se que se trata de uma data histórica, em que foram derrotados pelas forças moderadas não só os extremistas das esquerdas, como também as forças e os movimentos de direita mais radical, que quiseram utilizar a situação para fazer recuar o movimento democratizante, que felizmente nos conduziu para a democracia liberal que veio a ser consagrada na Constituição, onde cabem todos e partidos da direita à esquerda do espectro político.
Como atrás referido, foi a partir do 11 de Março que o país entrou num processo caracterizado por uma aceleração do basismo, da democracia direta, da autogestão e sobretudo eivado de um carácter revolucionário de esquerda, em que tudo parecia ser posto em causa, sem coerência e sem qualquer racionalização a não ser a obediência ao radicalismo das ideologias dos diferentes movimentos de cariz comunista ou mesmo de extrema-esquerda.
Na área da educação, este processo revolucionário teve as maiores consequências tanto no ensino superior como nas escolas dos ensinos básico e secundário. A indisciplina instalou -se em praticamente todas as escolas e a falta de autoridade era evidente; ninguém respeitava as hierarquias existentes, e os revolucionários tomaram conta dos órgãos de gestão, introduzindo um sem-número de práticas improvisadas e sem qualquer racionalidade, denominadas como “gestão democrática”.
No ensino superior atingiu -se o clímax em termos de irracionalidade e de falta de lideranças equilibradas. Nas universidades, o clima era de uma total confusão, tendo as faculdades e os institutos respetivos caído nas mãos de grupos mais ou menos organizados, que geriam as instituições ou em sistemas de cogestão com docentes, estudantes e funcionários nos órgãos de gestão, ou com comissões de gestão com composições diversas sem qualquer legitimidade a não ser a de pertença a um qualquer movimento ou partido político, cada um mais esquerdista que o da faculdade ou instituto ao lado.
Foi, portanto, neste quadro sombrio e perigoso que, no Instituto Superior Técnico, um grupo de docentes e investigadores, não conformados com a situação em que estávamos envolvidos, decidiu aderir ou, pelo menos, juntar-se ao movimento criado pelo Partido Socialista, entre eles eu próprio, com o objetivo de combater a “deriva esquerdizante” que se instalou no IST e que parecia querer dominar a vida política em Portugal.