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Equinócios – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Set 25, 2023

1 Uns destes dias, a foto de primeira página de um diário espanhol dizia tudo sobre a importância do momento: em primeiro plano, o abraço grave de Filipe Gonzalez a Alfonso Guerra – seu vice durante anos na presidência do governo espanhol – trocado na semana passada em Madrid no lançamento de um livro de Guerra. Apesar de há mais de vinte anos estarem em más relações e rarissimamente se terem falado, Gonzalez e Guerra perceberam ambos a indispensablidade do seu gesto: trocar aquele abraço perante uma plateia repleta de socialistas, era um imperativo. Infinitamente mais que uma reconciliação, selava uma certeza absoluta e uma firmeza de aço: a vontade em publicitar a revolta e a vergonha dos dois face à disponibilidade de Pedro Sanches para liderar a caminhada explosiva da Espanha a caminho do abismo. Não há de facto palavras que cheguem para fixar em texto a demencial irresponsabilidade de um chefe político capaz de negociar – e sempre cedendo – a sua manutenção no poder a troco do desmembramento da nação a que pertence. Nem adjectivos para descrever como Sanches e uma das suas vice, Yolanda Diaz – produtora e abelha mestra de uma manta de retalhos partidária chamada SUMAR – se têm aprimorado nesta desgraça. Desmentindo-se a si mesmos face ao que recusavam antes da campanha eleitoral, abrem agora com urgência os braços e com pressa as portas do poder ao Junts de Puidgmont – detidos uns, foragidos outros, pouco recomendáveis quase todos – e à ERC. Acedendo Sanches a ouvir, negociar e depois prometer uma inconstitucional amnistia como moeda de troca pelo seu apoio na investidura de um novo governo do PSOE. Já houvera uma espécie de brinde a Puidgmont, com a recentíssima estreia absoluta do uso de mais de uma língua no Congresso espanhol – além do castelhano, entraram em cena no parlamento nacional o basco e o catalão – apanhando de abismada surpresa o país inteiro e deixando uma considerável parte dele no limbo de uma irada indignação.

Sem aviso, discussão prévia ou consulta, foi apenas mais uma perigosa satisfação dada a Puidgmont. E pedirá ainda mais o líder do Junts além da prometida amnistia e da tão falada “autodeterminação”, condenadas uma e outra pelo Supremo?

2 Gonzalez e Guerra foram fortíssimos na forma e impiedosos na substância. Estava em causa o que ali os unia politicamente, “a democracia, a constituição, o socialismo”, e o que ali os trouxera: dizê-lo em voz alta. É natural, nunca, nem um, nem outro, se afastaram da sua própria interpretação da política e do que quiseram fazer com ela quando há quase 50 anos ambos fundaram um PSOE “que hoje começam a não reconhecer”:

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