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a Disney aguenta-se à tona no regresso aos mares do Sul – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Nov 28, 2024

Na mó de baixo do ponto de vista criativo e em queda de receitas desde o início desta década, os estúdios de animação da Disney escolheram optar pela prudência e imitar a sua subsidiária Pixar (que fez de Divertida Mente 2 o filme mais lucrativo de 2024 até agora nos EUA). E investiram em Vaiana 2, a continuação de um dos seus derradeiros sucessos populares e de crítica dos últimos anos, Vaiana, de 2016 (o outro foi Frozen — O Reino do Gelo 2, em 2019), em vez de irem procurar histórias novas ou narrativas tradicionais fora de portas, ou de urdirem um enredo original que acabasse com o tempo das vacas magras (a fita ia ser uma série animada para a Disney+, até ser “desviada” e reajustada para o cinema).

As deceções do medíocre Raya e o Último Dragão (2021), do laborioso e confuso Encanto (2021) e sobretudo as do muito woke e inenarrável Estranho Mundo (2022) e do desenxabidíssimo Wish — O Poder dos Desejos (2023), mergulharam a animação da Disney na sua maior crise desde os anos 80, deixando-a num impasse de identidade e estético, e em estagnação nas bilheteiras. E sem ter ao leme alguém como Jeffrey Katzenberg, que nessa brilhante década de 80 deu nova alma, pulmão e desígnio criativo ao estúdio, tutelando êxito atrás de êxito, de Rato Basílio, O Grande Mestre dos Detetives e A Pequena Sereia, a O Rei Leão e Pocahontas, e colecionando Óscares.

[Veja o “trailer” de “Vaiana 2”:]

John Musker e Ron Clements, dois nomes históricos do estúdio Disney que assinaram a fita original há oito anos, são substituídos, em Vaiana 2, por três estreantes, David Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller, esta também responsável pelo argumento, a meias com Jared Bush, que já tinha escrito Vaiana. Fica claro desde as primeiras imagens desta continuação, feita por computador mas com detalhes em animação tradicional, que a Disney não se poupou a meios, investiu a fundo em todos os aspetos e mobilizou toda a sua artilharia pesada artística e técnica, para que Vaiana 2 encha as medidas de espectadores e crítica, faça sorrir os acionistas e honre mais uma vez os pergaminhos do estúdio.

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Auli’i Cravalho, a jovem havaiana de ascendência portuguesa, e DwayneJohnson voltam a ser as vozes de Vaiana, a heroína, princesa e navegadora polinésia, e de Maui, o semideus gabarola (na versão portuguesa são interpretados por Luz Fonseca e Pedro Bargado). A história leva-os, agora acompanhados por um trio de personagens da aldeia de Vaiana, por Hei Hei, o seu galo de estimação zarolho, o porquinho Pua e um coco pirata dos Kakamora do primeiro filme (e que também voltam a aparecer aqui), numa aventura que se volta a inspirar em narrativas mitológicas da região. E que os vai fazer enfrentar dois deuses malignos, um dos quais, Nalo, lançou uma maldição que separou os povos das ilhas e os impede de contactarem uns com os outros pelo oceano.

[Veja uma entrevista com Auli’i Cravalho:]

Vaiana 2 carrega no punch narrativo e aciona todos os botões, visuais, emocionais, de comédia e “inspiradores” para nos cativar e arrebatar, a animação nunca é menos que sumptuosa e minuciosa e o ritmo constantemente palpitante, ao ponto de por vezes o filme roçar o cansativo e ameaçar um excesso de zelo de exibicionismo. Logo no início, quando Vaiana volta à aldeia no meio da alegria geral, o velho e rabugento Kele diz: “Mas porque é que eles têm de cantar?”. É uma pergunta que o espectador repete, porque, mais uma vez numa animação Disney, o ponto mais fraco de Vaiana 2 são as canções. Não se destaca uma que seja, não adiantam nada ao enredo e não duram dois minutos nos ouvidos. Desde que Alan Menken e Howard Ashman saíram de cena que a Disney não acerta numa melodia.

[Veja uma entrevista com Dwayne Johnson:]

Pese às sequências mais aparatosas e elaboradas, como a da canoa engolida pela amêijoa gigante, a da enérgica motivação de Vaiana por Maui (esta a mais cinematograficamente inventiva de toda a fita) ou a do combate com os monstros marinhos e os tufões enviados por Nalo para impedir o grupo de pôr pé na ilha afundada e quebrar a maldição, alguns dos mais divertidos e conseguidos apontamentos visuais de Vaiana 2 são laterais, em segundo plano ou de pequenas dimensões: os sucessivos gags envolvendo o galo Hei Hei, a tatuagem viva e hiperativa no peito de Maui (que já dava nas vistas na primeira fita) ou o destemido coco pirata e os seus dardos tranquilizantes.

[Veja uma sequência do filme:]

Vaiana 2 acaba por não desmerecer do original e é a animação mais satisfatória da Disney desde o início desta década. Mas parece que o que podemos esperar do estúdio nos próximos tempos são mais continuações. Além de um Vaiana 3 anunciado no final deste — e a meio da ficha técnica (uma moda irritante lançada pelos filmes de super-heróis) — estão planeados um Zootrópolis 2 e um Frozen — O Reino do Gelo 3 (e talvez ainda um quarto). Isto sem falar no Toy Story 5 e no The Incredibles — Os Super Heróis 3 da Pixar. A nova filosofia da casa parece ser jogar pelo seguro, acima de tudo. Walt Disney não gostaria mesmo nada.





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