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A “médica zero”, os grupos de WhatsApp e os remorsos. Por dentro do movimento que paralisou as urgências – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Dez 31, 2023

Agosto de 2023. Serviço de Urgência Geral do Hospital de Santa Luzia, em Viana do Castelo. A médica Helena Terleira, especialista em Medicina Interna, 60 anos, cumpria mais um turno. Na fase final da carreira, já não é obrigada a fazer “bancos”, mas ainda vê doentes na urgência externa uma vez por semana. Naquele dia de verão, e depois de meses de impasse nas negociações entre sindicatos médicos e Ministério da Saúde, Helena Terleira pensou que era preciso aumentar a pressão sobre a tutela, no sentido de se atingir um acordo. A ideia surgiu quase de imediato: uma carta, que se pretendia que fosse assinada pelo maior número de médicos possível, e que fizesse um aviso ao ministro da Saúde — ou haveria acordo com os dois sindicatos ou os médicos começariam a entregar minutas, recusando-se a fazer mais horas extraordinárias. Um ultimato inédito, com consequências imprevisíveis.

Foi dessa forma que nasceu a primeira ação do movimento que viria a ganhar o nome de Médicos em Luta. A médica Alexandra Esteves, também internista, de 33 anos, concordou com o plano de Helena Terleira. E às duas veio a juntar-se, depois, Carla Meira, internista que trabalha na Unidade de Cuidados Intermédios do Hospital de Santa Luzia. Estava constituído o núcleo duro do movimento, em Viana. Mas as consequências da carta e do movimento espalhar-se-iam “como uma mancha de azeite”, nas palavras de Helena Terleira, a todo o país.

“Nessa altura, em agosto, estava em curso uma petição pública para discutir as alterações aos estatutos da Ordens — havia uma recolha de assinaturas para o chamado manifesto de insubmissão. Pensámos que, baseados nisso e utilizando o mesmo mecanismo de recolha de assinaturas, poderíamos fazer uma carta, chamando a atenção do ministro da Saúde para o nosso descontentamento e exigindo um acordo. E, claro, avisando que as minutas iam começar a ser entregues, caso isso não acontecesse na próxima reunião”, recorda a médica ao Observador. “O médico zero fui eu”, realça, numa referência ao início de um movimento que conseguiu uma adesão sem paralelo entre os médicos, até ao ponto em que, no final deste ano, cerca de 7 mil profissionais já se tinham recusado a fazer horas extra além das legalmente estabelecidas — uma pressão que não terá sido indiferente quando, já em dezembro, ministério e sindicato chegaram a acordo para uma atualização salarial de, em média, 14,5% (apenas o SIM assinou o acordo com a tutela, ainda que o ministério tenha alargado as condições a todos os médicos do SNS).

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