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Os jovens como protagonistas depois da JMJ e o combate ao clericalismo. A homilia do novo patriarca de Lisboa nas entrelinhas – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 3, 2023

Iniciamos uma nova etapa do caminho pastoral e histórico da Igreja de Lisboa, enriquecidos com o incomensurável dom da esperança, da renovada força da vida nova, comunicada nos últimos tempos, seja pelo caminho sinodal diocesano, seja pelo marco indelével da Jornada Mundial da Juventude, seja pelo testemunho profético e de santidade de tantos sacerdotes, de muitos leigos, de mulheres e homens de boa vontade, ou ainda pela capacidade de efetiva cooperação com as Entidades do Estado, Civis, Militares e também pelo espírito ecuménico de diálogo com outras religiões.

A Jornada Mundial da Juventude é, de modo inegável, o tema do momento na Igreja Católica em Lisboa. O próprio Rui Valério surgiu este domingo no Mosteiro dos Jerónimos para a sua entrada solene envergando as vestes litúrgicas que o anterior patriarca, Manuel Clemente, tinha usado na missa de abertura da JMJ — um sinal dado à centralidade deste acontecimento para a Igreja Católica em Portugal. A JMJ não se esgotou na primeira semana de agosto, mas deve ser um ponto de partida que ajude a impulsionar uma nova vida para a Igreja Católica em Lisboa e no resto do país. Ao longo da sua homilia inaugural, o novo patriarca de Lisboa voltará várias vezes ao tema da JMJ, pedindo aos jovens católicos que, colhendo os frutos da Jornada, possam ser protagonistas de uma nova fase da Igreja. Nesta introdução, Rui Valério procurou sintetizar como a mudança de bispo numa diocese tem tanto de rutura como de continuidade: a Igreja em Lisboa entra numa nova fase, que é iluminada pelos acontecimentos do período anterior, protagonizado por Manuel Clemente. O novo patriarca de Lisboa dá também um enfoque especial ao diálogo ecuménico e inter-religioso: afinal de contas, é o bispo de uma das regiões mais multiculturais de um país maioritariamente católico. Em Lisboa, o bispo tem uma responsabilidade acrescida de contactar com os responsáveis das comunidades protestantes, muçulmanas, judaicas, hindus, budistas, entre outras.

Por isso, ao iniciar a missão que o Senhor me confiou, não posso deixar de expressar aqui um verbo de gratidão e de louvor — com Maria também eu digo: “A minha alma exulta no Senhor, o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” — pelo dom de integrar uma Igreja que, desde sempre, se plasmou na entrega incondicional à missão de servir o santo Povo de Deus, e fê-lo com particular vigor com os últimos Pastores que tive a graça de conhecer e de ter como Bispos: os Patriarcas Ribeiro, Policarpo e Clemente. A este último, aqui manifesto um sentido agradecimento pelas perspetivas de abertura que soube incrementar na vivência da fé face à cultura e aos plurais dinamismos da sociedade, mas também um reconhecimento porque, desde a primeira hora do seu ministério patriarcal, imprimiu no ADN do Patriarcado, não só uma palavra, mas um movimento, uma ação de sair, de ir ao encontro. À grandeza da sua espiritualidade, devemos a eleição de Lisboa a posicionar-se, uma vez mais, como marco de um novo recomeço de vida cristã. A Jornada Mundial da Juventude não representou só um encontro de jovens do mundo inteiro. Foi essencialmente o desconfinamento espiritual da humanidade. E essa circunstância representa uma acrescida responsabilidade para não deixar esfriar a sua pujança, nem mutilar o ardor do seu dinamismo. (…)

Rui Valério torna-se patriarca de Lisboa após dez anos protagonizados pelo cardeal Manuel Clemente — que, de acordo com a tradição, não esteve presente na entrada solene do novo patriarca. Ainda assim, foi para o agora patriarca emérito que Valério reservou as primeiras palavras de agradecimento. No entender do novo patriarca, durante os últimos dez anos o cardeal Manuel Clemente — um historiador e um intelectual de reconhecida qualidade — teve não só o grande mérito de fomentar o diálogo entre a Igreja Católica e a cultura contemporânea, mas também o de imprimir à diocese de Lisboa uma característica mais missionária, em busca das periferias, combatendo a ideia do patriarca de Lisboa como “príncipe da Igreja”, rodeado de uma corte faustosa e encastelado no patriarcado. Além disso, Valério referiu a JMJ, a grande realização com que Manuel Clemente terminou o seu período como patriarca de Lisboa, classificando-a como o “desconfinamento espiritual da humanidade” — e que não deve ficar esquecida no passado, mas devem colher-se os seus frutos. Rui Valério, que nasceu nas redondezas de Fátima numa família especialmente devota de Maria, e que é ele próprio um devoto de Nossa Senhora, também incluiu no início da homilia uma referência mariana.

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