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Remar contra a maré – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Ago 12, 2024

A expressão, de alguma forma, é sinónimo de impotência. Não há força humana que obtenha o favor da vitória contra os movimentos pendulares da Natureza. Podemos, em dado momento, conseguir alterar certos elementos da vida natural. Podemos, até, obter mudanças dramáticas de alguns elementos constitutivos dos ecossistemas. Todavia, no plano de tempo, tudo isso são meras gotas no oceano. O Tempo do Homem conta-se em milhares de anos. O Tempo da Natureza conta-se em milhares de milhões de anos. Pensar que se pode, por ação imediata, obter resultados de vantagem face ao tempo longo do exercício natural, é de uma grande ingenuidade. Enquanto a maré, de forma pendular, enche e vaza, levantam-se e caem impérios, inventa-se a roda e o foguetão, resolve-se problemas matemáticos e criam-se novas línguas.

E a maré continua a encher e a vazar.

Um dia, daqui a milhares de anos, se o Homem, entretanto, não se autodestruir, e mesmo se tivermos tudo consumido e destruído dos recursos naturais do planeta Terra, se estivermos em novas arcas de Noé a procurar navegar o espaço em busca de uma nova Terra, mesmo aí, a maré continuará a encher e a vazar.

Remar contra a maré pode ser coisa tola, heróica, brava, extraordinária. Mas é inútil, em termos de possibilidade de avanço sobre a sua força.

É preciso capacidade para distinguir entre o que é difícil e o que é impossível.

Há lutas entre David e Golias que David pode vencer. As probabilidades são improváveis, mas não é impossível, o pequeno, derrubar o grande. A esperança e tenacidade são qualidades a não desmerecer, são efeitos de Humanidade a cuidar.

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Como distinguir entre o que é possível e o que é impossível?

Como obter certezas sobre o que, apesar de ser uma luta quase desesperada, vale a pena, e o que, sabendo-se impossível deve ser abandonado?

Será que há tarefas impossíveis que, mesmo conscientes da impossibilidade, devemos empreender, sabendo, desde logo, que não terão vencimento?

Haverá diferença entre fracasso de derrota e fracassos vitoriosos? Pode uma derrota corresponder a uma vitória, e uma certeza de perda ser uma razão para avançar?

De facto, é diferente a impotência face a forças maiores e a desistência perante a impossibilidade.

O que importa, é saber que derrotas vale a pena empreender. Conhecer, à partida, a impossibilidade de prevalecer sobre o outro, sobre forças maiores e, contudo, enfrentar o impossível. Assim, ser derrotado pode não ser, paradoxalmente, uma perda, tal como vencer não será, necessariamente, uma vitória. Há vitórias que acontecem com cheiro a derrota e há derrotas que se erguem como formas de vitória.

Ganhar e perder são meras formas relativas, cujo sentido último está, muitas vezes, por escrever.

Ou porque o Futuro definirá o sentido do ato Presente, alterando o seu significado, enquanto Passado, ou porque a mensagem da tenaz afirmação do que não prevaleceu, se imporá em relação ao vencedor.

Remar contra a maré tem, pois, diferentes modos de consideração.Pode ser uma imbecilidade, um ato de coragem ou uma necessidade. Tudo depende das razões em presença, do sentido que move o (os) remador (es).

Não esmoreçamos, pois, face a dificuldades. As coisas difíceis podem ser feitas. Se até as coisas impossíveis podem merecer o nosso empenho, como recuar face a uma dificuldade?





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