Em entrevista à Rádio Observador, Manuel Monteiro complementava este sábado a ideia de que o “novo desafio da nova vida do CDS-PP começa agora” e que o futuro do partido “passa pela afirmação do CDS como um partido conservador“. O ex-líder diz que o partido “se perdeu dentro de si próprio” e que não se deve retirar a ideologia da política. Culpa Cavaco Silva pela ideia de que “os portugueses não têm ideologia” e que o que o que importa é fazer obra. “Quando tiramos a ideologia da política, é como uma comida sem sabor”, atira.
Manuel Monteiro chega a auto-responsabilizar-se pela perda de identidade do partido, mas nunca esconde o confronto com a visão de Assunção Cristas, que pretendia ter um partido ao centro e catch all. Não é por isso de estranhar que, minutos depois da intervenção do ex-líder do CDS, Cecília Meireles até tenha respondido com alguma irritabilidade ao tema do aborto referido por Manuel Monteiro: “A lei está bem como está. Não é um tema tabu, é um não-tema”.
O problema é que o vazio à direita foi entretanto ocupado, como o próprio Manuel Monteiro reconheceu em declarações ao Observador: “Não foi o Chega que inventou bandeiras, foi o CDS que as perdeu”.
Manuel Monteiro não concorda que os eleitores conservadores perdidos para o Chega já não voltem. Pelo contrário. “Não podemos defender as mesmas coisas e não podemos dizer que quem vota em nós está bem e que a gente que vota no Chega é burra”, avisa.
O centrista diz que o desafio do CDS deve ser, precisamente, “trazer os eleitores de volta, atraí-los”, até porque, acredita, esse é um terreno onde o partido tem provas dadas: “O CDS é o dono da casa”. E Manuel Monteiro não perde tempo, colando o Chega a uma imagem de direita fofinha, que se modera para ganhar votos.
Referindo-se indiretamente ao Chega, Manuel Monteiro atirou: “Não me assustam pessoas que são tão corajosas na defesa dos valores, mas que durante a campanha eleitoral, quando perceberam que queriam agradar a todos, meteram esses valores na gaveta e nem abriram a boca sobre eles.” E acrescentou: “Eles eram contra o aborto, eram contra a identidade de género, eram contra a eutanásia. Na campanha eleitoral, caladinhos. Caladinhos, não fossem assustar a caça. Essa é uma diferença essencial. Porque o CDS é um partido que não tem medo de perder votos”.
Nesta linha, o CDS também vai firmando diferenças nas semelhanças que tem com o Chega. Manuel Monteiro, por exemplo, ataca os subsidiodependentes, mas rejeita a ideia de associá-los a qualquer grupo (como faz André Ventura) e até lembra que o CDS chegou a ser “o partido dos ciganos” e que a “comunidade cigana” chegou a fazer “a segurança da comitiva do CDS no Alentejo” nos anos 70. Também Telmo Correia faz questão de destacar diferenças, por exemplo, na imigração: “Ao contrário de outros, não somos contra a imigração; somos pelo rigor na entrada, humanidade na integração”. De qualquer forma, Telmo Correia deixou claro o que pretende para o partido: “A nossa identidade é sermos o braço direito da AD, o braço direito de Portugal”.