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Coração e cérebro. A unidade que trata doenças cardíacas e previne Alzheimer e demências – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 26, 2024

O cardiologista Miguel Mendes, fundador da Unidade de Reabilitação Cardíaca do Hospital de Santa Cruz e ex coordenador do Serviço de Cardiologia da estrutura hospitalar, diz que 20 a 25% dos doentes avaliados nessa unidade têm limitações cognitivas, quer se trate de situações pós enfarte de miocárdio ou insuficiência cardíaca, entre outros problemas de coração. “É fundamental que este défice seja identificado nas consultas médicas para se utilizarem estratégias para explicar aos doentes de forma mais simples, dirigida e demorada, a doença, as causas de agravamento, assim como todos os cuidados que será necessário observar para garantir melhor qualidade de vida e longevidade.”

Na maior parte dos casos, a doença cardíaca é crónica, pelo que “é preciso garantir que o doente, apesar das suas limitações, vai manter a adesão às medidas de estilo de vida saudável, à nutrição e à medicação que lhe foram recomendadas a longo prazo.”

Os doentes chegam ao hospital como pacientes cognitivos e são analisados através de exames complementares de diagnóstico, uma TAC, ressonância magnética, estudo do sono, avaliação neuropsicológica. Para não tratar demasiado tarde, para não começar a cuidar quando o problema está demasiado instalado. “Também sabemos que a grande maioria dos doentes que acaba por desenvolver doença cognitiva neurodegenerativa, como doença de Alzheimer, tem sempre sintomas afetivos na sua fase inicial, sobretudo depressão e ansiedade”, diz Rui Albuquerque. “Quando chegam à avaliação, quer em psiquiatria, quer em neurologia, já vão numa fase muito avançada da doença”.

E há outro problema: a falta de rastreios aos doentes cardíacos e às doenças cognitivas. “Não estão recomendados rastreios de doença coronária a pacientes que já têm doença cognitiva ou tiveram um AVC.” O Programa Nacional das Doenças Cérebro-Cardiovasculares, acredita o psiquiatra, está muito voltado para a recuperação pós-AVC, sobretudo a nível motor. “Temos muitos indivíduos com a dita doença cerebrovascular, cujos membros funcionam bem, mobilizam-se bem diariamente, não têm problemas na comunicação verbal, mas já têm doença cognitiva que está a evoluir – e que poderá ser uma doença de Alzheimer a desenvolver-se.”

A Unidade de Reabilitação Cardíaca do Hospital de Santa Cruz abriu em 2016, com edifício próprio e grupo técnico preparado. Três anos depois, segundo Gonçalo Cunha, “havia 25 centros deste género no país, 16 públicos e nove privados”. Nesse ano, 2182 pessoas foram reabilitadas, o que, pelos cálculos do médico, corresponde a 20% do universo de cerca de dez mil pessoas que sofrem um enfarte de miocárdio todos os anos em Portugal.



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