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Tróia pela primeira vez – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 17, 2023

Na criação de um romance, a maior dificuldade costuma ser criar vida a partir do nada. Usando os fragmentos da vida, há que fazer uma coisa nova, que exista apenas ali, não como mero reflexo da realidade, mas como realidade em si – e analisável como tal. Neste sentido, a priori, Pat Barker já teria, na ida para este romance, a vida facilitada: o enredo já existia (e que enredo); não se punha a questão de calibrar uma história, uma verdade; a autora não precisava convencer o leitor de que não estava a ser enganado enquanto o enganava. Em vez disso, ao partir de uma história já conhecida, já feita, o desafio a que se propôs foi outro: vê-lo de outro ângulo, criar luzes novas sobre a mesma coisa.

Com isso, As Mulheres de Tróia é mais uma busca de uma perspectiva do que a criação de fios narrativos. Não é, claro, que estes não façam parte da tarefa: ao mudar o cerne da história, a coesão teve na mesma de estar lá. E, partindo de tudo isto, Pat Barker foi envolvente e competente.

Da Ilíada, conhecem-se mais os homens em batalha, os músculos a lutar contra os músculos, a história da guerra como história masculina. Neste cenário, as mulheres assumem um papel secundário: uma mãe deste, outra escrava daquele, outra recompensa. Olhando para a história da literatura, poucos exemplos poderão chegar aos calcanhares da história de Aquiles, quanto mais rivalizar com ela. Sendo um dos dois principais poemas da Grécia Antiga, juntamente com a Odisseia, ainda hoje é dos grandes baluartes da tradição literária ocidental.

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