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Amizades necrológicas – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jan 21, 2024

Graças a uma crítica no Expresso feita pelo José Mário Silva descubro o Rubem Braga. O Brasil tem uma tradição única de cronistas de imprensa. É como se alguns géneros literários se dessem melhor nuns países em vez de noutros. Os brasileiros receberam de Deus uma capacidade de observação do quotidiano limpa e leve. Não resisto a compará-los connosco, portugueses: nós somos sempre mais cerimoniosos e desnecessariamente atraídos por complicar. Rubem Braga preencheu o Século XX brasileiro com crónicas simples, fundas e graciosas.

Uma delas, escrita em 1948, chama-se “Sobre o amor, etc.” e trata de como “a idade alonga nossas distâncias emocionais”. “Agora começamos a aprender o que há de irremissível nas separações; pois quando estivermos juntos perceberemos que já somos outros (…) O amigo que procura manter suas amizades distantes e manda longas cartas sentimentais tem sempre um ar de náufrago fazendo um apelo. (…) Então já não se trata mais de amizade, porém de necrológio.” Talvez eu não tenha uma visão tão intensa mas concordo na substância.

Uma acusação que fazia aos meus pais já a recebo dos meus filhos: “por que gastam tão pouco tempo com os vossos amigos?” Apesar de haver falta de rigor na generalização, tendo em conta que sobretudo a vida em Igreja preenche o meu tempo e o da Ana Rute com muitos queridos amigos, compreendo o déficit que sentem os nossos miúdos diante das agendas nervosamente jovens deles. Por exemplo, na última semana a nossa Maria para mostrar Lisboa a um amigo brasileiro foi da Quinta da Regaleira ao Cristo Rei, da Boca do Inferno aos pastéis de Belém, num incansável vigor hercúleo.

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