Os professores de História alertam para “uma discrepância geral” entre o que consideram ser relevante e o que “acontece na prática na sala de aula”, revela um estudo sobre o ensino da disciplina em 16 países, incluindo Portugal.
O primeiro relatório do Observatório do Ensino de História na Europa (OHTE) foi divulgado esta quinta-feira e revela vários problemas no ensino da disciplina de História nas escolas de 16 países europeus.
“Em várias dimensões do ensino da história, parece haver uma discrepância geral entre o que os professores pensam ser relevante e o que eles descrevem como acontecendo na prática na sala de aula de História”, refere aquele órgão do Conselho Europeu no seu primeiro “Relatório Geral sobre o Estado do Ensino de História na Europa”, que analisa os diferentes métodos e práticas desenvolvidas nas escolas.
Olhando para as respostas dadas pelos professores encontram-se várias diferenças entre o que consideram ser mais eficaz e as práticas utilizadas.
Por exemplo, os professores acreditam que dar aulas expositivas numa sala de aula não é o método mais eficaz, mas esse método acaba por ser muitas vezes a primeira opção. O tempo atribuído no currículo e os longos programas curriculares são apontados como duas das razões para não optar por métodos que consideram mais eficazes, como visitas de estudo ao local onde ocorreram os acontecimentos ou a realização de projetos.
Outra das diferenças prende-se com as fontes utilizadas: Os professores apontam as fontes primárias como fundamentais para um ensino de História de qualidade, mas muitos admitem que “raramente ou nunca utilizam fontes documentais primárias nas suas aulas”.
Entre os professores portugueses inquiridos, oito em cada dez diz que utiliza sempre o manual nas aulas, sendo uma minoria os que recorrem habitualmente à literatura, museus ou tradições locais.
O OHTE sublinha a importância de conhecer como se ensina a História aos mais novos tendo em conta as “inúmeras controvérsias, tentativas de manipulação e abusos orquestrados por forças antidemocráticas ou motivados por agendas políticas”.
Na sua página, a organização lembra casos concretos de “abusos” como a recente invasão da Ucrânia pela Rússia, que “justificou a sua agressão negando a própria história e a existência da Ucrânia como nação independente”.
O relatório revela que o ensino da História está presente no ensino primário público de todos os países analisados, com exceção da Arménia. Em Portugal, acrescenta, é obrigatório até ao 3.º ciclo.
Na maioria dos países, onde se inclui Portugal, os currículos não são prerrogativa exclusiva das instituições estatais, contando com a participação de atores da sociedade civil, que vão desde organizações cívicas que trabalham no domínio da educação as associações de professores ou representantes de grupos minoritários.
Os professores também manifestaram várias preocupações relativamente aos recursos educativos, apontando “uma abundância excessiva de recursos disponíveis” e a necessidade de formação sobre “como ser seletivo na sua utilização nas aulas de História, até à adequação dos manuais escolares”.
Sobre este último aspeto, os professores alertaram para a necesidade de adequação da “multiperspetividade, a medida em que fomentam o pensamento crítico e a representação das minorias culturais, étnicas, linguísticas, nacionais, religiosas e sexuais e de género, nomeadamente ciganas e viajantes, bem como a cobertura de temas como a história do género e a história da infância nos manuais escolares”.