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Abandonar a sala – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Fev 26, 2024

Devo também a André Abrantes Amaral a leitura de Elizabeth Strout, cuja tetralogia se lê de um só fôlego. No último dos quatro livros, Lucy à beira-mar, a narrativa decorre em contexto de pandemia e remete para eventos recentes como a invasão do Capitólio, o norte-americano, no dia 6 de janeiro de 2021. Strout procura o difícil exercício dos nossos tempos, que é colocar-se na pele do outro, tentar a compreensão do outro lado. É por vezes demasiado óbvia nessa tentativa, o que elimina parte da tarefa cognitiva que deveria resultar da autonomia do leitor – ainda assim, há pelo menos uma passagem a que vale a pena regressar.

Lucy, a narradora, recorda como, pouco tempo antes da pandemia, foi convidada para ir à Universidade de Chicago falar sobre o seu livro de memórias, que relata uma infância de pobreza e de como a pobreza significa, acima de tudo, exclusão social no sentido profundo de solidão. Quando chega à universidade, encontra uma turma de jovens ensimesmados e provenientes de famílias abastadas, a quem o livro dela nada diz. Estes estudantes universitários, que indicam como livros favoritos títulos de bestsellers, nunca passaram por provações e isso impede-os de se relacionarem com a obra de Lucy Barton: é apenas uma mulher branca de meia-idade a escrever sobre pobreza.

Como muitas vezes acontece a Lucy ao longo da vida, esta experiência constitui um momento de profunda humilhação e é isso que lhe permite dizer:

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