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No dia da “ocupação pela liberdade”, jovens prometem não a deixar morrer o que outros plantaram – Observador Feijoada

ByEdgar Guerreiro

Abr 25, 2024

São crianças com poucos anos de idade, nunca estiveram perto de um tanque de guerra, nem tampouco sabem (ainda) o que significou o 25 de Abril, mas estão dentro dentro de uma das chaimites da Revolução dos Cravos, 50 anos depois do dia que marcou o fim da ditadura em Portugal. Cá fora, de telemóveis e câmaras fotográficas prontos a disparar, os pais (muitos deles sem idade para terem nascido antes de 1974) emocionam-se com o momento e gravam-no para a posteridade. “Que imagem tão bonita”, diz uma mãe de olhos marejados ao ver os três filhos de cravo ao alto.

Os três tanques parados na Rua Alexandre Herculano — que servem de museu móvel aos que por ali passam e onde apenas entram os mais novos — aguardavam a chegada de Vasco Lourenço, capitão de Abril, que se juntou a José Pedro Aguiar-Branco, o presidente da Assembleia da República que fez questão de marcar presença nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e que juntaram milhares de pessoas no coração de Lisboa. A presença serve como “um gesto simbólico de aproximação entre eleitos e eleitores” e Aguiar-Branco considera também que é preciso “abrir cada vez mais a Assembleia da República às pessoas, para que as pessoas compreendam o trabalho dos seus eleitos no Parlamento”.

Como alguém que viveu com 18 anos o 25 de Abril e ciente de que a data está cada vez mais longínqua para os mais novos, o agora presidente da Assembleia da República acredita que é preciso “sentir que a participação é uma exigência da democracia“. “A democracia é o governo do povo pelo povo, mas isto dá trabalho, é uma exigência de participação, uma construção permanente. A democracia é de uma magnífica fragilidade e por isso temos de cuidar dela todos os dias e esta é a mensagem que temos de passar: ninguém fará por nós aquilo que não estivermos disponíveis para fazer”, alertou Aguiar-Branco, ainda antes de encabeçar o desfile onde, em boa verdade, jovens não faltaram.

Fotogaleria. Do Terreiro do Paço à Assembleia da República, as celebrações do 25 de Abril

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“Somos muitos, muitos mil, para continuar Abril.” É um dos cânticos entoados durante as várias horas de desfile e resume o que se vai sentindo em cada metro da Avenida da Liberdade: são os jovens quem procura dar continuidade a uma revolução que, 50 anos depois, vai ficando cada vez mais distante dos mais novos. Um dos cartazes lembra exatamente isso, “sem memória não há futuro”, e entre os que optam por se manter no passeio ao lado da estrada enquanto o desfile passa, há quem note o que por ali se passa: “Muita malta nova, muita mesmo. E está muita gente, costuma estar muita, mas nunca assim ao molho.”

As impressões vão-se trocando entre os abraços de reencontro, beijos sem censura, cores que se multiplicam e reluzem em cartazes, uns mais improvisados do que outros, mas todos recheados de mensagens — e com alertas de que “quem adormece em democracia, pode acordar numa ditadura”. Os cravos, às centenas, seguem ao alto, nas mãos, em lapelas e até em meias. Estão por todo o lado. E há quem precise de bengalas para se deslocar, mas também é preciso deixar passar os muitos carros de bebé que já por ali andam. Há cães vestidos a rigor com t-shirts e frases alusivas ao 25 de Abril, camisolas com as letras da palavra “liberdade” bem destacadas, braços arrepiados quando há respostas a cânticos.



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