Francisco Ramos, o primeiro coordenador do programa de vacinação contra a Covid-19 em Portugal, considera que o almirante Henrique Gouveia e Melo “não tem estatuto nem cadastro” para se candidatar à Presidência da República. Assume que também não “morre de amores” por Mário Centeno, seu ex-colega de Governo e outro nome avançado às Presidenciais de 2026, que “é um fazedor”, mas ao qual não reconhece “mérito enquanto aglutinador”, característica que entende ser indispensável ao perfil do próximo ocupante do Palácio de Belém.
Em declarações ao Observador, no programa Direto ao Assunto da Rádio Observador, o antigo secretário de Estado Adjunto e da Saúde do governo de António Costa recordou o “prazer de trabalhar” com Gouveia e Melo durante dois meses. “Fizemos todo o trabalho do plano de vacinação e depois, felizmente, todo o plano correu como previsto sob a liderança do almirante”, afirma, lembrando o seu “rigor e disciplina”.
Ex-colega de governo. “Não morro de amores por Centeno”
Apesar dos elogios que tece, Francisco Ramos entende que não existe relação entre o “bom trabalho” que o militar fez enquanto liderou a task force para a vacinação contra a Covid-19 e este ser um bom candidato à Presidência da República.
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“Não tem nenhum estatuto especial, nem deve ter cadastro para ser Presidente da Republica”, considera, notando que Gouveia e Melo tem, enquanto cidadão, tem o direito de se candidatar como qualquer pessoa. “O almirante demonstrou um elemento aglutinador de excelentes equipas de execução de tarefas, a função de presidente da Republica é outra coisa — é agregar pessoas, vontades e políticas para que a sociedade possa prosseguir”, acrescenta.
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Nota ainda que, apesar de ser “presumivelmente um candidato mais à direita”, não são conhecidos os “entendimentos políticos” de Gouveia e Melo. “Há muito que ele nos terá dizer“, assegura, revelando que dificilmente apoiará o militar. “Situo-me mais à esquerda”, afirma.
Questionado sobre uma eventual candidatura de Mário Centeno, Francisco Ramos admite que seria um “bom candidato”. Mas ressalva: “Também não morro de amores.” Ainda assim, nota que Centeno “é um fazedor”, mesmo que não lhe reconheça “mérito enquanto aglutinador”.
Já sobre uma eventual candidatura de Fernando Araújo à presidência da Câmara Municipal do Porto, Ramos diz que “não gosta de lançar nomes”, mesmo que admita que todos os dias se sente a “falta de Fernando Araújo à frente da direção executiva do SNS”. “Uma pessoa com muito conhecimento e capacidade de realização”, garante, referindo que “foi um enorme erro a criação de condições para a saída de Fernando Araújo” da função.
Ainda sobre a recente crise no INEM, Francisco Ramos entende que Ana Paula Martins merece a “confiança para continuar a executar as funções de ministra da Saúde”. No entanto, mostra-se surpreendido pelo PSD chegar ao Governo sem um verdadeiro programa para executar em relação ao setor.
“O que se descobriu no INEM não é nada de novo”, garante o antigo Secretário de Estado, referindo-se à “escassez de recursos”. “O grave é o INEM não ser capaz de atender chamadas e isso tem que ver com incompetência da gestão de equipas”, aponta ainda.
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Durante 71 dias, em 202o, Francisco Ramos coordenou a campanha de vacinação contra a Covid-19 em Portugal. Demitiu-se depois de serem revelados casos de vacinação indevida no Hospital da Cruz Vermelha. O seu sucessor foi o, na altura, vice-almirante Henrique Gouveia e Melo.