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O meu 25 de Abril – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 27, 2024

No dia 25 de Abril de 1974 tinha um ano e encontrava-me em Luanda. A minha mãe, cansada de viver longe do meu pai que estava na guerra (era médico em Zala), pegou em mim e fomos ter com ele a Angola. A revolução apanhou-nos nesse meio-tempo. O facto de Salgueiro Maia ter cercado o Quartel do Carmo, sem que uma bala fosse disparada nesse largo ou no Terreiro do Paço, teve repercussões nas nossas vidas que nunca poderíamos imaginar, que jamais podemos esquecer e que nunca estaremos à altura para agradecer. Como sou liberal e de direita fico triste quando ouço dizer que o 25 de Abril é socialista e de esquerda, pois aquele dia abriu-nos as portas para uma vida nova. Sem guerra e juntos. Em paz e livres.

Para muitos o 25 de Abril significou o fim da guerra. Para todos, o início da democracia. O que veio a seguir foi aberto nessa data e feito a partir desse dia. A revolução portuguesa saiu à rua no meio de uma Guerra Fria que não contrapunha apenas interesses geo-estratégicos, mas também ideologias inconciliáveis. Teria sido positiva uma relação especial e mais próxima entre Portugal e as ex-colónias? Sem dúvida. No entanto, uma descolonização feita à pressa, somada aos erros cometidos desde a Primeira República e continuados durante o Estado Novo não ajudaram, além de que a realidade internacional não o teria permitido. No 25 de Abril, Portugal quis e tinha de fazer parte do mundo surgido no pós-Segunda Guerra Mundial e isso comportou um preço que foi o combate político e ideológico travado até ao 25 de Novembro de 1975.

Como é normal nas contendas há lados e há extremos. Também surgem mal-entendidos. Um foi o 25 de Abril ser de esquerda. Não era, nunca foi mas esse estigma marcou-nos e pairou sobre nós durante demasiado tempo. A verdade é que o 25 de Abril não é de esquerda nem de direita, mas uma revolução que pôs termo à guerra colonial e abriu as portas a uma democracia representativa, como  o desejaram a maioria dos que votaram em Soares, Sá Carneiro e Freitas do Amaral. Não há qualquer ideologia nisto. Apenas a vontade expressa do povo; tão só os votos; simplesmente os factos.

O resto são fábulas alimentadas pelos que perderam. Pelos extremistas de esquerda que acusam o capitalismo de ferir a democracia quando a realidade mostra que não há no mundo democracia sem capitalismo. Pelos saudosistas de direita que apontam a perda de soberania como se a globalização moderna (a que os Portugueses deram início) não exija repensar o próprio conceito de soberania.

É este repensar, é este pensar constante o legado permanente do 25 de Abril. Sem que tenhamos de hipotecar o nosso futuro numa guerra, e com uma democracia representativa ao nosso dispor, temos todas as condições, cabe-nos o direito e o dever de darmos o nosso melhor por uma vida melhor. O meu 25 de Abril foi a junção de uma família que dava os primeiros passos, à semelhança do que sucedeu com tantos outros portugueses. O 25 de Abril de todos nós foi uma democracia representativa sustentada no Parlamento, com um Presidente eleito por sufrágio directo e universal, separação de poderes e liberdade de expressão. Não há nenhum motivo para dizermos que não temos o futuro nas nossas mãos.

P.S: Desde o início que sou crítico da actuação de Marcelo enquanto Presidente da República. Em Outubro de 2022 escrevi neste jornal que Rebelo de Sousa era “o pior dos presidentes”, devido à forma como encarava o país e os portugueses. Infelizmente tinha razão. Marcelo vai terminar o segundo mandato de gatas e o povo não sentirá mais que não seja pena. Nem sequer foi difícil de antever, porque estava escrito nas estrelas.

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