O grupo informal dos BRICS reuniu-se no final de outubro na Rússia e nas redes sociais circula a informação sobre a apresentação, nesse encontro, de uma “maquete da moeda” que este bloco de países supostamente lançava. Nas publicações partilhadas nas redes sociais sobre este assunto surge uma imagem de Vladimir Putin com uma nota na mão e outras duas com o que parecem ser a frente e o verso de uma nota.
No texto que acompanha a publicação descreve-se a maquete da nota como apresentando “as bandeiras das cinco nações fundadoras (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ligadas entre si para formar um círculo. A moeda exibida é um exemplar de uma nota com o valor de 100. No outro lado da nota parece haver várias bandeiras adicionais, provavelmente de novos países interessados que possam aderir ao BRICS futuramente. Estes incluem o México, Nigéria, Egito e Bahrain”, lê-se no texto.
O grupo de 36 países realizou a sua 16ª Cimeira em Kazan, na Rússia, e ao segundo dia do encontro foi publicada uma declaração conjunta “Reforçar a cooperação para a estabilidade e a segurança a nível mundial e regional.” O documento fala dos conflitos mundiais, das sanções impostas a países como a Rússia e o Irão, que condenam, revelando-se “profundamente preocupados” pelo seu efeito “disruptivo” na economia mundial e pelo “impacto negativo no crescimento económico, na saúde e na segurança alimentar”. Mas também falam da visão deste bloco para o desenvolvimento económico mundial.
No entanto, não há nenhuma menção a uma nova moeda. O que consta na posição conjunta é a defesa do “reforço da rede bancária entre os BRICS e a permissão para transações em moedas locais, em linha com a Iniciativa para Pagamentos Transfronteiriços dos BRICS”. No documento, o grupo de países defende a “cooperação financeira” entre si e fala nos “benefícios de instrumentos para pagamentos transfronteiriços que sejam mais rápidos, com baixo custo, mais eficientes, transparentes e seguros”. Por mais do que uma vez refere a importância do uso de moedas locais, dos países dos BRICS, nas transações financeiras entre eles, o que acaba por evitar o uso do dólar americano, diminuindo essa dependência.
Não são feitas referências a uma moeda comum, mas apenas à facilitação da circulação das “moedas locais”, ou seja, a agilização de transações entres países deste bloco nas moedas nacionais. E falam no “papel-chave do Novo Banco de Desenvolvimento na promoção de infraestruturas e do desenvolvimento sustentável nos seus estados-membros”. Este banco foi criado pelos cinco Estados fundadores dos BRICS em 2014 e com o objetivo de impulsionar economias emergentes.
Declaração conjunta dos BRICS menciona a guerra na Ucrânia apenas uma vez — e apenas no 36º ponto
Quanto à imagem de Putin com uma nota na mão, ela é real e foi publicada em várias notícias sobre a cimeira dos Brics, incluindo em órgãos de comunicação social russos que descrevem o momento como uma “brincadeira” em que Putin exibe uma “nota simbólica dos BRICS”. O próprio porta voz do Kremlin, Dmitry Peskov disse aos jornalistas tratar-se de uma “impressão de quasi-dinheiro”.
A nota que surge nas mãos do presidente russo parece, de resto, semelhante àquela que há um ano foi oferecida pelo embaixador da Rússia na África do Sul ao chefe da missão diplomática dos Emirados Árabes Unidos, Mahash Saeed Alhameli, após a cimeira dos BRICS que se realizou em território sul-africano. Na altura, a TASS noticiou o momento citando o diplomata a explicar que a nota tinha sido feita na Rússia e que se tratava de uma lembrança.
Conclusão
Na 16ª cimeira dos BRICS, realizada em outubro passado em Kazan, na Rússia, não foi lançada uma moeda dos BRICS. Na declaração conjunta que saiu do encontro é referida a necessidade reforçar “a rede bancária entre os BRICS e a permissão para transações em moedas locais” dos países que integram esse bloco de países. Não há qualquer referência a uma moeda comum, embora o objetivo seja ter um sistema financeiro alternativo ao que existe, que não seja dependente do dólar. Quanto às imagens de Vladimir Putin com uma nota na mão — que a publicação em análise diz tratar-se de um exemplar da nova moeda —, são reais, no entanto, a nota que o presidente russo segura é apenas “simbólica”, de acordo com o que foi descrito pelo porta-voz do Kremlin.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
