É a pressão continuamente aumentada do sangue dentro das artérias. Isto significa que “as nossas artérias – que conduzem o sangue do coração para o resto do corpo – estão a sofrer demasiada pressão nas suas paredes internas”, explica o cardiologista Fernando Montenegro Sá, coordenador da Unidade de Arritmologia na ULS Matosinhos.
Com uma pressão arterial elevada e não controlada, de forma crónica, as paredes das artérias vão ficando obstruídas e sofrendo lesões, impedindo o sangue de chegar aos órgãos. “Há um risco aumentado de desenvolver doença cardiovascular. As consequências mais graves são o enfarte agudo do miocárdio ou o AVC”, explica Fernando Montenegro Sá. Segundo o estudo Prevalência de hipertensão arterial em Portugal: resultados do Primeiro Inquérito nacional com Exame Físico, promovido pelo Instituto Nacional Doutor Ricardo Jorge, “a hipertensão arterial contribui para 45% do total de mortes por doenças cardíacas e até 51% das mortes por AVC”.
Podem ainda surgir outras doenças, como consequência do mau controlo da pressão arterial e do aumento de outros fatores de risco, como a diabetes, o tabagismo, o colesterol elevado, a obesidade e o risco familiar de cada pessoa. São elas:
Insuficiência cardíaca – Quando o coração tem pouca força.
Insuficiência renal – Quando os rins não conseguem filtrar adequadamente o sangue.
Doença arterial periférica – Quando o sangue é insuficiente a chegar às pernas, causando dor nas mesmas com o exercício.
Sim. Por isso é que se associa a hipertensão arterial à expressão “doença silenciosa”. O Relatório Global report on hypertension – The race against a silent killer, lançado em setembro do ano passado, revela que “cerca de quatro em cinco pessoas com hipertensão não recebem o tratamento adequado”. E alerta para o seguinte: “Se os países conseguirem expandir essa cobertura, 76 milhões de mortes poderão ser evitadas entre 2023 e 2050”.
Na maioria das vezes, as pessoas hipertensas não têm nenhum sintoma e podem não notar qualquer diferença. Esse é um dos principais riscos, pois o primeiro evento que dá sintomas é habitualmente grave (um enfarte ou um AVC, por exemplo).
Quando existem sinais, os mais relatados são:
- Dores de cabeça
- Zumbidos
- Palpitações
- Cansaço
- Falta de ar
A forma mais simples de avaliar pressão arterial é preferencialmente com um esfigmomanómetro de braço, um nome complexo, mas que é facilmente identificado como o dispositivo que avalia a pressão arterial através de uma braçadeira insuflável.
Antes de medir a tensão arterial, deve descansar – pelo menos – durante cinco minutos, deve evitar fumar ou beber café. O cardiologista, especialista em dispositivos médicos, explica que “o braço deve estar ao nível do coração, apoiado e relaxado”.
Da primeira vez que se mede a pressão arterial, “esta deve ser medida nos dois braços, e o valor mais alto deve ser o considerado.” No entanto, uma única avaliação aumentada não implica um diagnóstico. Para se chegar a essa conclusão, as avaliações devem ser repetidas ao longo de vários dias e a diferentes horas. E devem ser sempre confirmadas com o seu médico.
A medição habitualmente avalia três parâmetros: a pressão arterial máxima, a que os médicos dão o nome de sistólica; a pressão arterial mínima, a que os médicos intitulam de diastólica e a frequência cardíaca (número de batimentos cardíacos por minuto).
Em repouso, durante o dia e num contexto normal – ou seja, sem a existência de uma doença aguda no momento da medição – um valor de pressão sistólica (máxima) acima de 140 mmHg ou diastólica (mínima) acima a 80 mmHg é considerado elevado.
Entre os 13 e os 18 anos – Quando o valor é superior a 130 / 80 mmHg. Abaixo dessa idade, a avaliação é individualizada.
Para a maioria da população adulta – Quando medida durante o dia, em repouso e avaliada em contexto de consulta médica, o valor adequado deve ser inferior a 140 / 90 mmHg.
A avaliação feita em casa – A pessoa deve estar relaxada e idealmente deve repetir a medição três vezes. “Neste caso, deverá ter valores ligeiramente inferiores (igual ou menor a 135 / 85 mmHg).”
A partir dos 65 anos – Com o envelhecimento normal das artérias, o mais normal é ter uma pressão arterial sistólica entre os 130 /140 mmHg. E, a partir dos 80 anos, podem considerar-se valores mais elevados como adequados.
O primeiro passo é mudar os fatores de risco que dependem da atitude individual, como deixar de fumar, reduzir a ingestão de sal e iniciar ou reforçar a prática de exercício físico. Perder peso também ajuda a controlar a hipertensão.
Quando estas medidas não resultam ou quando a hipertensão é demasiado grave, pode ser necessário avançar para a toma de medicamentos. “Mas é essencial manter a alteração do estilo de vida, independentemente de a pressão arterial ficar controlada – ou não – com a medicação”, explica Fernando Montenegro Sá.
Além da hipertensão arterial de causa desconhecida, é sabido que a obesidade, o tabagismo, o stress e as doenças renais contribuem para o aparecimento ou agravamento da hipertensão arterial. Mas também “o consumo regular de drogas estimulantes ou analgésicas e outras doenças, como a síndrome de apneia obstrutiva do sono e as alterações da função da tiroide ou de outras glândulas corporais”, explica o médico cardiologista.
Sim. Através do consumo de uma dieta com baixo conteúdo de sal, da manutenção de atividade física e de evitar o excesso de peso. “Bastam 30 minutos de caminhada três a cinco vezes por semana para baixar o risco de desenvolver hipertensão arterial”, sugere o cardiologista.
Sabe-se que o tabaco tem uma relação direta com o aumento da pressão arterial, pelo que se recomenda que não fume. Essa atitude funciona, segundo o cardiologista, como “uma primeira medida anti-hipertensora”.
Podem também surgir crises hipertensivas que são subidas súbitas da pressão arterial e que podem causar “falta de ar aguda e intensa (edema agudo do pulmão) e dor torácica”.
Segundo o estudo PHYSA (Portuguese HYpertension and SAlt Study) realizado pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão, entre 2011 e 2012, a hipertensão arterial afeta 42,2% de portugueses adultos e estima-se que uma em cada quatro pessoas desconhece a sua doença.
Fernando Montenegro Sá destaca outros dados, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, que indicam “que apenas 10-15% do total de hipertensos estarão, de facto, bem controlados”, diz Fernando Montenegro Sá.
Nas idades mais jovens, a prevalência é mais baixa, mas tem havido um aumento nos diagnósticos aliado ao acréscimo de obesidade. “Atualmente, a prevalência de hipertensão arterial nas crianças e jovens situa-se entre os 5% e os 15%”.