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O profeta “rei do Tik Tok”, a pulseira “swiftie” e a massada de peixe. Os bastidores de Chega, IL, BE e PCP – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Jun 7, 2024

Apesar da resistência em usar uma rede social de origem chinesa que tem sido em grande medida instrumentalizada pela direita radical para somar apoiantes em várias geografias do mundo, Cotrim tinha, pelo menos, de tentar. “Seremos usados na mesma, quer estejamos no TikTok ou não. Nem vou poder dizer que avisei muito ou que tentei ilegalizá-la. No cavalo branco não vou estar e vou ser corresponsabilizado na mesma. A lógica foi esta: deixa-me ver se consigo, ao menos, favorecer o projeto liberal.”

A utilização eficaz das redes sociais não foi o único aspeto da campanha do Chega nas últimas legislativas que a candidatura de Cotrim Figueiredo decidiu estudar. A forte personalização da mensagem em torno de André Ventura é parte evidente no sucesso do Chega. Desta vez, a IL, que sempre fez gala de ser avessa ao culto da personalidade, cedeu às evidências: se quisesse ser bem sucedida nestas eleições – e precisava de ser bem sucedida –, tinha de fazer uma campanha à volta da marca “Cotrim”.

Do autocarro gigante ao merchandising distribuído (óculos, chapéus e leques), em todo o lado se lia “Com Cotrim sim”. Não havia alternativa, admite o próprio. “O partido sabe o que eu penso da personalização da política. Vieram com paninhos quentes, mas percebi que tinha de ser. Enfiei a viola no saco. Há duas coisas que aprendi na política e que foram dolorosas: as pessoas contam muito mais do que as ideias; e esta história dos políticos não profissionais, como eu, tem um risco enorme. O cemitério está cheio de políticos não profissionais por alguma razão. Portanto, essa decisão [de personalizar a campanha], apesar de odiar, não foi difícil de tomar. Porque é um decisão racional. Agora, de cada vez que chego ao autocarro com a minha cara, ainda baixo os olhos.

Ninguém ignora que estas eleições europeias são um marco importante para a Iniciativa Liberal. Joga-se muito mais do que a eleição de um ou dois deputados. O partido, que vinha em crescendo desde que se apresentou aos eleitores, sofreu um abalo nas últimas eleições legislativas e precisa de fazer uma prova de força. Para isso, mais do que vender grandes ideias sobre a Europa, importava nestas eleições vender a imagem e o capital político conquistado por Cotrim. O cabeça de lista da IL valerá eleitoralmente mais do que o próprio partido. Rui Rocha, líder de facto e figura muito presente nesta campanha, colocou-se propositadamente em segundo plano para que os holofotes se concentrassem no candidato.

A campanha foi deliberadamente pensada nesses termos. Era suposto vender Cotrim como um candidato preparado, credível e de enorme respeitabilidade e assim foi. Os debates, acreditam os responsáveis do partido, foram fundamentais para a afirmação da marca. A estrada, apesar de tudo, serviu essencialmente para consolidar e mostrar a festa particular de Cotrim. Nas ruas, de resto, era a ele que se referiam os curiosos que assistiam ao arrastão da ainda assim modesta comitiva. Foi assim sempre. “Quem é aquele? Ah, já conheço gajo. É o Cotrim. Não sou vira-casacas, mas este ainda é mais ou menos”, ouviu o Observador de um feirante em Famalicão. Em todos os pontos que visitou, o antigo líder do partido foi facilmente reconhecido. E isso, em política, é um valor em si mesmo.

A marca Cotrim extravasa as fronteiras do próprio partido e, ao mesmo tempo, a maior esperança do partido. O candidato assume o peso da responsabilidade e o preço a pagar. À mesa Quinta do Paço Hotel, enquanto toma o pequeno-almoço, confessa que esta campanha foi particularmente dura por razões pessoais que prefere que não sejam públicas. Além disso, ou também por isso, está insatisfeito com as suas próprias prestações. “Acho que não tenho feito bons discursos”, atira.

Ao longo de toda a campanha, Cotrim fez sempre intervenções relativamente curtas para os padrões da política portuguesa, raramente mais do que 15 minutos, sempre diferentes entre si, o que é igualmente raro nestas andanças, mas sempre à volta de uma grande mensagem: voltar a fazer da Europa um espaço de crescimento económico, de liberdade, paz e prosperidade. Apesar de tudo, não está satisfeito. “Já não me posso a ouvir. Dava um cavalo por um bom speechwriter. Não estou a sentir. Hoje, [quarta-feira], no Porto, tem de ser uma coisa à séria”, diz. Mais para si próprio do que para quem o está a ouvir.

Mesmo admitindo que nem tudo correu bem nesta campanha, Cotrim faz um balanço francamente positivo. Reconhece que teve de se adaptar aos adversários. Quando Sebastião Bugalho começou a apelar ao voto útil, teve fazer uma “inflexão tática” e de endurecer o tom, fazendo mais críticas ao adversário com quem, inicialmente, parecia haver um pacto de não agressão – ideia que o liberal nunca gostou que se instalasse. Na reta final, as sondagens publicadas – o partido não faz sondagens por não ter assumidamente recursos para o fazer — animaram e muito o partido. Resta saber se, desta vez, a noite eleitoral sorrirá ou não aos liberais.



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