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E se fosse em Porto Santo? – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 17, 2023

Lampedusa tem metade da área de Porto Santo e aproximadamente a mesma população. Ou, melhor dizendo, Lampedusa tinha a mesmo população que Porto Santo porque entre quinta e sexta feira da última semana a população de Lampedusa mais que duplicou. Para evitar a situação de ruptura na ilha, decorre agora uma operação de transbordo de imigrantes para o território continental italiano. Enquanto isso prosseguem novos desembarques de imigrantes, os habitantes da ilha manifestam-se contra o que dizem ser a intenção das autoridades de montar um campo de tendas (o centro de acolhimento com capacidade para 400 pessoas há muito que está sobrelotado) e Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana, convidou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, a ir este Domingo a Lampedusa. Macron já terá telefonado. O que também prossegue é a língua de pau para tratar deste assunto. Uma sucessão de clichés. Aqui ficam alguns.

Dizer sempre refugiados. O termo imigrantes foi desaparecendo. Tem vindo a ser substituído por migrantes e refugiados. As palavras escolhidas não são neutras pois são muito diferentes as obrigações dos países de destino para com os refugiados: um refugiado não só não se pode mandar para trás tal como (e bem) tem direito a um conjunto significativo de apoios. Ora quando se banaliza o termo refugiado acaba a generalizar-se o que é excepcional. A maior parte da imigração que chega à Europa é económica e qualquer português sabe como a busca de uma vida melhor nos pode levar a procurar outros países mas isso não fez nem faz de nós refugiados.

A forma como outros países condicionam as vagas de imigração não é assunto. Quando, em Março de 2022, vagas de refugiados ucranianos, maioritariamente mulheres e crianças, como é próprio das vagas de refugiados, deixaram aquele país, alguns questionaram se Putin estaria a contar com o efeito desestabilizador que esses milhões de pessoas teriam nos países europeus para onde estavam a fugir. Na verdade não seria a primeira vez que tal táctica era usada por Moscovo. Em 2016, a Rússia e a Síria tinham manipulado as vagas de refugiados sírios como uma forma de pressão sobre a UE, uma pressão que visava criar divisões entre os diferentes países e entre estes e a NATO. Quanto à Turquia, de há muito que explora o seu papel de controlador dos fluxos de imigração nas fronteiras da UE. Desde 2015 que a UE paga milhares de milhões de euros à Turquia para que este país mantenha em campos no seu território os refugiados e imigrantes, maioritariamente sírios, que pretendem chegar à UE. Simultaneamente a Turquia impôs para os seus nacionais a simplificação do regime de vistos para a UE. A estes grandes protagonistas no condicionamento dos fluxos migratórios para a UE, como é a Turquia, juntam-se outros de menor dimensão mas capazes de criar incidentes de grande impacto humano e mediático, como acontece com Marrocos em relação a Espanha, sobretudo nas chamadas vallas de Ceuta e Melilla. Obviamente a imigração para UE não acontece por causa de países como a Turquia ou Marrocos mas só por grande ingenuidade ou má fé se pode ignorar que este é um dos assuntos mais sensíveis dentro da UE – o Brexit aconteceu por causa de quê? – logo uma muito eficaz forma de pressão.

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