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A Cheringonça e a luta sem princípios pelo poder – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Mai 8, 2024

Em Setembro de 2023 escrevi aqui no Observador (Uma moção travestida) que o PS e o Chega tinham uma relação simbiótica, fortemente acarinhada pelos partidos intervenientes (…) que há muito intuíram que se protagonizassem uma farsa em que se fingiam inimigos, não só colheriam votos, mas enfraqueceriam os restantes partidos à direita do PS, nomeadamente o PSD e o CDS.

A relação entre o PS e o Chega evoluiu agora para uma nova fase. Se antes disfarçavam o seu namoro, quiçá por pudor de exporem a total falta de ética política que rege estes dois partidos, actualmente perderam a vergonha e exibem o seu amor enquanto passeiam pelas avenidas da política, de mão dada nas sessões parlamentares, aprovando medidas avulsas, populistas e irresponsáveis, como ficou demonstrado à vista de todos no recente episódio da abolição de portagens em algumas SCUTS.

Esta relação, que alguns apelidam de Cheringonça, serve os propósitos dos dois partidos nela envolvidos.

Por um lado, o PS mina a acção de quem governa, nem que para isso tenha de aprovar no parlamento medidas populistas e contrárias ao que defendeu nos últimos anos, num exercício de calculismo e hipocrisia levado ao extremo, não fazendo caso das linhas vermelhas que exige que outros tenham.

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Por outro lado, o Chega como partido de protesto que é, sem campo ideológico firme, melhor, com campo ideológico pantanoso, agarra-se e aprova tudo o que possa fazer mossa na coligação que os eleitores escolheram para governar Portugal. Está assim explicado que nas primeiras semanas da nova legislatura, o Chega na sua actuação parlamentar, tenha aprovado cerca de 75% das propostas não só do PS, como da extrema-esquerda e votado contra, de forma sistemática, contra as propostas da coligação PSD/CDS.

Ambos os partidos, PS e Chega, apenas estão interessados no objectivo que partilham, que é o de alcançar o poder a qualquer custo, nem que para isso seja necessário abdicar dos seus princípios no caso do PS, construindo, continuamente, princípios descartáveis, no caso do Chega, que se rege pela máxima de Marx, o Groucho não o Karl: “Estes são os meus princípios, mas se não gostarem tenho outros.”

Esta é a realidade política em Portugal aos dias de hoje.

O que deve então fazer a coligação PSD/CDS que apoia o governo no Parlamento? E o que deve fazer o próprio governo, que vê uma coligação negativa, uma Cheringonça, a boicotar constantemente a sua acção governativa?

A primeira coisa que não deve ser esquecida é que o governo tem toda a legitimidade democrática, conferida pelo voto, para governar.

A acção governativa não compete nem ao PS nem ao Chega, nem a ambos em conjunto.

E é precisamente esta legitimidade democrática que deve nortear a acção do governo, passando este rapidamente do papel à prática, as medidas do seu programa de governo.

É importante sinalizar a existência desta Cheringonça, mas é fundamental implementar, com a rapidez que se exige, as medidas que levaram que a coligação PSD/CDS fosse a mais votada de entre todas as propostas apresentadas aos eleitores.

Impõe-se, portanto, que se avance, entre outras medidas, no sentido de se aplicar o plano de emergência do SNS; que se negoceie com ponderação e sensatez com os sindicatos do sector a recuperação gradual do tempo de serviço dos professores, assim como o aumento do salário mínimo, faseadamente, até atingir os 1000€ no final da legislatura e a aplicação de medidas que permitam a evolução do salário médio para os desejados 1.750€, sem esquecer o aumento até 2028 do valor de referência do Complemento Solidário para Idosos (CSI).

Considerando ainda os problemas recentes com os imigrantes no Porto, bem como noutros pontos do país, é necessário que se implemente, conforme consta do programa da AD política de imigração regulada e que assegure que os imigrantes em Portugal tenham seus direitos fundamentais respeitados e promovidos, mas também é essencial que com celeridade se reorganize a distribuição dos agentes para as tarefas mais adequadas, garantindo policiamento de proximidade e rápido tratamento de processos de investigação, encontrando um novo modelo no domínio administrativo para libertar um maior número de agentes e retirando-lhes tarefas redundantes, conforme consta igualmente no programa da AD. Com a aplicação prática destas medidas evitar-se-á o escalamento dos discursos inflamados e populistas, quer da extrema-esquerda, quer da direita radical no que à segurança e migrações concerne.

É necessário, portanto, que a o governo e os partidos que a suportam, PSD e CDS, façam aprovar e apliquem as excelentes medidas que propuseram em sede de campanha eleitoral e de programa de governo, resolvendo os problemas concretos das pessoas. Estas não esperam mais do Estado do que precisamente isso: a resolução de problemas e a remoção de obstáculos que dificultem a vida em sociedade e impeçam a evolução pessoal de cada um dos cidadãos, dentro da sua diversidade e liberdade intrínsecas.

Por outro lado, o governo e os grupos parlamentares que o apoiam, devem comunicar, sem receios nem tibiezas, todas as tentativas da Cheringonça de boicotar essas medidas que serviriam para melhorar a vida das pessoas. Pelo que vimos até agora, dúvidas não restam, que o PS e o Chega não hesitarão em impedir a aprovação e aplicação dessas medidas que beneficiariam as populações, se entenderem que poderão tirar dividendos políticos e eleitorais dessa sua atitude.

A célebre frase de Francisco Sá Carneiro nunca teve tanta acuidade como nos tempos que vivemos: A política sem risco é uma chatice, mas sem ética é uma vergonha.

Infelizmente PS e Chega guiam-se por outros princípios em que a ética parece ser uma chatice e a falta de vergonha uma constante.



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